Nando da Costa Lima
Miquidonio tava pra baixo, a família
foi passar o mês de dezembro muito longe daqui, pra lá do Guigó, deixando-o só.
Não dava nem pra falar que era só ele e Deus, ele era ateu. Mas o homem tava
tão triste que Manéu, um dos poucos amigos que também era seu compadre,
resolveu dar uma força. Depois que a mulher deixou ele de lado, apesar de
morarem no mesmo teto com os quatro filhos, ele era tratado como um estranho.
Tanto era que não podia ter um feriado que ela se picava com os filhos, não
deixava nem o cachorro. Mas ele fez por merecer: além da cachaça ruim, era
metido a entender de tudo. Quando Manéu chegou na casa de Miquidonio um litro
de conhaque já tinha ido embora, e olha que ainda era 7 horas da manhã. Já
recebeu o amigo praguejando e falando mal da mulher por ter lhe deixado só em
pleno Natal. Não que ele se importasse com feriados religiosos, como já foi
dito, era ateu de pai e mãe. O que deixava ele retado éque a esposa ainda era
uma mulher muito vistosa e a cidade toda já comentava as constantes viagens
feitas por ela. Isto era o que mais o incomodava. Será que Magnólia tava
costurando pra fora? Se fosse isso ele já tinha até um plano pra dar um fim na
vida daquela traidora e seu amante. Mas ele não tinha certeza e ela era discretíssima,
quando estava em casa só saía para ir à igreja ou pra fazer feira. Sabendo
disso, o amigo foi logo perguntando:
–Ué Miquidonio, o que
está se passando meu amigo, uma hora dessa e você já mamou um litro de
conhaque.
E disfarçadamente fez
um comentário que irritou ainda mais o bebum:
– Você tá parecendo
que tá com ciúme, se assunte, quando uma mulher deixa de gostar do homem com
quem casou, esquece até que já deu pra ele.
Quando viu o amigo quebrar o pescoço do segundo litro de
conhaque, tentou contornar a situação:
– A cidade toda sabe que esse não é o seu caso,
dona Magnólia é uma mulher séria, só viaja nos fins de semana e feriados, isso
é normal.
Miquidonio rebateu:
– Normal como? E
aquele primo que está em todas?
– Mas Brasílico é como
se fosse um irmão, foram criados na mesma casa. Você quando conheceu Magnólia
sabia disso, tanto é que vocês colocaram o nome dos seus filhos homenageando o
primo: José Brasílico e Brasílico José. Os nomes foram até ele que escolheu.
– É cumpade, nesse
ponto você tem razão. Brasílico é tão da casa que usa até minhas cuecas.
– Então cumpade, tira
essa tristeza do rosto, faz esta barba e bota uma roupa bonita que hoje nós
vamos passar o Natal na casa de dona Rosa Bigode.
– Aí é que tá meu
amigo, o primo Brasílicoalém de tomar meu dinheiro todo emprestado ainda levou
minhas roupas pra passear em Lagoa da Pedra. Segundo ele, Magnólia gosta de
vê-lo vestindo minhas roupas, ajuda até a matar a saudade.
Aí o amigo do compadre não suportou... e soltou uma frase que
quase mata o amigo:
– Tá bom cumpade, vai
assim mesmo, não precisa nem fazer a barba, CORNO PODE TUDO!
Desse dia pra cá Miquidonio nunca mais falou com o amigo e
compadre. Brasílico quando ficou sabendo ainda deu uma surra naquele sacana que
tentou sujar o nome de Magnólia e quase pôs fim na sua amizade com o primo. E
depois desse pega pra capar o primo ficou ainda mais apaixonado, desgraçou a
escrever cartas românticas pra prima que não tinha quem suportava: "E por
essas mal traçadas linhas de um embriagado de paixão venho a ti rogar um amor
imortal nesse mundo de meros mortais...". Era uma chatice só, até o
carteiro, que tinha o mau costume de abrir correspondências,pediu demissão.
Um Feliz Natal para todos
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