Uma má comparação
Carlos Albán González - jornalista
Com a
arrogância que tem caracterizado suas atitudes à frente, desde 1995, do Comitê
Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman tem procurado, nos contatos com
a imprensa, atribuir à sua gestão, o que ele chama de sucesso, o desempenho dos
nossos atletas nos XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna. Vaidoso, o
vitalício dirigente faz planos de continuar no cargo até 2024, deixando bem
claro que não concorda com o projeto de lei que limita o mandato nas entidades
esportivas. “Eu não vejo ninguém mais preparado para ocupar meu lugar, embora
não me considere insubstituível”, afirma, sem querer revelar quais são suas
fontes de renda.
A meta
do Brasil de ficar entre os dez primeiros no quadro de medalhas da Rio 2016 não
foi alcançada. Para Nuzman, isso não importa. Depois das competições, o que
mais tem abalado seu estado nervoso é tentar mostrar para seus críticos que o
12º lugar (sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze) conquistado
foi “o resultado de sete anos de luta e trabalho, mas valeu a pena cada
segundo, cada minuto, cada dia e cada ano”.
Um dos
argumentos de Nuzman na defesa de sua fantasiosa tese foi a de comparar o
desempenho, nas arenas cariocas, dos atletas brasileiros com o dos espanhóis.
Meu caro presidente, a Espanha (área de 505.954 km² e população de 46,77
milhões de habitantes), que ficou uma posição abaixo do Brasil, também com sete
medalhas douradas, nunca teve a pretensão de se tornar uma potência olímpica.
Ao passo que, o nosso país (área de 8,5 milhões/km²; litoral com 7.491 km;
população de 206 milhões de habitantes), na voz do COB, levou o brasileiro a
crer que os bilhões de reais injetados pela União, pelas estatais e pela
iniciativa privada, somados ao vibrante incentivo da torcida, alvo da revolta
dos adversários, iria dourar o nosso ego.
Na condição de dirigente esportivo premiado com a
vitaliciedade, Nuzman deve ter boas lembranças dos Jogos de Barcelona,
pelo fato de terem servido de modelo para futuros eventos olímpicos. No
terreno esportivo não ocorreram feitos extraordinários – a Espanha ficou em 6º
lugar, com 22 medalhas, sendo 13 de ouro; o Brasil foi o 25º, com dois ouros (o
judoca Aurélio Miguel e o vôlei masculino) e uma prata (o nadador Gustavo
Borges).
A grande vitória, na verdade, não foi conquistada nas
pistas, quadras ou piscinas. Foi uma vitória de toda Barcelona, que se tornou
conhecida mundialmente. Sua transformação se deu, principalmente, na
infraestrutura, pois o megaevento deixou um legado de benefícios para o
barcelonense. A prosperidade e a modernidade expandiram-se para bairros
periféricos. A zona portuária, antes decadente, hoje é um badalado centro de
vida noturna e cultural.
Num roteiro turístico e cultural por Barcelona
estão incluídas, entre outras atrações, museus e monumentos; as obras de Gaudí,
Picasso, Salvador Dalí e Miró; passeios pelas Ramblas e praias do Mediterrâneo;
e um jogo do Barça, no Camp Nou, com visita ao valioso patrimônio do clube
orgulho do torcedor catalão.
A segunda mais importante cidade espanhola, antes escondida no interior
da Espanha, abrigava uma gente que ainda se recuperava das feridas deixadas
pela ditadura franquista, e que não via com bons olhos o estrangeiro. Ganhou notoriedade
e valorizou-se após os Jogos de 1992, tornando-se um dos principais destinos
turísticos do mundo. No ano passado, Barcelona recebeu 8.303.609 visitantes. No
mesmo período, as 5.570 cidades brasileiras acolheram pouco mais de 6 milhões
de turistas.
Fechado o caixa das Olimpíadas, em julho de 1993,
apurou-se um superavit de US$ 1,638 bilhão. Os gastos apresentados pelo Comitê
Organizador somaram US$ 1,635 bilhão.
Passado
o clima de euforia, Carlos Nuzman, que presidiu o Comitê Rio-2016, terá
uma preocupação a mais: explicar aos órgãos fiscalizadores o destino dado aos
bilhões de reais injetados nos Jogos, e os apelos por mais recursos para
"salvar" a Paraolimpíada (7 a 18 de setembro).
Na
avaliação de Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU),
encarregado de fiscalizar o uso de recursos públicos na Olimpíada, é
"falta de planejamento, já que os organizadores reiteraram, ao longo dos
preparativos, que usariam somente recursos privados e agora há cada vez mais
aplicação de dinheiro público".
Em
entrevista à imprensa, Nardes garantiu que o TCU pressiona para que todas as
contas do Comitê Rio-2016 sejam divulgadas, revelando que há 30 auditorias em
curso relacionadas ao uso de verbas públicas nos Jogos, nas áreas de segurança,
ambiente, infraestrutura e legado. “Portanto, - acrescentou - tem
que haver transparência em todo o conjunto. As isenções fiscais também são uma
decisão política. Foi uma decisão que o ex-presidente Lula e a presidente
afastada Dilma Rousseff tomaram lá atrás. Não cabe a mim comentar isso, mas
somente verificar se a aplicação dos recursos foi correta ou não".
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