Nessa
época a pátria ainda usava coturno… O poeta colocou o traje padrão:
bota indiana da Barroquinha, calça boca de sino, chinelo e bolsa
tiracolo de couro. Forrou o estômago com uma porção dobrada de arroz
integral, fumou um baseado, tomou três cachaças no espanhol e engoliu
três comprimidos de anfetamina, que na época era moda aos universitários
revoltados com o sistema. Só queria viajar e encontrar Esmeralda, uma
hippie velha que ficou famosa por ter vendido e amarrado uma pulseira no
braço de Janis Joplin quando esta passou por Arembepe. Depois desse
contato de minutos transformou-se na amiga de Janis. Todo mudo queria
comer a hippie que era amiga de Janis. Era como entrar pra história…
Pegou o ônibus Graça-Praça da Sé e na primeira curva sentiu a vista
turvar. No corredor da Vitória o pesadelo começou, só agüentou chegar ao
Campo Grande, o comprimido fez efeito rápido. Pulou pela janela do
ônibus em movimento. Achou que estava cercado pelo Dops e o exército ao
mesmo tempo. Foi salvo pela estátua do Caboclo que o aconselhou fugir
logo pra casa da amiga de Janis e esperar o efeito passar. Era o
sistema… Sorriu dos que dele sorriam e do amontoado de cacos d’uma
sociedade avessa ao que imaginava. Continuou sonhando, continuou poeta,
continuou fugindo…
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