POR FALAR
EM POESIA...
Nando da Costa Lima
Dr.
Miguidômio Coarassu era um bom médico, e como quase todo médico gostava de
política e poesia. Poesia ele tinha deixado mais de lado, ultimamente não
gostava mais nem de ler, mas era um intelectual. E foi no seu consultório que
ocorreu este curioso caso... Um jovem poeta resolveu fazer um “checap”, chegou
carregando uma mala enorme, mas isto pro Dr. era normal, tinha muita gente que
morava fora e vinha se consultar com ele. O poeta foi quem puxou aquela
conversa...
- Pois é Dr., eu dei preferência ao senhor por saber que o
senhor gosta de poesia.
- Já gostei mais, meu filho, hoje eu nem leio.
- Nem os clássicos???
- É, Bandeira a gente tem que ler de vez em quando.
- Por que só Bandeira?
- Porque eu acho que ele transcende, pra mim é sem dúvida o
melhor poeta brasileiro.
- Pois na minha opinião, todo poeta é bom. Eu sou eclético,
Dr.
- É difícil ver um jovem como você gostar tanto de poesia.
- Dr., eu sou a quinta geração de poetas da família da parte
do meu pai. Eu fui criado escutando e lendo poesia e até trouxe uns versos pro
senhor dar uma olhadinha.
- Tá bom, meu filho. Deixa aí, uma hora eu leio.
Aí o poeta
jogou a mala em cima da mesa do Dr. já falando que a maioria era manuscrito,
mas a letra dele era muito boa, dava pro Dr. ler em uma tarde.
- E você acha que eu vou perder o meu tempo lendo uma mala de
manuscritos? Eu parei de ler poesia justamente por isso.
- O senhor conhece Onorino Pranchão, meu tio?
- Você é sobrinho daquele cidadão? Aquele homem quase mata
minha avó com um verso.
- Eu sei, tio era tão inspirado que muita gente desmaiava de
emoção.
- Mas minha vó quase morre de raiva.
- Ué, que verso foi esse?
- Seu tio não saía da casa de minha avó, chegava geralmente
na hora do almoço e ficava pro jantar.
- É, tio era muito popular, o senhor sabe, né Dr.?
- O seu tio era muito era inconveniente. Ele sabia que vó era
devota de São Sebastião e todo dia prometia que ia fazer um poema pro santo, só
que nunca saía. Teve um dia que meu pai se retou e exigiu que ele fizesse a
poesia naquele exato momento, ou então sumisse. Foi aí que seu tio Onorino
quase mata vó com um verso. Meu pai ficou retado com ele, nunca mais se falaram.
- Ué, Dr., que verso foi esse? O senhor se lembra?
- Como é que eu ia esquecer daquela merda? Eu acho que até
São Sebastião ficou puto.
- Ô Doutor, declama aí pra eu ouvir. Eu sou apaixonado pela
poesia dele.
- É o seguinte, na hora que meu pai forçou ele a fazer o
poema, arrumou um nó naquela gravata sebosa, bateu na mesa e largou: “LÁ VEM
SÃO SEBASTIÃO, TODO FURADO DE FLECHA. TAMBÉM, QUEM MANDOU ELE IR MEXER COM OS
ÍNDIOS?”
- E o senhor achou este verso pós-moderno ruim? O sr. e seu
pai é que não sabem nada de poesia.
- Ô poeta, você tá com a saúde ótima, pegue sua mala de
versos e se pique do meu consultório.
- Tá bom, Dr., eu não sabia que o senhor era tão ignorante.
Mesmo assim, eu vou declamar um versinho que fiz agora pro senhor: “DR.
COARASSU, DR. COARASSU, NÃO É À TÔA QUE O SEU NOME COMEÇA COM C E TERMINA COM
U”.
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