sexta-feira, 14 de outubro de 2016

COLUNISTA VIP:

              UMA DEMOCRACIA SEM OPOSIÇÃO 
        É UMA DEMOCRACIA AMEAÇADA DE MORTE
Jeremias Macário
Ainda nesta semana (quinta-feira - dia 13/10) me deparei com uma cena em Vitória da Conquista de cortar o coração: Um senhor solitário de certa idade erguia numa esquina da Avenida João Pessoa, em meio ao trânsito agitado, um pedaço de papelão com dizeres onde rogava um emprego para seus quatro filhos. Não era nem um cartaz feito numa cartolina.
  Este trecho de abertura do texto parece estar fora do tema acima que proponho abordar em seguida, mas se olhar bem faz parte e encaixa no contexto e na conjuntura atual que atravessa nosso país. Confesso que a redação do artigo já estava pronta, mas entendi que o homem do papelão, talvez encontrado na rua ou em algum lugar perdido no cômodo da sua casa, merecia abrir meu comentário, e aqui vamos. 
  Como fica esta nossa democracia surrada e relativa sem uma oposição forte ao governo federal que atraiu para seu alçapão os partidos conservadores de direita que trazem no seu DNA o retrocesso contra as parcas conquistas sociais? Sem uma esquerda de respeito que faça o contraditório às ideias retrógradas, ela está ferida de morte.
  Foi neste estado enfraquecido e cambaleante que ela saiu das eleições municipais do último dia 2 de outubro quando o PT foi esmagado por causa dos seus equívocos e dos seus graves pecados capitais. Do erro de se aliar a uma cambada fedorenta do passado mofado, o povo resolveu banir o PT do mapa político, mas saiu como maior perdedor ao dar mais espaço para o avanço da extrema direita, com uma democracia sem oposição.
Como assinalou o escritor Veríssimo, no voto de desprezo pela classe política, o vencedor foi ninguém. “Ganharam força os evangélicos e os bolsonaros”. Diria mais que o pleito elegeu pastores, bispos e papas da direita enrustida. Segundo o escritor, “o que está no ar é mais que uma revolta, é uma clara desesperança com o processo eleitoral e fastio com a democracia”.
  Sem uma polarização no campo das ideias, esta democracia tende a se definhar, se curvar e a se enveredar para o fascismo das falsas doutrinas de moralismo, principalmente num país de baixo nível de instrução educacional, cultural e política. Há anos que acompanho os profetas do fundamentalismo religioso inoculando seus vírus em organismos socialmente e politicamente debilitados.
  Como numa lavagem cerebral, suas pregações insistentes floresceram, prosperaram e terminaram por sair fortalecidas nas últimas eleições municipais, tanto para os cargos no poder executivo das prefeituras como para as câmaras de vereadores. Esta força não surgiu do acaso, de um simples sopro divino do espaço, mas de um trabalho de convencimento num terreno minado de incertezas e descrédito pelas falhas dos governos passados.
  Não se iludam! Toda esta engrenagem vem sendo montada de cima para baixo, com astúcia e sagacidade. No início não se dava importância ao Baixo Clero e até era motivo de chacota, mas ele foi se agigantando e tomando seus pontos estratégicos no Congresso Nacional, como foi o caso do Eduardo Cunha e sua tropa que permanece na ativa. 
  Das suas minúsculas bancadas rurais, do boi, da bala e, sobretudo, dos evangélicos, com os velhos slogans integralistas de família, pátria e tradição com Deus, encrustados nos pequenos partidos, aproveitaram o momento mais grave da nação para colocar suas unhas de fora. Eles são filhos e uma mistura do tempo do Estado Novo getulista com a ditadura civil militar de 1964.
  Estes gaviões da moral estavam de olho em suas presas para o momento certo do bote. O chão propício e fértil que fez acelerar este crescimento foi justamente a estúpida crise política, moral e ética que colocou o país de joelhos diante da real situação, quando, então, o brasileiro perdeu sua autoestima e deixou de acreditar de vez em suas instituições.
  “O nós contra eles” encheu mais ainda os corações de ódio e intolerância, e o eles embarcou de cabeça na ideologia do bota fora. Pelo conjunto da sua obra, o impeachment de Dilma foi o estopim de tudo. O nazismo fez prosperar seu nacionalismo social exatamente pegando uma Alemanha falida e humilhada. No fascismo italiano de Mussolini não foi diferente.
Hoje estes falsos profetas da moral cristã estão por aí nas suas ruas, nos bairros, nas câmaras de vereadores, nas assembleias estaduais e até no topo da pirâmide governamental como líderes parlamentares, chefes de secretarias e de ministérios. Este caminho da extrema direita vem sendo aplainado há anos a partir da lacuna social deixada pelo Estado que jogou o cidadão para escanteio, principalmente na área da educação.
  O PT nasceu e cresceu pregando seus princípios de ética, honestidade e valorização do ser humano. Fez aguerrida oposição ao PSDB de Fernando Henrique Cardoso e chegou ao poder. Para se perpetuar para sempre no governo fez alianças que antes não concebia e seus ninjas se enrolaram nas armadilhas do capital, achando possível assim distribuir a renda, desde que ficasse com a maior parte dela. Acontece que a elite burguesa e financeira nunca aceitou repartir seus lucros ou ter perdas.
  A direita extremada e fisiológica aproveitou o vácuo deixado pela monstruosidade da corrupção e atraiu para si uma massa ferida pelos escândalos e pelos desmandos. Com a crise econômica da inflação alta e o desemprego destruidor das famílias, tornou-se mais fácil a adesão ideológica do bota fora. Especialmente nestas horas, o pensar e o refletir político não são os fortes. 
  As manifestações já apontavam suas lanças diretas para as eleições municipais. Os sinais de aniquilamento do partido estavam claros. Com o PMDB do mordomo Temer, o PSDB que era o oponente fraco do PT, passou a ser situação, mas com seus dentes afiados nos cardeais de amarelo e verde.
  Enquanto na Europa fala-se no fim da austeridade fiscal, mesmo com o crescimento dos partidos de direita do tipo Trump, nos Estados Unidos, que rejeitam os imigrantes de guerras insanas provocadas por eles mesmos, no Brasil de Temer o aperto só está começando.
  Como presente de grego, o povo ficou com um saco pesado de partidos de variados blocos conservadores e uma democracia sem oposição de credibilidade contra o governo vigente do PMDB que até há pouco tempo era coligado do PT. O quê será dessa democracia, mais uma vez em mãos de aventureiros inclinados à opressão, não somente das liberdades? O quê restou disso tudo para nós mortais? 

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