quarta-feira, 30 de janeiro de 2013



A SOCIEDADE DOS ESQUECIDOS
Jeremias Macário
Poderia falar aqui sobre “a louca” que deu na economia brasileira, com uma inflação em ascendência de 6% e um “pibinho” de menos de 1%, sem contar a queda nos investimentos e 40% a menos na geração de novas vagas de emprego em 2012.
   Do outro lado, temos o aumento do crédito e da renda do trabalhador em 6%, segundo dizem por aí. Para tapar as contas públicas do superávit primário, o governo recorreu ao Tesouro e a outras fontes. Nos programas lançados pela presidente, só se fala em bilhões e mais bilhões, que no fim se tornam em poucos milhões, ou em nada. Todos vão esquecer mesmo!
Queria falar mesmo da sociedade dos esquecidos, que não pode ter pensamento crítico e contrário à “política” hegemônica, senão será vista como alarmista e derrotista. Nessa sociedade dos esquecidos, em virtude do alto grau de impunidade, as pessoas logo se esquecem dos fatos escandalosos de corrupção, das catástrofes e das tragédias. Somos mesmo uma mentira lá fora.
Neste final de semana, o país acordou asfixiado com a fumaça do incêndio na boate “Kiss”, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde morreram quase 300 jovens. Em pouco tempo o fato cai no esquecimento, inclusive da mídia sensacionalista, que vive de dessecar cadáveres.
Prendem, temporariamente, componentes da banda e donos da boate, enquanto os irresponsáveis do município e do estado fazem o jogo de empurra, colocando a negligência fiscal e as irregularidades do funcionamento da casa sob a responsabilidade do Corpo de Bombeiros. As famílias choram e fazem caminhadas de luto, clamando por justiça.
   
 Como sempre, as “autoridades policiais” prometem rigor na apuração, mas ficam de fora os intocáveis governantes, que de hábito aparecem nesses momentos com caras de condolências e lágrimas de crocodilos com cheiro de votos. Abraçam as vítimas como se também fossem uma delas.
Prédios desabam, edifícios pegam fogo, enchentes arrastam populações, acidentes matam milhares no trânsito todos os anos, a violência extermina vidas, os “espertos políticos” roubam a merenda escolar e o dinheiro da saúde e tudo vai sendo esquecido na avalanche de outras sucessivas tragédias humanas, sem justiça e punição.
Nessa sociedade dos esquecidos, o ilegal virou legal; o imoral em moral; e a corrupção em coisa normal. Aqui, o ético não é mais recomendado, e para tudo vai se dando um “jeitinho” macabro com odor de próximo defunto. Os terremotos, os tsunamis e os furacões nós mesmos nos encarregamos de criar, sem ajuda da natureza. Matamos a nós mesmos todos os dias, como se fosse um suicídio coletivo.
  Enquanto isso, o Renan Calheiros quer ser presidente do Senado, e o Henrique Alves, da Câmara. Estão esquecidos e enterrados em cova profunda os seus “malfeitos” de “meninos traquinos e malvados”. O Congresso todo se esbalda com suas mordomias e aqui já se rouba e assalta à luz do dia.
 Vendo toda essa bandalheira que vem lá do alto, como num “freio de arrumação”, os esquecidos cá de baixo também acham que podem tirar proveito da situação e, então, resolvem se enlamear no mesmo chiqueiro. Vai uma tragédia e vem outra na forma de incêndios, desabamentos e corrupções.
  E assim, a sociedade dos esquecidos vai tocando a vida na base do levar vantagem em tudo, cada um cuidando de passar sua rasteira antes que outro passe em sua frente. Na comoção das tragédias, todos lamentam e se mostram solidários, mas lá, um pouco mais adiante, esquecem de cobrar a punição. Ninguém quer se atrever a levantar o chicote e vai deixando “pra lá” na base da enrolação, como se fosse uma maldição.

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