O Conquista deve continuar vivo
Carlos Albán González
Por
duas vezes neste espaço questionei a diretoria do Vitória da Conquista
para o fato de, na condição de campeão da Copa Governador do Estado, ter
optado em disputar
a Copa do Brasil de 2017, em vez de participar do Campeonato Brasileiro
da Série “D”. Em declarações dadas a uma emissora de rádio, ainda sob o
impacto de uma desclassificação precoce diante do Coritiba, o
presidente Ederlane Amorim surpreendeu os desportistas
de sua terra ao prever a morte do clube, com apenas 12 anos de idade,
por completa falta de recursos financeiros.
Explicou
o dirigente que, com base num estudo orçamentário traçado para este
ano, seria mais vantajoso garantir, já no primeiro trimestre, os
recursos proporcionados
pelo jogo da Copa do Brasil realizado no Estádio Lomanto Júnior, do que
aguardar até o segundo semestre pela disputa da Série “D”, mesmo
levando em conta que, pelo menos, o Conquista faria seis jogos.
Participando
de um Campeonato Baiano pessimamente organizado, o clube conquistense
não podia esperar até o segundo semestre do ano para ter uma ideia de
como será
disputado o Brasileirão da Série “D”; quais serão os seus adversários
(um deles pode estar sediado no Acre e outro no extremo sul do país);
como se dará a ajuda da CBF em passagens, provavelmente rodoviárias,
além de alimentação e hospedagem.
O
Vitória da Conquista necessita hoje de dinheiro para poder pagar a
folha de janeiro – em torno de R$ 120 mil – dos atletas e comissão
técnica, e dos funcionários.
No seu desabafo, Ederlane chegou a afirmar que o clube estava com
dificuldade até para comprar a alimentação fornecida aos jogadores na
concentração, às vésperas dos jogos.
Nesses
momentos de crise, o expediente, em última instância, é apelar para o
poder municipal, embora, em minha opinião, o prefeito Herzem Gusmão,
assim como seu
antecessor, não priorize tanto o esporte, ou talvez faça parte de uma
maioria de moradores da cidade que solta foguetes e chora pelo Flamengo.
Ederlane já estendeu o chapéu para a prefeitura, para evitar que a
cidade fique sem um clube profissional – outros
times são apenas lembranças, enquanto o Serrano resolveu mudar de ares.
O
quê a FBF, que deve estar com os cofres abarrotados, dirigida pelo
conquistense Ednaldo Rodrigues, pode fazer para tirar o Conquista da
UTI? E a indústria local?
O comércio? E os grandes empresários? Ter o nome do seu empreendimento
no uniforme de um clube é um grande negócio. Dou como exemplo o
Corinthians, veículo utilizado por uma cervejaria espanhola, a Estrella
Galicia, para divulgar seu produto.
Há
alguns meses comentei aqui que a solidariedade da população de Chapecó
(capital nacional da agroindústria; 99 anos de fundação e 209.500
habitantes) pelo time
da cidade não se deu em função daquele lamentável acidente aéreo. Muito
tempo antes os chapecoenses já haviam abraçado o clube, que é campeão
sul-americano e participa da elite do futebol brasileiro. Esse
sentimento de afeição vem da parte da municipalidade,
do poder econômico e, principalmente, dos desportistas, que não trocam o
verde e branco da Chapecoense pelas cores de clubes do Rio e São Paulo.
Prejudicado
por um árbitro nordestino, que deixou de assinalar um pênalti quando o
placar estava em 1 a 1, o Vitória da Conquista não mostrou futebol,
mesmo habituado
ao gramado mal conservado do Lomantão, para vencer o Coritiba, um time
de médio porte, embora faça parte da Série “A”. Aplausos para o goleiro
Rodolfo, que evitou um placar mais dilatado, embora tenha falhado no
gol adversário, não afastando a bola alta,
na cobrança de escanteio, sobre a pequena área.
A
partida contra o Bahia, dia 5 de março (domingo), é a única
oportunidade que o Vitória da Conquista terá este ano para levantar
recursos para pagar seus compromissos
financeiros. Pressionada pela CBF, a Federação organizou um campeonato
estadual apertado, com apenas jogos de ida. A primeira fase do torneio
terminará em 12 de abril. Além do Bahia, o Conquista só jogará em casa
contra Atlântico (19 de fevereiro), Jacobina
(22 deste mês) e Flamengo de Guanambi (2 de abril). Terá que se
classificar entre os quatro primeiros para disputar mais quatro jogos
(semifinais e finais) até 5 de maio. Depois disso, é aguardar a Copa
Governador do Estado. E torcer para que sobreviva em
2018 e por muitos anos. Com a ajuda, claro, dos conquistenses.
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