sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

COLUNISTA VIP:



Programa de índio
Nando da Costa Lima
 
Não sei porque usamos o termo "programa de índio" quando estamos nos referindo a alguma coisa que não agrada. Acho o termo não muito apropriado, mas que existem programas que deixam o indivíduo arrependido de estar participando, existem. Nada pior do que sair para se divertir e ocorrer o contrário, e isto acontece com todo mundo. É o caso daquele amigo que você tinha como um ídolo. Enquanto estava guardado no baú do pensamento, ele era ótimo, mas depois de encontrá-lo e tentar reatar uma amizade antiga, notar que seu amigo cresceu e tornou-se um panaca que fala besteira o tempo todo e ainda por cima gosta de recitar as letras das músicas da "jovem guarda". O pior é ter que passar o dia com ele, isso sim é programa de dar raiva. Mas existe coisa pior, como um rapaz que foi convidado para passar férias com uma família amiga, passou dez dias apartando tudo que é tipo de briga que um casal pode arrumar. O pior é que além de perder os amigos, foi praticamente expulso da casa como causador das brigas, segundo o casal o astral dele tava influenciando negativamente no convívio diário. Este nunca mais aceitou convite pra nada!
O ruim do programa furado é o fator surpresa, você vai esperando o melhor e ocorre exatamente o contrário. O cidadão depois de vários anos sem tirar férias resolve levar a família pra passar uns dias na praia, quando chega lá não encontra hospedagem, tem de ir pra um camping e alugar uma barraca. O sol tinha ido embora com sua chegada, da hora que ele desceu do carro até a partida não parou de chover por um minuto, e pra completar os três meninos acharam de adoecer (catapora), O homem tava uma pilha de nervos, e quando o guarda do parque veio avisá-lo que seu carro tinha sido roubado, ele não suportou: voltou das férias numa camisa de força.
Teve um sujeito que recebeu uma terra de herança e a terra ficou lá sem ninguém cuidar. Um dia a mulher do herdeiro resolveu conhecer a propriedade, reuniu a família, levou até o cachorro e partiu pra um final de semana na roça. Trezentos quilômetros de estrada de chão. Quando chegou no lugar não acreditou, o parente havia deixado uma ladeira de pedra que não prestava nem pra enterrar cachorro doido, não tinha nem um casebre pra passar a noite. Voltar não dava, o jeito era dormir no carro, ele, a mulher, os meninos e o cachorro... o cachorro não, na descida do carro uma cascavel deu fim no bichinho e por isso os meninos ainda choravam.O casal já estava naquela de achar motivo para brigar em tudo, mas como estava tarde resolveram dormir. Quando estavam cochilando, sentiram alguém bater no teto do carro e perguntar: "Quem é que herdou esta terra de JoãoIgnorância?". Ele respondeu cochilando: "Sou eu". O homem então identificou-se: "Eu sou Pedro Grosso, estou aqui porque jurei capar todo parente dele que aparecesse por aqui, e acho melhor o Sr. Ir logo tirando as calças porque isto é briga antiga". Só não voltou pra casa capado porque teve um infarto e o capador teve de levá-lo pro hospital, ele não ia capar um defunto. O herdeiro escapou com vida, mas hoje em sua casa é proibido falar de herança, muito menos ir em programas arrumados pela mulher.
O programa furado persegue o homem em tudo até nas aventuras perigoas, como um bonitão que vinha rodando a mulher do vizinho há muito tempo. Um dia o programa teve tudo pra dar certo, o marido saiu pra jogar, ele aproveitou a deixa e partiu pra cima. Tudo ia bem até baterem na porta: era o marido com amigos. Eles resolveram jogar ali mesmo, e quando resolviam jogar não ficavam menos de três dias apostando. O bonitão teve que ficar escondido dentro do armário dois dias. No terceiro dia não suportou e caiu de dentro do armário pro meio da sala. O coitado levou uma surra tão bem dada que até hoje ninguém sabe se o rapaz morreu de fome ou da surra. Só que quem deu a surra foi um dos amigos do marido. Este notou o amigo mais enciumado que ele e viu que tinha alguma coisa errada, já estava mais enciumado que namorado de miss, e perguntou com raiva: "Por que você tá tão retado? Eu sou o marido e já me dou por vingado". O amigo olhou pra ele e falou naturalmente: "É aquela safada a culpada, tinha jurado nunca mais trair 'a gente'". Este programa terminou em tragédia.
Ninguém escapa de uma barca furada ou um programa de índio, como queira. Ninguém pode adivinhar o que vai acontecer, mas existem programas que você sabe que não devia fazer, como: assistir jogo de solteiro e casados, ir em feijoada beneficente, brigar com a polícia, ir em festa que tem mágico, ir a show de lambada, assistir filme policial mexicano, almoçar em churrasco de candidato, discutir com bêbado, casar com herança...                                                                                

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