A ROSETA E O COMETA
Jeremias Macário
Das bases espaciais, os cientistas que
brincam de desvendar os ministérios e a origem do universo, pulam, se abraçam e
festejam a lua de mel entre a roseta e o cometa cigano. Bilhões e bilhões de
dólares são gastos em naves, foguetes e cápsulas ultrassofisticados para em
breve pousar em Marte e nele bilionários fazerem viagens de passeio, veraneios
e até moradia.
Muito lindo o amor entre a roseta e o cometa
com imagens explícitas de beijos e transas com direito a longos e inesquecíveis
orgasmos dos terráqueos e dos enamorados. Tudo filmado e muitos aplausos dos
deuses cientistas para as comoventes cenas dos momentos mais íntimos. Foi um
amor à primeira vista e que seja “eterno enquanto dure”, como dizia o poeta.
Fico daqui a imaginar com meus botões o quê o
cometa deve ter dito à roseta no memorável encontro? Certamente reclamou que
estava sendo invadido em sua privacidade e que foi vítima de um beijo roubado e
forçado. Mais ainda que a casa da roseta está suja, bagunçada e cada vez mais
sujeita ao aquecimento. E quem são aqueles idiotas branquelos que batem palmas?
E a ai a roseta respondeu serem seus criadores
que nunca conseguiram criar a felicidade, o bem-estar e a igualdade social. O
diálogo não foi muito amigável quando a roseta passou a relatar os massacres e
horrores do seu pequeno planeta azul que um dia foi gelado e que agora se
derrete.
Falou das invenções, de prazeres do luxo, do
consumismo e de coisas até boas, mas, pelo conjunto da obra, o cometa não se
sentiu entusiasmado nem muito interessado em seus causos e estórias. Preferiu
dormir e continuar a viajar pelo seu universo mágico e indecifrável.
Cá embaixo, o nosso planeta terra, cada vez
mais desumano, depredado, egoísta e dividido em muralhas que separam seus povos
desiguais, pega fogo em guerras sanguinárias entre irmãos intolerantes, como na
Síria, Iraque, Ucrânia, Afeganistão e países africanos. As bombas transformaram
as cidades em ruínas, e as crianças morrem entre escombros e destroços.
Enquanto a intrusa roseta cativa o cometa com
seu traiçoeiro namoro, na África da Somália, da Nigéria, da Líbia e da Etiópia,
que sempre foi colonizada e escravizada pelos ricos do norte, as guerras e a
fome afugentam os desvalidos em correntes migratórias que tentam atravessar o
Mar Mediterrâneo. Centenas e milhares morrem nas travessias mortíferas das
águas revoltas.
Os sobreviventes vagueiam desnorteados com
seus filhos em campos de concentração e outros perambulam entre as fronteiras
cercadas de arame farpado e muros. A miséria e o sofrimento estão estampados em
seus rostos que pedem passagem e abrigo. Na terra das ciências e das tecnologiasavançadas
que fazem a roseta pousar no cometa e mantêm estações no espaço, a vida não tem
valor, apenas um número.
As grandes potências que sempre invadiram e
aniquilaram as nações mais pobres para delas extraírem suas riquezas naturais,
geraram os próprios conflitos internos e monstros entre grupos de ditadores,
rebeldes,políticos e religiosos radicais. São os mesmos países que hoje olham
com desdém o cenário de terra arrasada deixada pelos genocídios no Afeganistão,
no Iêmen, no Iraque e na Síria.
A grande Águia
predadora de garras assassinas que espalhou o veneno do ódio com seu próprio
fundamentalismo de superioridade, prepotência e arrogância, está em silêncio,
acomodada em seu ninho, como se nada tivesse feito para instigar as guerras e o
terrorismo pelo planeta aquecido que brinca de roseta e cometa.
O negócio deles é rosetar; fabricar foguetes,
drones, bombas, tanques, fuzis, metralhadoras; construir muralhas separatistas nas
fronteiras; apoiar ditadores tirânicos aliados; e propagar suas mentiras e
intrigas ocidentais capitalistas, enquanto milhões de crianças na África com
seus corpos esqueléticos morrem de fome.
As barbáries são financiadas pelos novos
hitleres e stalins dos Balcãs da década de 90 (Sérvia e Croácia), da Rússia de
Putin, dos governos norte-americanos, do ditador da Síria, do Egito e do
radical Israel que encurrala os palestinos. A mesma ciência da roseta continua
primitiva quando se faz mentora da corrida armamentista. É só lembrar as rosas
mortíferas de Hiroshima e Nagasaki.
Nenhum comentário:
Postar um comentário