domingo, 18 de setembro de 2016

COLUNISTA VIP:

Ditadura do COB sob ameaça de uma bolinha

Carlos Albán González - jornalista
O velho ping-pong, passatempo dos nossos avós, abandonou as raquetes de madeira, adquiriu o termo pomposo de tênis de mesa e ganhou status de esporte olímpico, sob o amplo domínio dos chineses, a partir dos Jogos de Seul, em 1988. A bolinha branca, importante componente dos jogos, que praticamente, em mais de um século, não sofreu modificações, pode servir de “arma” para derrubar a antiga ditadura implantada desde 1995 no Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e interromper os planos do seu presidente, Carlos Arthur Nuzman, de se manter no cargo até 2020, passando por cima da legislação esportiva.

Na presidência, também há mais de duas décadas, da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor Azevedo, empunhou a bandeira da oposição contra o todo poderoso Nuzman. Médico e ex-diretor administrativo de um hospital carioca, ele acusa o dirigente do COB de ter deixado de repassar para as confederações uma verba de R$ 410 milhões, liberada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para ser aplicada no treinamento dos atletas que competiram nos Jogos do Rio 2016.

Numa entrevista à ESPN, Azevedo afirma que o presidente do Comitê Organizador dos Jogos do Rio e das Paraolimpíadas “usou de manobras financeiras, que eu chamo de “pedaladas”, tão graves como as que afastaram a presidente Dilma Rousseff do Planalto. As irregularidades, que já foram parar na Justiça fluminense, e que, por certo, serão examinadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), prejudicaram o rendimento do país na Olimpíada: o Brasil foi o 13º colocado no quadro de medalhas.

Azevedo planeja dirigir o COB desde as últimas eleições, em 2012. Na época, como exigem os Estatutos da entidade, não conseguiu o apoio de dez confederações, além de ter encontrado pela frente os obstáculos colocados pelo seu adversário, que, inclusive, obteve na Justiça o direito de ser reconduzido ao posto por aclamação dos seus 29 eleitores, previamente ameaçados de retaliação.

O “cartola” mesatenista não perdeu a esperança de se proclamar presidente do COI. O pleito para o mandato por mais quatro anos está marcado para ainda este ano, sem data definida. Pesa contra o Azevedo, além da vitaliciedade na CBTM, uma denúncia de corrupção, feita em 2004 e levada ao Ministério Público e à Polícia Federal. No projeto denominado de “A Grande Sacada”, a Telebrás liberou uma verba de R$ 1,2 milhão para a construção de mesas de cimento em várias cidades brasileiras. A primeira parcela, de R$ 400 mil, chegou à Confederação, mas até hoje nenhuma mesa foi montada. Hoje, Azevedo procura fugir do assunto, garantindo que foi absolvido em todas as instâncias judiciais.

O clima nefasto da política praticada em nosso país é o mesmo que hoje encobre as entidades esportivas. As retaliações, as trocas de favores e a ausência de transparência na gestão do dinheiro público e dos patrocinadores, e a falta de alternância no poder, motivaram a criação do Movimento Atletas pela Cidadania, liderado pelo velejador Lars Grael, dono de duas medalhas olímpicas. “Está na hora de fincarmos a bandeira por um modelo de gestão esportiva mais democrática. Os presidentes de confederações, se realmente forem bons, serão capazes de eleger um sucessor”, afirma.

Indiferente às denúncias, críticas e aos problemas causados por uma doença degenerativa do sistema nervoso central, Carlos Nuzman aguarda o momento certo para abrir caminho para o sexto mandato à frente do COB. Seu companheiro de chapa será o presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), o capixaba Paulo Wanderley Teixeira. Na sua última aparição pública, por ocasião da abertura das Paraolimpíadas, voltou a fazer um discurso ufanista, carregado de autoelogios, mas não pôde deixar de ouvir estrondosa vaia, que durou 30 segundos, quando fez referências às autoridades governamentais do Brasil e do Rio de Janeiro.

No dia 2 de outubro de 2009, em Copenhague (Dinamarca), durante a 121ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional, ao ser anunciada a cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos de 2016, Carlos Nuzman era um dos mais eufóricos, distribuindo calorosos abraços no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o responsável, segundo ele, por trazer o megaevento, pela primeira vez, para a América do Sul. Sete anos depois, nos discursos proferidos no Maracanã e nos contatos com a imprensa, Nuzman se revelou um ingrato, omitindo a grande ajuda que o COB recebeu dos governos de Lula e Dilma Rousseff. 

Lula e seu ministro do Esporte, Orlando Silva, sempre manifestaram por Nuzman um profundo apreço, atendendo, sem questionar, suas reivindicações. Dilma, no entanto, preferiu manter distância do excêntrico "cartola".

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