Dilma diz à PF que 'nunca ouviu falar' de conta no exterior aberta para ela por Joesley Batista
O Globo Foto: A ex-presidente Dilma Rousseff BRASÍLIA
- Em depoimento à Polícia Federal, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT)
afirmou que "nunca ouviu falar" da conta no exterior supostamente aberta
para ela pelo empresário Joesley Batista, relatada por ele em sua
delação premiada, e negou as acusações de compra do apoio político de
senadores do então PMDB pelo grupo J&F. O caso é investigado
pela PF a partir da delação de Joesley. No início de novembro, a PF
deflagrou a Operação Alaska, com base nessa investigação, e chegou a
solicitar a prisão temporária da ex-presidente, que foi negada pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. Semanas depois,
no dia 20 daquele mês, Dilma foi ouvida por um delegado da PF em Porto
Alegre, acompanhada de seu advogado. O GLOBO teve acesso ao depoimento. "Nunca
teve conhecimento dessas contas e somente soube da suposta existência
há pouco, quando foram divulgadas as declarações de Joesley Batista",
afirmou a ex-presidente. Dilma disse ainda que "não determinou a
abertura de contas bancárias e jamais teve conversas relacionadas a esse
tema". "Nunca ouviu falar nas contas denominadas Mustique e
Fermenteira, alegadamente mantidas por Joesley Batista no Banco JP
Morgan", disse no depoimento. Em sua delação premiada, Joesley
afirmou que acertou com o então ministro da Fazenda Guido Mantega a
abertura de contas no exterior para periodicamente depositar valores de
propina destinados ao ex-presidente Lula e à ex-presidente Dilma,
referentes a recursos obtidos pela JBS do BNDES na gestão petista. No
seu depoimento à PF, Dilma classificou o relato de "ficção". A
ex-presidente afirmou que nunca conversou com Joesley sobre
contribuições eleitorais e disse que todas as reuniões mantidas com o
empresário, para tratar de assuntos institucionais, foram acompanhadas
de assessores, "como recomenda o protocolo presidencial". Sobre o
relato de que o grupo J&F acertou doações eleitorais com os caciques
do então PMDB do Senado em troca de apoiar sua candidatura presidencial
em 2014, a ex-presidente afirma que o relato não faria sentido, porque
as pesquisas de intenção de voto a colocavam em primeiro lugar e isso
era o principal motivo para atrair o apoio dos peemedebistas. "Os
sete senadores mencionados como destinatários de valores mantidos por
Joesley Batista, supostamente no interesse do PT, são originários de
Estados do Norte e Nordeste, nos quais o PT historicamente detinha
hegemonia eleitoral; que, portanto, a eleição dos citados senadores
seria mais viável a partir de uma coligação com o PT do que com qualquer
outro partido, principalmente com o PSDB", afirmou Dilma. Ao
final do seu depoimento, a ex-presidente pediu a palavra para criticar a
delação de Joesley e também do ex-ministro petista Antonio Palocci, a
quem classificou de "sistemático mentiroso". "Deseja esclarecer
inicialmente que sancionou a lei que tipificou em parte a delação
premiada e, por esta razão, sente-se no dever de fazer algumas
constatações a respeito das contas que Joesley teria aberto no exterior.
Em 2017, o Ministério Público, por meio de um procurador (Ivan Marx, da
Procuradoria da República no DF) disse que as contas representavam pura
e simplesmente a palavra de Joesley; primeiro porque nenhuma delas
tinha sido a fonte de qualquer um dos supostos pagamentos feitos no
Brasil; portanto, não tinha como rastrear os valores a bem de evidenciar
que os pagamentos tenham sido feitos com o propósito que ele diz ter
tido", afirmou Dilma.
A ex-presidente também criticou o fato de a delação de Joesley sobre as contas no exterior ter sido confirmada na delação de Palocci e disse que há contradições entre os relatos deles. "Já é errado usar uma delação como prova da outra, mas passa dos limites quando uma contradiz a outra", afirmou.
A ex-presidente também criticou o fato de a delação de Joesley sobre as contas no exterior ter sido confirmada na delação de Palocci e disse que há contradições entre os relatos deles. "Já é errado usar uma delação como prova da outra, mas passa dos limites quando uma contradiz a outra", afirmou.
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