TEMPORAL SEM FIM E OS NOSSOS PECADOS
DO DIA A DIA BRASILEIRO
Jeremias Macário
Muitos já assistiram
cenas de filmes de catástrofes provocadas pela natureza e outras por erros humanos
e ataques terroristas em aviação, trens, metrôs, navios e incêndios pavorosos
em edifícios. Nos momentos mais agudos da situação as pessoas expostas, por
mais insensíveis e duras, se reconciliam com inimigos, consigo mesmo e perdem
perdão pelas suas traições contra o amado, a amada, seus entes queridos e
semelhantes.
Não é só isso, contam que na hora do aperto
de morte até o camarada ateu clama pela misericórdia de Deus. No caminho para
Damasco, o soldado Saulo, perseguidor dos cristãos, virou Paulo apóstolo de
Cristo, diante dos raios trovões. Nas tragédias, todos se tornam cordiais e
solidários, pelo menos por algum tempo. Quando uma doença grave, ou violência abate
uma família, parentes mais próximos se dispõem a combater o mal com campanhas e
ajudas. Conta muito o emocional.
Basta um temporal pesado para muita gente
cair em rezas e pedir a Iansã, a Deus, Nossa Senhora e a todos os santos para
que abrandem a tempestade. No Brasil, em meio a um temporal sem fim e
catástrofes políticas, tudo parece normal, a não ser idiotas nas ruas
tremulando bandeiras de “coxinhas” e “mortadelas” com reivindicações de cunho
individualista ou de benefício para a categoria de cada um. Nelas estão
estampadas as cores da intolerância, da irracionalidade e do ódio.
Os operadores graúdos das propinas só
confessaram seus pecados depois que a força tarefa da Lava Jato (Ministério
Público, Polícia Federal, promotores e juízes) mandou prendê-los, caiando sobre
eles a espada da privação da liberdade. O outro lado dos corruptores se
contorce em mentiras, negações e falsas justificativas de legalidades de seus
atos.
Em posições
confortáveis e poltronas acolchoadas, o temporal ainda não chegou a esta gente
apelidada de Todo Feio, Alemão, Pacífico, Porco, Flamenguista, Grisalho,
Vizinho, Nervosinho, Roxinho, Mineirinho, Boca Mole, Caju, Decrépito, Amigo,
Italiano, Pós-Italiano, Garanhão, Índio, Angorá e tantas outras alcunhas
engraçadas e tenebrosas. Eles não se sentem ameaçados e nem estão ai para os tormentos
dos outros.
Também a banda do outro lado mais exposta ao temporal
que a tudo assiste das arquibancadas tem seus pecados do dia a dia e precisa se
purgar. Esses pecados de vender o voto, furar filas, assinar ausências de
colegas nas escolas, bater pontos de companheiros no trabalho, queimar aulas,
plantões em hospitais, dar gorjeta a policiais e servidores públicos na base do
jeitinho brasileiro, fazer roubadas no trânsito, parar em locais errados e
enganar os outros por achar ser o mais espertotalvez sejam pequenos aos olhos de
muitos, mas criaram monstros que estão nos devorando.
Nesse temporal horrível é imperativo que
todos façam “mea culpa”, saiam do comodismo e reajam contra os malfeitores e
salteadores dos cofres públicos, que falsearam suas ideologias de direita e de
esquerda e comeram nosso queijo como ratos.Fuzilar primeiro na corrupção abre
outros flancos para sairmos desse Inferno de Dante. Depois é só acertar outros
alvos que impedem nossa marcha por justiça e igualdade social.
Nos corredores aterrorizantes das delações
premiadas, fica a impressão de que a Odebrecht é uma mãe e uma mina inesgotável
de milhões em dinheiro, mas, na verdade, a empresa foi apenas uma repassadora
da grana extraída do povo, isto através das medidas beneficiadoras de isenção
de impostos, dos privilégios nos contratos de obras, no superfaturamento e nas
fraudes licitatórias. A Odebrechtfezengordar seu caixa roubando dos
contribuintes em conluio com os políticos e governantes escrotos.
Nas proposições e pleitos em projetos de
investimentos, legítimos ou não, a repassadora de verbas era obrigada a fazer suas
planilhas de doações para saciar a fome dos paquidermes que recebiam as
folhagens em malas, mochilas, envelopes, saldos amigos e contas em bancos
nacionais e estrangeiros. Grande volume das propinas era “declarado” e “legalizado”
via Justiça Eleitoral, a maior máquina brasileira de lavagem de dinheiro.
Por fim, os nossos pecados do dia
desencadearam um temporal sem fim no país e não vai ser nenhuma reza, vodus e
preces que vão parar, mesmo porque Deus, santos e orixás não se metem nessas
falcatruas armadas pelos gananciosos por dinheiro e poder, com o consentimento
e a falta de indignação de um povo que prefere continuar na cegueira
ideológica.
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