'Partidos são casas de negócios', diz ex-ministra Eliana Calmon
Patrícia França - Foto: A-
Eliana
Calmon, advogada e ex-ministra do STJ
Primeira mulher a compor o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a baiana
Eliana Calmon, agora sem a toga de magistrada e exercendo a advocacia
em Brasília, ainda mantém o apartamento do Edifício Oceania, na Barra,
onde costuma ficar nos finais de semana. Foi
lá que ela conversou com A TARDE sobre a carreira, a família e revelou o prazer de cozinhar. Criticou o corporativismo no Judiciário, condenou os que atacam
a Lava Jato e os partidos, os quais definiu como “casas de negócios”.
A senhora tem um personalidade forte. Isso mais atrapalha ou ajuda?
Ajuda, sem dívida alguma. Para a sociedade brasileira, que ainda é muito
machista, o poder ainda é masculino, as mulheres que não têm
temperamento forte, elas têm mais dificuldade. Fazem de uma forma mais
delicada, menos incisiva, mais elas perdem mais tempo.
Então, acho que as mulheres de personalidade forte, na sociedade
brasileira, têm mais possibilidade de sucesso nas empreitadas.
A senhora
vem de uma geração de mulheres que teve de desbravar espaços até então
dominados por homens. Chegar onde a senhora chegou, ser mulher ainda é
um desafio?
Ainda é um desafio. Cada vez está mais fácil, mas sem dúvida nenhuma as
mulheres têm maior dificuldade de chegar ao topo do poder. Na realidade,
nós conseguimos tudo que é pra ser conseguido, inclusive na
magistratura onde se chega através de concurso, mas
no momento das escolhas as mulheres sofrem, sem duvida alguma, uma
certa desqualificação.
A senhora passou por situações parecidas?
Não passei exatamente por causa do meu temperamento. E digo sempre o
seguinte: se alguém quis me desqualificar, eu nem vi. Eu estava tão
preocupada em seguir meu caminho, que eu não me preocupei com isso. Mas,
sem dívida alguma, isso aconteceu. Por exemplo,
quando eu me candidatei a primeira vez a uma vaga para o STJ (Superior
Tribunal de Justiça), um colega meu perguntou: ‘soube que você se
candidatou a uma vaga no STJ’, e eu o indaguei: ’você tem alguma coisa
contra?’ Ele disse não, acho que você fez bem porque
para Deus nada é impossível’. Ou seja, foi uma forma de me dizer que
era impossível. E vários colegas davam risada, dizendo que era uma
tolice eu estar me candidatando porque não votavam em mulher. Eu não dei
a menor importância a isso. Fui em frente, me candidatei
e entrei na lista. Então, muitas coisas não se faz por causa desta
desqualificação, e as mulheres ficam um pouco temerosas. As próprias
mulheres me diziam que eu ia me queimar. Não me incomodei e disse que
estava na hora de eu fazer o que estava com vontade.
Numa
entrevista, a senhora declarou que sofria de enxaqueca quando casada e,
ao se separar, as dores acabaram. Para os homens, é difícil conviver com
mulheres de sucesso?
(Risos). Olha, os homens da minha geração tiveram dificuldades de
conviver com mulheres de sucesso. Porque o sucesso sempre foi masculino,
e na hora, em casa, onde tem de dividir isso, fica um pouco difícil. Eu
até dou um pouco de razão a eles, mas acho que
isso vai terminando muito na medida em que nós vamos evoluindo, e vamos
tendo cada vez mais mulheres profissionais. Isso já está acabando, mas a
minha geração sofreu muito com isso. E mais ainda: também a mulher
sofre porque ela termina carregando isso como
uma certa culpa. E eu tive isso, de carregar uma certa culpa, porque no
momento da minha ascensão profissional, o meu marido estava em declínio
na profissão dele, e para mim isso era um pouco penoso. Não precisa e
não podia ser, hoje eu tenha essa compreensão.
Mas eu digo que preconceito existe de parte a parte. E eu mesmo sofri o
meu próprio preconceito, de achar que ele era o chefe da família, ele
era o provedor que eu estava usurpando, um pouco, aquela pujança
profissional dele.
E a senhora não pensou em casar novamente?
Não. O que acontece é que, como o meu casamento não era muito bom, eu
canalizei toda a minha energia para o estudo e a profissão. E isso foi
dando certo. E na medida em que foi dando certo eu fiquei muito engajada
com esse foco. E quando a gente está focada
para uma coisa, perde para outra. Então não me preocupei mais com isso.
E não se arrepende de ter priorizado o trabalho?
Não me arrependo. Aliás eu tive muita dúvida se isso não ia ser ruim
para mim, porque quando cheguei na idade perto da aposentaria ei dizia o
seguinte: ‘eu sacrifiquei uma parte da minha vida, porque a vida de
qualquer ser humano se apoia em realizações, e
uma delas é a realização afetiva’. O homem nasceu para viver acasalado,
então, eu achei que aquilo que nunca tinha me feito falta, quando
chegasse a minha aposentaria, que eu não tivesse mais aquela energia
canalizada para o trabalho, eu ia sentir falta dessa
minha vida amorosa, afetiva. Mas não aconteceu, porque estou
continuando no foco de trabalho, do mesmíssimo jeito. Então, não está
sequer sobrando tempo para pensar nisso (nova relação).
Como boa baiana, a senhora é uma pessoa de fé? segue uma religião, tem simpatia por algum orixá?
Não. tenho uma coleção de santos antigos, mas eu os tenho como
escultura. Não como uma devoção. Em Brasília, onde moro, tenho uma
coleção que comecei com alguns santos dados por minha avó, tinha alguns
da minha bisavó, e fui comprando outros, e hoje tenho uma
coleção razoável de santos e objetos litúrgicos. E eu uso muito búzios,
aqueles balangandãs que tem todos aqueles simbolos, os peixes, as
figas, mas uso porque admiro muito essas jóias do joalheiro baiano,
Carlinhos Rodeiro, e eu gosto imensamente.
"
"O que se quer é voltar ao clima da impunidade, ou seja: quem tem colarinho branco não vai para a cadeia"
Eliana Calmon
Então, não é para afastar mau olhado?
Não.... quem afasta sou eu mesmo (gargalhada).
Nesta rotina de ponte aérea entre Brasília e Salvador, dá pra curtir a família? Como é a relação com filhos, netos......?
É adorável. Só tenho um filho e dois netos, e para mim foi uma surpresa
essa afetividade que tenho com os meus netos. Sempre tive muita ligação
com meu filho, um grande amigo, a vida inteira foi meu grande
companheiro, e antes dele casar viajávamos juntos,
somos meio aventureiros, gostamos de viagens exóticas, temos o mesmo
temperamento. Mas depois dele casado, não podia imaginar que neto fosse a
coisa mais deliciosa do mundo. De forma que os dois netos me tiram um
pouco da Bahia, eu que sempre vinha nos finais
de semana, agora com os netos eu não estou querendo vir muito porque
acaba eu me privando da convivência maior com eles. Porque eles dormem
comigo de sexta para sábado e de sábado para domingo. Nos moramos no
mesmo prédio em Brasília. É uma delícia! Eles
chegam de pijaminha (risos). Meu filho diz assim: ‘já escovaram os
dentes, já estão prontos para dormir’. Que nada! Quando chegam na minha
casa saem correndo, porque a casa é cheia de doce, bala, biscoito, tudo
que não tem na casa deles. Eles que mandam na
avó. Fazem tudo, eu digo: ‘aqui nesta casa, vocês podem fazer tudo que
quiserem’ (risos).
Eu soube que a cozinhar é o seu hobby. Publicou até um livro. Cozinhar lhe dá prazer?
Extraordinário, gosto imensamente. Sempre gostei e hoje tenho um prazer em receber meus amigos eu mesmo fazer as comidas....
E qual sua especialidade?
Agora eu estou na fase dos risotos. Já passei pela fase das comidas
baianas, hoje faço pouco porque a comida baiana é muito calórica e dá
muito trabalho. Já passei pela fase das massas. Gosto tanto de cozinha
que inclusive, tenho cozinha na sala. Esta cozinha
é extremamente prática, os amigos ficam ao redor do fogão, e são
momentos adoráveis. Digo ‘bota um vinho pra mim’, e todo mundo quer
olhar o preparo, provam a comida. É uma interação perfeita, porque
ninguém tem mais empregada residente, e quando faço os meus
jantares, eu só contrato uma pessoa para servir, porque quem está
cozinhando não pode estar servindo.
O seu livro é sobre comida baiana?
Não. Não sou uma gourmet, aquele que curte fazer as coisas difíceis, os
experimentos todos, sente prazer a partir do momento que compra os
condimentos. Não sou assim, gosto de comidas práticas, em que você tem
os ingredientes em casa, sempre. O livro, portanto,
se destinou às mulheres ocupadas, que não têm muito tempo e que, às
vezes, precisam, apresentar alguma coisa. O primeiro livro chamei
Receitas da mulher moderna e outro (depois da décima edição) chamei de
Receitas especiais e grafei como se regrafa o recurso
especial, fazendo um trocadilho, porque eu julgava os recursos
especiais mo STJ. E quando fiz 70 anos, fiz uma edição especial para
oferecer aos meus amigos.
A senhora
disputou uma vaga no Senado em 2014 pelo PSB, foi bem votada, mais de
500 mil votos, mas não se elegeu. Depois declarou que não repetiria a
experiência. A senhora
se desiludiu com a política?
Um pouco, eu sabia das dificuldades, mas as dificuldades foram maiores.
Em primeiro lugar, eu me decepcionei um pouco com os partidos políticos,
não foi com o meu partido, porque todos são assim. Eu sempre pensei que
o partido, como instituição, dava a proteção
ao candidato. Não dá. Os partidos, hoje, são casas de negócios, e são
necessários porque ninguém se candidata se não tiver um partido. Mas os
partidos, às vezes, trabalham contra o candidato, porque os partidos,
muitas vezes, mão querem que pessoas que tenham
projeção cheguem àquele partido porque ameaçam os donos da legenda.
Então são pessoas que tomam conta do partido e ficam ali, sem querer
que o partido até aumente. Isso é muito grave e precisa acabar. Em
segundo lugar, porque tive a experiência de concorrer
com candidatos do PT e eleição com o PT, funcionando como preferência, é
absolutamente desigual, em razão da quantidade de recursos que eles
dispunham. Então, eleição se ganha com dinheiro, porque é uma dinheirama
que se espalha. Agora estão tentando reverter
isso, mas esta foi minha experiência como candidata. O que eu vi pelo
interior do estado foi algo alucinante, derrame de dinheiro, compra de
voto. Eu chegava em determinado município, cujo prefeito era do meu
partido, mas ele já estava absolutamente alocada
ao PT. Então, eles sequer me recebiam, ou às vezes boicotavam o evento
que eu estava indo. Essa é a realidade. Cheguei a mandar material de
campanha e eles (prefeitos) não distribuiam. Me candidatei tendo a ideia
de que eu não ganharia as eleições. Eduardo
Campos (ex-governador de Pernambuco (PSB) e ex-candidato à presidência
morto às vésperas da eleição), me convidou (para disputar o Senado),
dizendo o seguinte: ‘não ganharemos em 2014. Em 2014 vamos cavar a
terceira via e em 2018 temos chances de ganhar. Porque
isto que o PT está fazendo não vai dar certo’. Embarquei nesse sonho,
assim como Marina Silva (vice n chapa de Campos). Então, entrei em 2014
não iludida, mas pensando que ia encontrar um ambiente que fosse mais
favorável a esta minha forma de ser, meus pensamentos.
Se eu tivesse 30 anos eu continuaria na política, que é a forma de
reverter as situações. Mas eu tenho 70 anos, não tenho mais tempo de ver
uma mudança estrutural, com a mudança da Lei Eleitoral, mudança dos
partidos políticos. Então eu disse, ao verificar
a eleição de Dilma no segundo turno, ou seja do PT, que iria voltar
para Brasília, porque vou advogar para ganhar dinheiro e tirar os meus
netos do Brasil. Estava absolutamente convencida de que aquilo não ia
dar certo e que nós íamos chegar nesse caos em
que chegamos.
A
ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, em entrevista ao programa
Roda Viva, da TV Cultura, disse que “ ética ou o caos”. Que precisamos
de transformação na sociedade,
no sentido de nos comprometermos e nos responsabilizarmos. Qual o maior
problema do Brasil?
O pior problema do Brasil é a mentira. Tudo são inverdades. Nós
construímos uma democracia, um país, um poder Judiciário, onde não
existe transparência, e tudo o que se diz é mentira. Então, não temos
segurança das coisas. Precisamos de ética para, a partir
daqui, o governo dizer as coisas que estão acontecendo. Não podemos
mais encobrir as coisas que não são reais. Um judiciário com mais de 100
milhões de processos e a gente dizer que está tudo bem? Não está tudo
bem.
A Operação Lava Jato vai nesta direção, de passar o país a limpo, de recolocá-lo na rota da ética?
Acho que a Lava Jato é um grande processo, de uma importância
fundamental. Acho, inclusive, que é um divisor de águas. Depois da Lava
Jato, nada será igual. Agora a ideia que eu tenho é que esse processo
sozinho não vai funcionar. Temos muitas coisas para funcionar
e fazer o país voltar aos trilhos. Mas é um começo importante.
Que coisas, que setores precisam funcionar?
A Lava jato foi importante porque sinalizou para a necessidade de nós
defendermos os cofres públicos. Porque, até então, a nossa preocupação
era defender o direito individual. Aliás, o Supremo sempre disse isso,
que nós temos de preservar os direitos individuais,
preservar as pessoas de bem. E quem defende o estado, quem defende os
cofres públicos? Não tinha ninguém para defender. Então a Lava Jato
está mostrando que precisa haver atenção para por um fim na impunidade
institucionalizada neste país. Agora, para se
construir a democracia, um dos pontos importantes é parar a sangria dos
cofres públicos, o que se para com a punição exemplar de quem
efetivamente avança em cima da coisa pública. Agora, precisamos de
educação, de saúde, de credibilidade. Nós brasileiros para
sermos cidadãos, precisamos acreditar nos nossos governantes. Mas nós
não acreditamos.
E as
críticas e tentativas de vários setores, na política e nos meios
jurídicos, contra a atuação do juiz Sérgio Moro, o condutor da Lava
Jato?
Eles estão muito incomodados com a aplicação da lei, e que não está
extrapolando absolutamente. As decisões de Sérgio Moro não são
absolutas, elas passam por um tribunal e passam pelo Supremo Tribunal
Federal. O que se quer é realmente voltar ao clima da impunidade.
E essas leis todas (projetos que tentam abrandar responsabilização
criminal de políticos) é para voltar o que era antes, ou seja, quem tem
colarinho branco não vai para a cadeia. E esta luta foi a mesma luta que
aconteceu na Itália, com a política de mãos
limpas. E quem está comandando esta tropa? é o Renan Calheiros
(presidente do Senado, do PMDB-AL ), que não é a pessoa mais indicada ,
porque é, sem dúvida alguma, interessado primeiro a que nós voltemos ao
estado quo anterior. (Renan responde a 12 inquéritos
no Suprema, nove deles relacionados à Lava Jato).
Em 2011,
quando a senhora foi corregedora nacional de justiça causou polêmica ao
declarar que no Judiciário existem “bandidos de toga”. Mudou alguma
coisa de lá para
cá?
Piorou! Com a falta de punição, piorou. Nós precisávamos separar as maçãs podres para preservarmos a dignidade da Justiça.
Na Bahia,
dois desembargadores e três advogados foram alvos, há duas semanas, de
condução coercitiva acusados de receber propina em causa sob julgamento
no TJ-BA. Quando
à frente da CNJ a senhora denunciou o pagamento de precatórios
indevidos nas gestões dos desembargadores Alberto Hirs e Telma Brito que
foram afastados mas voltaram à ativa. O CNJ está mais frouxo?
Eu iniciei as investigações das denúncias envolvendo Telma Brito e Hirs
por desídia no cumprimento de suas atividades, gestões muito temerárias,
tráfico de influência e uma gestão meia duvidosa em relação aos
precatórios. E principalmente, o Mário Alberto Hirs,
porque quando ele era presidente era absolutamente desidioso, não fez
nada. Quem mandava era Telma, como ela vinha fazendo as coisas erradas
ele continuou fazendo as mesmas coisas.
Mas o CNJ está mais brando com os magistrados?
Existe uma parte da magistratura que entende que não se deve punir o
juiz a não ser no último estágio, e quem tem que punir o juiz são os
próprios órgãos internos, não o CNJ, mas as corregedorias, e que isso
deve ficar sigiloso, não deve ir para as páginas
de jornal. Eu tenho um pensamento totalmente diferente. Em primeiro
lugar, entendo que o juiz é funcionário público tem de prestar
satisfação ao seus judicionados. Em segundo, as corregedorias são
incapazes de exercer as sua atividade precípua que é a correção
disciplinar de juiz, por uma questão histórica, de formação inadequada,
por uma série de circunstâncias. Aliás, o CNJ foi criado em função
disto. Do papel que as corregedorias não fazem. Em terceiro, nós estamos
na era da transparência.
Porque o judiciário resiste tanto em ser transparente, em abrir sua caixa-preta?
O Judiciário é o mais resistente (dos poderes). Não se aceita divulgar
o salário dos magistrados, como se isso fosse alguma coisa errada. Se o
magistrado está ganhando dos cofres públicos, vamos botar no jornal o
que se está ganhando. Toda vez que nós escondemos
algumas coisa é porque tem alguma coisa errada por trás. Então não há
razão para isso. Só que a remuneração dos magistrados indo paras os
jornais faz com que a gente saiba o quanto se ganha o magistrado. E com
algumas justificativas absurdas, porque o salário
é pequeno. O que é grande são os penduricalhos, como chamamos. Tem
cabimento que magistrado ganhe auxílio alimentação, auxílio moradia,
auxílio escola? Ele é diferente das outras criaturas, dos outros
brasileiros que são tão trabalhadores quanto eles? Não.
então dê um salário decente e acabe com essa hipocrisia, de que o juiz
ganha pouco. Então o poder Judiciário sempre tem a tendência de botar um
biombo na coisa. E isso não é mais possível, é preciso que as coisas
venham à tona. E tem de se assumir com o que
é, com o que faz e com o que ganha.
O
CNJ divulgou relatório em que aponta que o TJ-BA é o sétimo pior do
país em produtividade e o TRT-BA o quarto pior e cada juiz no Brasil
custa R$ 46 mil por mês aos
cofres públicos. Como explicar uma Justiça tão cara e ineficiente?
A grande questão é a gestão. E as linhas mestres da Justiça brasileira
ficassem com o CNJ, para nós termos uma identidade e uma igualdade na
forma de gerir a Justiça e também acabasse com os desmandos, porque em
muitos tribunais nós tínhamos desmandos administrativos.
Mas o CNJ, de 2005 para cá, vem tendo avanços, mas tem sofrido
retrocessos. E na gestão do ministro Lewandowski (deixou o cargo em
outubro) teve um grande retrocesso, porque o posicionamento do ministro é
no sentido de que a administração dos tribunais tem
de ficar com os seus desembargadores e não com o CNJ. E isso levou a
que o CNJ aforuxasse um pouco nas fiscalização.
Venceu o corporativismo, então?
Um corporativsmo muito forte, inclusive se avizinha a aprovação de uma
lei que colocará, de uma vez por todas, o CNJ totalmente de escanteio
que é a criação do Conselho Estadual de Justiça. Será um órgão formado
por todos os presidente dos tribunais de Justiça,
onde eles farão a triagem do que vai chegar ao CNJ. De forma que
chegará ao CNJ só o que eles quiserem.
Voltando à politica, houve um golpe parlamentar no País com o impeachment de Dilma?
De jeito nenhum, golpe é a tomada do poder de uma forma legal. E não
existe golpe constitucional. O que houve foi a retirada de uma
presidente que não estava bem, não estava gerindo o país e tentando
camuflar esta falta de gestão com atitudes que foram consideradas
gravíssimas, como por exemplo, as pedaladas fiscais. Para camuflar toda
a situação econômica e financeira do país. houve a necessidade de ela
cometer as falhas, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. E foi por
isso que ela (Dilma) foi retirada, e isso não
é golpe. As instituições estão funcionando muito bem. A retirada da
presidente através de impeachment foi com a conjugação dos dois outros
poderes, Legislativo e Judiciário, e todas as atividades, direito de
defesa, foram dados. O que há é uma situação de
visão ideológica, um grupo político foi retirado do poder e um outro
ascendeu. E isso é que está incomodando. Não estou de um lado nem do
outro. Sou uma cidadã brasileira, mas eu vejo o acompanhamento da saída
da presidente com este viés constitucional.
E o governo Temer? A senhora apoia as reformas propostas, como a da Previdência, e a PEC 241?
Sou totalmente favorável à PEC. Acho que qualquer governo tem de
estabelecer o quantitativo de gastos, não é possível não haver limites
para gastos. O Poder Judiciário quer ter a liberdade de gastar quanto
precisar. Isso não é possível, só se pode gastar aquilo
que arrecada. A PEC está corretíssima no meu entendimento e o governo
Temer está fazendo o dever de casa e bem feito. Todos os indicadores
econômicos já estão melhorando, não melhorou ainda na ponta, na
sociedade, reflexo só depois de algum tempo. Mas as bolsas
de valores, o dólar, as negociações, a forma como os governos
estrangeiros estão recebendo as ofertas de negociação com o Brasil, tudo
isso são indicadores muitos positivos de que vamos melhorar.
Não procede, então, a crítica da oposição de que os programas sociais estão ameaçados em um governo de perfil liberal?
Ainda não vi qual vem ser este perfil. Naturalmente está havendo uma
fiscalização para os desmandos destes programas sociais. A Justiça
Eleitoral acaba de pegar um sem-terra que doou milhões para uma campanha
política. Então estamos verificando que pessoas
absolutamente fora da qualificação devida estão inscritas no Minha Casa
Minha Vida. Esses programas continuam. Agora mesmo o governo liberou
uma fatia considerável para fazer o pagamento (R$ 1,1 bilhão) que estava
atrasada do Fies (programa de Financiamento
Estudantil). Então, os programas sociais continuam, só estão sendo
fiscalizados. Houve uma grita quando acabaram o Ministério da Cultura,
depois recriaram, mas estava um desmando, um absurdo em gastos e
desvios. Então, isso não pode ser considerado retrocesso.
Pelo contrário, todo e qualquer governo democrático precisa ter
funcionando os seus órgãos de controle.
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