Lua de mel
Nando da Costa Lima
Isto aconteceu faz tempo, viagra ainda nem existia...
Ela, Nair, filha
de seu Matues; ele, Romildo, poeta, filho de seu José. Apesar de se amarem,
nunca poderiam ter um relacionamento normal como todo namoro (lembravam Romeu e
Julieta). As famílias eram brigadas há mais de trinta anos por motivos
políticos. Quando se encontravam era só pra brigar, e quem mais sofria com
essas brigas eram Nair e o poeta Romildo. Eles já haviam feito de tudo para
reconciliar as famílias, mas não tinha meio de chegarem a um acordo. O jeito
era esperar a morte dos patriarcas, só assim eles poderiam se casar. E já
estava passando da hora, ambos estavam na faixa de amarrar o facão.
Um dia suas orações foram atendidas: os velhos morreram no
mesmo dia, um de caganeira e o outro de alegria ao saber da notícia. Mesmo
velando os corpos, eles não escondiam a felicidade, afinal, eram trinta anos de
espera. O poeta já estava com 72 e ela com 59, mas como diz o ditado: “Antes
tarde do que nunca”.
Depois de passado
o período de luto eles trataram logo de marcar o casório o mais breve possível,
mesmo com as viúvas sendo contra. Nair não tinha como esconder a alegria, ela
pensava que ia morrer virgem. Há muito tempo sonhava com sua primeira noite.
Mas em seu Romildo a felicidade vinha do receio que todo homem tem, depois de
uma certa idade, em levar alguém para a cama. O jeito era fazer o teste na
zona, e o teste não foi nada satisfatório, o poeta fez tanto esforço que se
borrou todo, mas botou a culpa na feijoada da festa de noivado. A prostituta
consolou seu Romildo dizendo que o que vale é a intenção, que talvez com a
noiva a coisa fosse diferente, sendo ela virgem, etc. O poeta saiu do brega e
foi para o médico, o Dr. explicou que para essas coisas o mais importante é
manter a cabeça fria. Seu Romildo respondeu: “Mais fria do que tá não sai nem
mijo”.
Procurou outro médico.
Este, um gozador, deu-lhe um livro intitulado: “Como ter uma vida sexual ativa
depois dos 70 anos”. Ele levou todo satisfeito, mas quando folheou viu que as
páginas estavam em branco, exceto a última, que tinha escrito em letras
enormes: “O homem depois dos 70 deve entender que ‘recordar é viver’”. Depois
dessa viu que o jeito era procurar um curador. Explicou a situação, prometeu
uma vaca e meia dúzia de bodes, mas só entregava depois da noite de núpcias. O
curador falou pra seu Romildo que a garrafada só fazia efeito uma vez, depois
de passado o tempo podia esquecer de sexo, só ia servir como marco de
referência.
O noivo tomou a
garrafada dois dias antes do casamento. Foi só fazer o efeito e passou dois
dias roçando em Nair, transar mesmo só no dia do casamento, ela era uma moça de
respeito. No seu pensamento, Nair só aparecia nua.
A noiva, do dia que
marcou o casamento até o dia “D” rasgou uma dúzia de fronhas e dois colchões,
era certo que a lua de mel ia ser das mais quentes, não é todo dia que uma
noiva perde a virgindade aos 59 anos. E o melhor de tudo: tarada pelo noivo. O
casamento correu bem, o noivo teve que usar um paletó bem comprido, pois o
remédio era dos bons, e ele ainda reforçava tomando quatro gemadas e uma
garrafa de jurubeba por dia. O velho tinha dois dias que não destravava. Enfim,
chegando a hora fatal ele pulou pra cama, tirou a roupa e ficou admirando o
patrimônio, foi logo chamando a mulher pra mostrar que ele tava melhor que
muito rapaz de vinte anos. Ela concordou mas mandou ele ter paciência, pois ela
ia se trocar e tomar um banho, e isto não era nada para quem já tinha esperado
30 anos. Demorou mais de uma hora, quando voltou pra cama o efeito da garrafada
já tinha passado, ela perguntou: “O que houve Romildo, cêtava tão alegre?”. O
poeta olhou pra noiva, apontou pro balão apagado, sacudiu a cabeça e, apesar de
nervoso, era um homem educado e acima de tudo um poeta. Sendo assim, respondeu
poeticamente: “Minha amada esposa, a alegria do homem é ‘eterna enquanto dura’,
portanto pegue sua vagina e introduza no seu ânus”. Dona
Nair entendeu do que se tratava, e apesar de decepcionada, nunca mais falou em
lua de mel (com seu Romildo, é claro!).
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