Vamos revitalizar o Parque
Carlos Albán González - jornalista
Como
sempre ocorre nos finais de semana prolongados a cidade está
adormecida, um estado de espírito que vai se repetir na próxima
sexta-feira, véspera do dia dedicado
a Tiradentes, e em outros feriadões, que o inimigo do trabalho espera
com ansiedade, começando pelo poder público, que, num decreto de duas
linhas, oficializa o ponto facultativo (!), ou prefere, como os
vereadores, permanecer na ociosidade pelos 365 anos
do ano.
Numa
cidade como Vitória da Conquista, que peca por falta de lazer,
verifica-se uma fuga de uma parte considerável de sua população. A
prioridade é viajar para
fazendas, chácaras e pequenos lotes de terra no interior do município.
Quem se arrisca a colocar seu carro nas estradas ou participar de
excursões em transporte clandestino vai matar a saudade do mar, viajando
para Ilhéus e Porto Seguro.
E
o quê fazem aqueles que ficam na cidade porque já riscaram o lazer do
seu orçamento, diante da crise econômica provocada pelos “amigos” de
Odebrecht? Bem, podem
assistir a um show de música da pior qualidade, lamentando não poder ir
ao Lomantão, por falta de dinheiro, ver e ouvir Roberto Carlos cantar
“Emoções”. Se optar por um cinema, a programação é de má qualidade,
priorizando monstros de outras galáxias, seres
extraterrestres e pré-históricos, vampiros e bruxas. Podem ir assistir,
talvez pela última vez em 2017, ao time do Vitória da Conquista que, no
domingo, enfrenta o Vitória, pelas semifinais do Campeonato Baiano.
Como
última opção para aqueles que realmente querem sair de casa, o destino é
a Praça Tancredo Neves, onde, com muito esforço, podem visualizar algum
peixe tentando
respirar nas águas imundas dos tanques. Aproveitem logo, enquanto os
patos que vivem na praça ainda não foram para as panelas dos humanos
predadores , como aconteceu com a fauna de uma lagoa que divide as ruas
Maranhão e Piauí, na Pituba, em Salvador.
Aqueles
que são forçados a ficar em casa porque não têm dinheiro nem para o
ônibus o jeito é convidar os amigos – os autênticos, não os da Odebrecht
– para um joguinho
de dominó ou de dama, regado a uma cachacinha, porque a cerveja, que já
foi bebida de pobre, adquiriu ares aristocráticos, rebatizada com nomes
estrangeiros dados pelos fabricantes artesanais, com preços que
rivalizam com os uísques escoceses ou os vinhos
espanhóis e portugueses.
Parque de Exposições
Há
três anos e dois meses troquei Salvador por Vitória da Conquista, em
busca – e encontrei – de melhor qualidade de vida. Pela primeira vez, no
último dia da 51ª
Exposição Agropecuária, fui conhecer o Parque Teopompo de Almeida. Ao
final da visita, prejudicada pelas chuvas e pela lama, perguntei para
mim mesmo porque aquele enorme espaço não é aberto ao público durante
todo o ano, pelo menos nos fins de semana. A Cooperativa
Mista Agropecuária Conquistense (Coopemac), proprietária da área,
poderia celebrar uma parceria com a prefeitura, viabilizando o
empreendimento.
Tomei
conhecimento que, em dezembro de 2015, a Coopemac cedeu uma área de
9.003,72 m² ao município em troca de uma dívida (IPTU atrasado), no
valor de R$ 4 milhões.
Esse termo de dação em pagamento não teria sido assinado se, já naquela
época, empresários e poder público tivessem oferecido ao povo um espaço
de lazer, entretenimento, cultura, comércio e gastronômico. Ressalte-se
que este ano a nova administração municipal
percebeu a importância da exposição, transferindo o gabinete do
prefeito Herzem Gusmão e de algumas secretarias para a área do parque.
Criada
em 8 de outubro de 1960, com a finalidade de desenvolver a educação, a
economia e a sociabilidade da região sudoeste da Bahia e parte do norte
de Minas Gerais,
abrangendo 39 municípios, com uma população estimada em 1,2 milhão de
pessoas, a Coopemac promove desde 1966 uma das mais divulgadas mostras
do agronegócio do país. Os números totais da edição deste ano ainda não
foram divulgados. Estima-se que, dos três mil
animais expostos foram negociados 1.300, em cinco grandes leilões.
Em
2016, o lucro foi de R$ 10 milhões, segundo o presidente da entidade,
Jaymilton Gusmão Cunha Filho. O parque recebeu mais de 140 mil pessoas.
Além de impedir
o show do cantor Xangai, das provas equestres e do 3º Encontro de Cães,
as chuvas que caíram durante toda a semana prejudicaram os comerciantes
– foram alugados 30 stands – de bares e restaurantes, que tiveram de
elevar absurdamente os preços de comidas e
bebidas, afastando, obviamente, a clientela. Os arrendatários de stands
destinados às vendas de veículos, implementos agrícolas, imóveis e
mobiliário, não revelaram as cifras de seus negócios.
Empresariado
As
regiões do Brasil nunca esconderam suas diferenças sociais e
econômicas, que chegaram a se refletir em movimentos separatistas
liderados pelo Sul. Estudiosos
do processo de colonização no país podem melhor avaliar essa questão.
Leigo no assunto, tomei como base dois municípios: Chapecó, em Santa
Catarina, e Vitória da Conquista, pegando alguns números a título de
comparação.
Chapecó,
chamada de capital nacional da agroindústria e líder no turismo de
negócios, tem 99 anos de fundada, com área de 626 km², população de 209
mil habitantes
e renda per capita de R$ 38.184. Conquista, maior polo de
desenvolvimento do sudoeste baiano, tem 3.204.257 km², 176 anos de
existência, população de 350 mil habitantes e uma renda per capita de R$
14.647.
Nesse
contexto, há um detalhe que o IBGE não menciona: o empresariado
catarinense é bastante atuante, haja vista que o estado disputou a
divisão de elite do futebol
brasileiro com quatro representantes, um deles, a Chapecoense, que toda
a cidade abraçou, mesmo antes do lamentável acidente aéreo, que vitimou
toda a equipe. Abro um parêntese para lembrar que, sem patrocínio, o
Vitória da Conquista – suas atividades em 2017
findam este mês – está para fechar as portas.
Investidores
paranaenses, catarinenses e gaúchos estão plantando e colhendo soja no
oeste baiano; outros optaram por cultivar frutas ou se dedicar à
indústria vinícola
no Vale do São Francisco. Os exemplos de empreendedorismo são muitos,
inclusive no campo do entretenimento Imaginem o que eles poderiam fazer
numa área onde está implantado o Parque Teopompo de Almeida, numa cidade
que adormece nos fins de semana.
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