A VOZ DO POVO NORDESTINO
Ezequiel Sena
Todo inicio de ano tem sido assim, e 2013 não foge a
regra, a natureza enfurecida assusta o Rio de Janeiro, soterra casas, alaga
bairros, derruba pontes e traz morte e desespero para muitas famílias; um
fenômeno que, apesar dos avanços da ciência, o homem continua incapaz de
compreender tamanho mistério. Quando não é a chuva é a seca castigando. A
situação do semiárido baiano e nordestino, por exemplo, voltou a ser grave,
devido a uma estiagem que insiste em permanecer no estado há décadas. As chuvas
de novembro amenizaram um pouco, em alguns lugares, mas não foram suficientes e
estamos de novo sob a ameaça de um seriíssimo racionamento.ria da Conquista
já sente os efeitos; estive na região de Belo Campo, Tremedal, Anagé, Aracatu e
Mesmo com os
evidentes avanços promovidos pelos programas de distribuição de renda, mais de
2 milhões de pessoas – homens, mulheres e crianças – vivem no semiárido e
dependem praticamente da sorte e da boa vontade governamental para não morrerem
por inanição. Até porque, a carência de água e comida talvez seja um dos
maiores flagelos que o ser humano possa suportar.
.
“A seca
não me deixa dormir. O quadro é dramático, de calamidade”. Esta foi a
declaração estampada no caderno de política do jornal A Tarde, de domingo
último, (6), do governador Jaques Wagner. Claro, não é pra menos. Já imaginou
os prejuízos que isso pode lhe causar caso São Pedro não abra as torneiras?
Abastecer cidades com populações de 60 a 70 mil habitantes com carros pipa,
realmente é estarrecedor.
.
Graciliano Ramos,
em meados do século XX, em Vidas Secas, espalhou pelo mundo verde as agruras
vividas pelo povo sertanejo; se vivo estivesse ficaria envergonhado porque
pouca coisa mudou. Alguns políticos comentam que secas sempre vão existir.
Obvio, não dizem nenhuma inverdade, é um fenômeno natural, provocado por
fatores geográficos. Contudo, revela, a um só tempo, um olhar simplista e
conformista sobre essa triste realidade que se perpetua. Percebe-se, porém, que
a “indiferença” domina os detentores do poder. Age sorrateiramente na história
nordestina. Passivamente, mas age. E o resultado é
que o
mal termina sobrando pra todos nós.
.
É inadmissível tanto tempo sem pelo menos ter
encontrado alternativas que amenizem mais firmemente essa situação. Agora, é a
seca com ares do século 21. Ecoando na consciência nacional, desde 1947, com a
música “Asa Branca”, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga: “Que braseiro, que fornalha/Nem um pé de
plantação/Por falta d'água perdi meu gado/ Morreu de sede meu alazão”. O povo nordestino tem que se fazer ouvir por meio de
seus representantes, não apenas a voz do lamento, mas a voz da reivindicação, a
voz da cobrança, uma vez que os artistas e escritores já fizeram e continuam
fazendo a sua parte.
.
Penso que onde há
um problema, deve haver também uma solução. Sempre há o que fazer – até mesmo a
construção de cisternas familiares. Há tempos ouço dizer que o estado de São
Paulo vem se utilizando da
técnica de borrifamento de águas nas nuvens para estimular a chuva
artificialmente. Desconheço o processo e o índice de eficácia da técnica aqui no
semiárido, todavia deve ter credibilidade, caso contrário a Sabesp - Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, não a utilizaria. A Bahia bem que poderia buscar alternativas semelhantes. E por que não?
Evitaria que o sofrimento tome forma ainda mais cruel.
.



Nenhum comentário:
Postar um comentário