Ditadura do COB sob ameaça de uma bolinha
Carlos Albán González - jornalista
O velho ping-pong, passatempo dos nossos avós,
abandonou as raquetes de madeira, adquiriu o termo pomposo de tênis de mesa e
ganhou status de esporte olímpico, sob o amplo domínio dos chineses, a partir
dos Jogos de Seul, em 1988. A bolinha branca, importante componente dos jogos,
que praticamente, em mais de um século, não sofreu modificações, pode servir de
“arma” para derrubar a antiga ditadura implantada desde 1995 no Comitê Olímpico
Brasileiro (COB), e interromper os planos do seu presidente, Carlos Arthur
Nuzman, de se manter no cargo até 2020, passando por cima da legislação
esportiva.
Na presidência, também há mais de duas décadas, da
Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor Azevedo, empunhou a
bandeira da oposição contra o todo poderoso Nuzman. Médico e ex-diretor administrativo
de um hospital carioca, ele acusa o dirigente do COB de ter deixado de repassar
para as confederações uma verba de R$ 410 milhões, liberada pelo Comitê
Olímpico Internacional (COI) para ser aplicada no treinamento dos atletas que
competiram nos Jogos do Rio 2016.
Numa entrevista à ESPN, Azevedo afirma que o
presidente do Comitê Organizador dos Jogos do Rio e das Paraolimpíadas “usou de
manobras financeiras, que eu chamo de “pedaladas”, tão graves como as que
afastaram a presidente Dilma Rousseff do Planalto. As irregularidades, que já
foram parar na Justiça fluminense, e que, por certo, serão examinadas pelo
Tribunal de Contas da União (TCU), prejudicaram o rendimento do país na
Olimpíada: o Brasil foi o 13º colocado no quadro de medalhas.
Azevedo planeja dirigir o COB desde as últimas
eleições, em 2012. Na época, como exigem os Estatutos da entidade, não
conseguiu o apoio de dez confederações, além de ter encontrado pela frente os
obstáculos colocados pelo seu adversário, que, inclusive, obteve na Justiça o
direito de ser reconduzido ao posto por aclamação dos seus 29 eleitores, previamente ameaçados
de retaliação.
O “cartola” mesatenista não perdeu a esperança de
se proclamar presidente do COI. O pleito para o mandato por mais quatro anos
está marcado para ainda este ano, sem data definida. Pesa contra o
Azevedo, além da vitaliciedade na CBTM, uma denúncia de corrupção, feita em
2004 e levada ao Ministério Público e à Polícia Federal. No projeto denominado de “A Grande Sacada”, a Telebrás liberou uma verba de R$ 1,2 milhão para a construção de mesas
de cimento em várias cidades brasileiras. A primeira parcela, de R$ 400 mil,
chegou à Confederação, mas até hoje nenhuma mesa foi montada. Hoje, Azevedo
procura fugir do assunto, garantindo que foi absolvido em todas as instâncias judiciais.
O clima nefasto da política praticada em nosso país
é o mesmo que hoje encobre as entidades esportivas. As retaliações, as trocas
de favores e a ausência de transparência na gestão do dinheiro público e dos
patrocinadores, e a falta de alternância no poder, motivaram a criação do
Movimento Atletas pela Cidadania, liderado pelo velejador Lars Grael, dono de
duas medalhas olímpicas. “Está na hora de fincarmos a bandeira por um modelo de
gestão esportiva mais democrática. Os presidentes de confederações, se realmente
forem bons, serão capazes de eleger um sucessor”, afirma.
Indiferente às denúncias, críticas e aos problemas
causados por uma doença degenerativa do sistema nervoso central, Carlos Nuzman
aguarda o momento certo para abrir caminho para o sexto mandato à frente do
COB. Seu companheiro de chapa será o presidente da Confederação Brasileira de
Judô (CBJ), o capixaba Paulo Wanderley Teixeira. Na sua última aparição
pública, por ocasião da abertura das Paraolimpíadas, voltou a fazer um discurso
ufanista, carregado de autoelogios, mas não pôde deixar de ouvir estrondosa
vaia, que durou 30 segundos, quando fez referências às autoridades
governamentais do Brasil e do Rio de Janeiro.
No
dia 2 de outubro de 2009, em Copenhague (Dinamarca),
durante a 121ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional, ao ser anunciada
a
cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos de 2016, Carlos Nuzman era
um dos
mais eufóricos, distribuindo calorosos abraços no presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o responsável,
segundo ele, por trazer o megaevento, pela primeira vez, para a América
do Sul. Sete anos depois, nos discursos proferidos no Maracanã e nos
contatos com a imprensa, Nuzman se revelou um ingrato, omitindo a grande ajuda que o COB recebeu dos governos de Lula e Dilma Rousseff.
Lula
e seu ministro do Esporte, Orlando Silva, sempre manifestaram por
Nuzman um profundo apreço, atendendo, sem questionar, suas
reivindicações. Dilma, no entanto, preferiu manter distância do
excêntrico "cartola".
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