sábado, 8 de abril de 2017

COLUNISTA VIP:

“Ama, bebe e CALA. O mais é nada”

Nando da Costa Lima

Quando a gente entrava em casa bêbado e tomando cuidado pra não chamar a atenção do “velho” e o encontrava roncando em frente à televisão ou talvez fingindo que estava dormindo pra não ter que suportar prosa ruim de biriteiro, tinha a impressão de que ali estava um homem com a verdadeira sensação de missão cumprida… Mas hoje vemos que estávamos redondamente enganados, acho que ninguém parte com a sensação de ter feito tudo que queria na vida, só os mentirosos. Somos todos ventilados por aquele poema de Borges que quando lemos ainda jovens achamos que podemos mudar o rumo da História, mas 20 ou 30 anos depois vamos notar que nem andamos pelo mundo, quando muito demos foi uma voltinha. Passamos a nos sentir solitários mesmo quando acompanhados, nos sentindo como profissões que hoje já nem mais existem, como telefonista, professor de datilografia, datilógrafo, etc. É uma porra se sentir obsoleto mesmo ainda tendo pique pra jogar várias partidas. É assim que me sinto, estou com quase sessenta anos e acho que não fiz quase nada e que já não tenho tempo pra fazer o que gostaria. Meu universo é como uma caixa de sapatos toda furada pra que o ar circule e a luz entre. E o pior é que há anos atrás eu achava que já tinha chutado o pau da barraca, feito de tudo… Que inocência! E olha que eu nem passo de longe na relação dos privilegiados, estes (acho eu) sofrem mais ainda, é o caso do artista quando esquecido pela mídia ou qualquer outro profissional liberal que naturalmente é engolido pelo tempo e já fica sendo olhado pelos mais jovens como antiquado, apesar de ter dado o que tinha de melhor profissionalmente. Não somos nós que nos sentimos velhos, são os jovens que (naturalmente) nos olham como idosos… O tempo é mesmo foda, quando eu lembro que ainda ontem eu estudava na Escola Jorge Teixeira do famoso professor Antônio Moura. Eu sinto saudade até da palmatória de jacarandá que tanto medo me causava. Tudo era tão lindamente diferente, casa cheia, pai e mãe fazendo tudo que podiam, irmãos e irmãs, Dida. As épocas tinham cheiro, o Natal, o São João, o Carnaval, tudo tinha um aroma peculiar, tudo era magia na cabeça do menino que se recusava a crescer. Daquele jeito tava bom demais… a rua da Granja era um universo a parte tinha tudo que eu gostava, principalmente a amizade, na infância ela é bem mais sincera. Tão sincera que envelhece junto a nós sem perder o brilho. Tempo filho da puta… eu tô querendo viver só mais sessenta. Para, porra, senão daqui a pouco você vai falar que tá com saudade de Don e Ravel cantando “Eu te amo meu Brasil”. Aí sim o pessoal vai achar que você tá caducando, só falta você intitular a crônica com a frase que era o Pai Nosso do regime militar “Brasil, ame-o ou deixe-o”. É… Tô caducando mesmo, citar uma merda dessa numa crônica é como elogiar quem não merece . E eu até sonhei que a mamoneira tinha voltado a funcionar… parece que eu tô naquela fase da vida em que o menino, foi não foi se apresenta.

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