A farra dos vereadores
Mais de 700 municípios gastam mais com suas Câmaras do que geram de receita própria
Eliane Catanhêde, O Estado de S.Paulo
29 Agosto 2017 | 03h00
Que
tal dar uma olhada nas despesas legislativas no Brasil, já que estamos
discutindo rombo, excesso de gastos e desrespeito às leis do teto
salarial e de responsabilidade fiscal? Em 2016, eu, tu e nós gastamos R$
11,6 bilhões com vereadores de 3.761 dos 5.569 municípios, R$ 3 bilhões
só nas Câmaras de 21 das 27 capitais. Outros 1.807 nem prestaram contas
ao Tesouro.
Muitas Câmaras Legislativas, seus vereadores e
funcionários estão consumindo o rico dinheirinho dos contribuintes que
deveria ir para saúde, educação, limpeza e transporte público, por
exemplo. Típico “cabide de emprego”, quando vereadores votam seus
próprios salários e, não raro, nomeiam familiares, amigos e sócios para
abocanhar dinheiro público.
Com base nesses valores, o presidente
do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, apresenta projeto ao Congresso
Nacional que pode significar uma baita economia para os cofres públicos.
Hoje, o limite legal dos gastos dos municípios com as Câmaras é com
base em receita própria e transferências constitucionais da União. No
projeto, de um único parágrafo, a base passaria a ser exclusivamente a
receita própria.
O cálculo para despesas legislativas, como
salários de vereadores e de funcionários, teria de ser de acordo com a
capacidade do município de gerar receita. Os que não são capazes devem,
simplesmente, passar a eleger vereadores que banquem suas próprias
despesas, como em vários países. O cidadão é médico, professor ou
lixeiro, enfim, e dedica um dia por semana para debates e votações na
Câmara.
Estudo da Confederação das Associações Comerciais e
Empresariais do Brasil (CACB), com apoio do Sebrae e conferência do
Ministério da Fazenda, mostra que, dos 3.761 municípios que prestam
contas devidamente, 707, ou 19%, gastam mais com suas Câmaras
Legislativas do que geram de receita própria com uma série de fontes:
IPTU, IBTI, ISS, taxas, contribuições...
É chocante, porque isso
significa que as receitas dos municípios (leia-se: dos munícipes) são
consumidas numa única finalidade: a legislativa. Mas tem mais: outros
218 municípios, dos que prestam contas, gastam mais de 80% (80%!) das
receitas próprias com as Câmaras Municipais.
O custo per capita e
os gastos específicos com remuneração nas Câmaras é maior nas cidades
pequenas do que nas médias e grandes. Quanto menor o município, e quanto
menos precisa de vereadores em tempo integral, maior o gasto porcentual
com estrutura e salários deles e seus funcionários. Comparação: a média
de gastos com legislativos é de 38,7%, mas supera 59% nos municípios
com até 50 mil habitantes.
O Congresso tem aprovado medidas para
reduzir gastos do Poder Legislativo municipal e estabeleceu, inclusive,
limites para o número de vereadores, com base no número de habitantes.
Apesar disso, o número de vereadores subiu de 51.802 para 57.942 nas
três últimas eleições (6.140 a mais, ou 11,8%). A população cresceu
7,2%.
Afif Domingos, que foi deputado federal, ministro e
candidato à Presidência da República, considera que o momento é
apropriado para uma medida tão simples juridicamente, mas com efeito
muito efetivo na redução de gastos numa área que, cá pra nós, anda em
baixa na opinião pública: a área política.
Pelos cálculos, que
passaram pela Secretaria do Tesouro Nacional, economia será
significativa caso o teto de gastos com as Câmaras seja limitado às
receitas próprias dos municípios. Só nas 3.761 cidades que prestaram
contas ao Tesouro, a economia seria de R$ 7,7 bilhões ao ano. Incluídos
todos os 5.569, a projeção ultrapassaria os R$ 10 bilhões. Logo, a ideia
é boa, justa e vem na melhor hora. Resta saber se o Congresso vai bater
de frente com os vereadores às vésperas de eleições.
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