NÃO É O NOVO QUE MUDA
Jeremias Macário
Um ano que passa e o outro que chega são
apenas processos de uma contagem numérica. São símbolos festivos num calendário
religioso. Não é o novo que faz simplesmente mudar nossas vidas. Aliás, não
temos nada de novo, mas apenas repetição dos erros que persistem do passado
político, econômico e social anacrônicos.
As chuvas continuam a desmoronar encostas e a
deixar um rastro de mortes e desabrigados, porque o dinheiro público não foi
aplicado como deveria, para evitar as catástrofes de sempre. As ruínas e os
entulhos do passado se juntam às do presente.
Na entrada do novo, os
corredores dos hospitais permaneceram cheios de enfermos, com gentes morrendo nas
filas por falta de atendimento médico. A justiça e as leis seguem desiguais, a
violência ceifa vidas e o ensino nos envergonha. Seria bom que tudo isso fosse
o contrário, e aí, então, teríamos um novo para contar e comemorar.
Como não temos, vale,
pelo menos, lembrar dos fatos que aconteceram no ano que se passou, a começar
por Vitória da Conquista. Para encerrar o ano, infelizmente um episódio deixou
uma triste marca que se arrasta pelo novo, carregado de mistérios e falta de
transparência.
Estou me referindo ao caso do desaparecimento
do menino Maicon depois de um suposto revide de tiroteio entre policiais
militares e um grupo de adolescentes. Lá se vão mais de 30 dias e nada é
esclarecido para a sociedade, que também não cobra uma apuração rigorosa.
Não foi o novo que trouxe uma resposta para
seus familiares. Desde o início, o sumiço da criança segue uma trilha repleta
de interrogações montadas para encobrir erros de uma operação desastrosa. O
mais provável é que Maicon tenha sido vítima de bala perdida. Como sempre,
subestimam nossa inteligência porque somos um povo que se resigna com as
desigualdades, não somente sociais.
Mas o ano que se passou em Conquista foi
também marcado pelo racionamento de água. Para o novo, nos prometem a construção
de um sistema eficiente de abastecimento do precioso líquido. Foi um ano em que
mais se falou no aeroporto, que ficou para ser iniciado no novo que entra.
Vários outros projetos, como o shopping
popular, a ampliação dos equipamentos e dos recursos humanos na área de saúde,
que ainda deixa muito a desejar em nossa cidade, e a melhoria do transporte
público, também ficaram na conta do novo, conforme promessas feitas pelo
Governo do PT, mais uma vez vencedor das eleições do ano que se foi.
Apesar de mais ruas asfaltadas nos bairros,
com mais ciclovias e semáforos, o tráfego na cidade, principalmente no centro,
agravou-se, e a cada dia piora, com mais carros circulando (estima-se mais de
100 mil). O trânsito está insuportável e carente de uma nova engenharia
inteligente. Bastam de quebra-molas e “tartarugas”! Espera-se pela volta da
“Zona Azul”, como está escrito no novo.
No mais, Conquista manteve sua rotina, a não
ser a entrada de mais vereadores na Câmara Municipal, uma medida imposta pelos
políticos lá de cima, que nos dizem que isso é muito bom para a
representatividade. É isso aí, nosso povo continua a se “alimentar” de
esperança e fé. Sempre nos ensinaram que devemos viver assim. A mídia continua
a mesma.
No mais, tenho a lamentar as almas boas que
partiram para outro além, como do nosso amigo escritor, poeta e contador de
histórias, Geraldo Xavier, que, infelizmente, não viu esse novo entrar conosco.
Estava de viagem e só depois soube do seu repentino falecimento.



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