A SOCIEDADE DOS ESQUECIDOS
Jeremias Macário
Poderia falar aqui
sobre “a louca” que deu na economia brasileira, com uma inflação em ascendência
de 6% e um “pibinho” de menos de 1%, sem contar a queda nos investimentos e 40%
a menos na geração de novas vagas de emprego em 2012.
Do outro lado, temos o aumento do crédito e
da renda do trabalhador em 6%, segundo dizem por aí. Para tapar as contas
públicas do superávit primário, o governo recorreu ao Tesouro e a outras
fontes. Nos programas lançados pela presidente, só se fala em bilhões e mais
bilhões, que no fim se tornam em poucos milhões, ou em nada. Todos vão esquecer
mesmo!
Queria falar mesmo da
sociedade dos esquecidos, que não pode ter pensamento crítico e contrário à
“política” hegemônica, senão será vista como alarmista e derrotista. Nessa
sociedade dos esquecidos, em virtude do alto grau de impunidade, as pessoas
logo se esquecem dos fatos escandalosos de corrupção, das catástrofes e das
tragédias. Somos mesmo uma mentira lá fora.
Neste final de semana,
o país acordou asfixiado com a fumaça do incêndio na boate “Kiss”, em Santa
Maria, no Rio Grande do Sul, onde morreram quase 300 jovens. Em pouco tempo o
fato cai no esquecimento, inclusive da mídia sensacionalista, que vive de
dessecar cadáveres.
Prendem,
temporariamente, componentes da banda e donos da boate, enquanto os irresponsáveis
do município e do estado fazem o jogo de empurra, colocando a negligência
fiscal e as irregularidades do funcionamento da casa sob a responsabilidade do
Corpo de Bombeiros. As famílias choram e fazem caminhadas de luto, clamando por
justiça.
Como sempre, as “autoridades policiais”
prometem rigor na apuração, mas ficam de fora os intocáveis governantes, que de
hábito aparecem nesses momentos com caras de condolências e lágrimas de
crocodilos com cheiro de votos. Abraçam as vítimas como se também fossem uma
delas.
Prédios desabam,
edifícios pegam fogo, enchentes arrastam populações, acidentes matam milhares
no trânsito todos os anos, a violência extermina vidas, os “espertos políticos”
roubam a merenda escolar e o dinheiro da saúde e tudo vai sendo esquecido na
avalanche de outras sucessivas tragédias humanas, sem justiça e punição.
Nessa sociedade dos
esquecidos, o ilegal virou legal; o imoral em moral; e a corrupção em coisa
normal. Aqui, o ético não é mais recomendado, e para tudo vai se dando um
“jeitinho” macabro com odor de próximo defunto. Os terremotos, os tsunamis e os
furacões nós mesmos nos encarregamos de criar, sem ajuda da natureza. Matamos a
nós mesmos todos os dias, como se fosse um suicídio coletivo.
Enquanto isso, o Renan Calheiros quer ser
presidente do Senado, e o Henrique Alves, da Câmara. Estão esquecidos e
enterrados em cova profunda os seus “malfeitos” de “meninos traquinos e
malvados”. O Congresso todo se esbalda com suas mordomias e aqui já se rouba e
assalta à luz do dia.
Vendo toda essa bandalheira que vem lá do
alto, como num “freio de arrumação”, os esquecidos cá de baixo também acham que
podem tirar proveito da situação e, então, resolvem se enlamear no mesmo chiqueiro.
Vai uma tragédia e vem outra na forma de incêndios, desabamentos e corrupções.
E assim, a sociedade dos esquecidos vai
tocando a vida na base do levar vantagem em tudo, cada um cuidando de passar
sua rasteira antes que outro passe em sua frente. Na comoção das tragédias,
todos lamentam e se mostram solidários, mas lá, um pouco mais adiante, esquecem
de cobrar a punição. Ninguém quer se atrever a levantar o chicote e vai
deixando “pra lá” na base da enrolação, como se fosse uma maldição.



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