sexta-feira, 2 de setembro de 2016

COLUNISTA VIP:

Uma má comparação
Carlos Albán González - jornalista 

Com a arrogância que tem caracterizado suas atitudes à frente, desde 1995, do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman tem procurado, nos contatos com a imprensa, atribuir à sua gestão, o que ele chama de sucesso, o desempenho dos nossos atletas nos XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna. Vaidoso, o vitalício dirigente faz planos de continuar no cargo até 2024, deixando bem claro que não concorda com o projeto de lei que limita o mandato nas entidades esportivas. “Eu não vejo ninguém mais preparado para ocupar meu lugar, embora não me considere insubstituível”, afirma, sem querer revelar quais são suas fontes de renda.

A meta do Brasil de ficar entre os dez primeiros no quadro de medalhas da Rio 2016 não foi alcançada. Para Nuzman, isso não importa. Depois das competições, o que mais tem abalado seu estado nervoso é tentar mostrar para seus críticos que o 12º lugar (sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze) conquistado foi “o resultado de sete anos de luta e trabalho, mas valeu a pena cada segundo, cada minuto, cada dia e cada ano”.

Um dos argumentos de Nuzman na defesa de sua fantasiosa tese foi a de comparar o desempenho, nas arenas cariocas, dos atletas brasileiros com o dos espanhóis. Meu caro presidente, a Espanha (área de 505.954 km² e população de 46,77 milhões de habitantes), que ficou uma posição abaixo do Brasil, também com sete medalhas douradas, nunca teve a pretensão de se tornar uma potência olímpica. Ao passo que, o nosso país (área de 8,5 milhões/km²; litoral com 7.491 km; população de 206 milhões de habitantes), na voz do COB, levou o brasileiro a crer que os bilhões de reais injetados pela União, pelas estatais e pela iniciativa privada, somados ao vibrante incentivo da torcida, alvo da revolta dos adversários, iria dourar o nosso ego.

Na condição de dirigente esportivo premiado com a vitaliciedade, Nuzman deve ter boas lembranças dos  Jogos de Barcelona,  pelo fato de terem servido de modelo para futuros eventos olímpicos. No terreno esportivo não ocorreram feitos extraordinários – a Espanha ficou em 6º lugar, com 22 medalhas, sendo 13 de ouro; o Brasil foi o 25º, com dois ouros (o judoca Aurélio Miguel e o vôlei masculino) e uma prata (o nadador Gustavo Borges).

A grande vitória, na verdade, não foi conquistada nas pistas, quadras ou piscinas. Foi uma vitória de toda Barcelona, que se tornou conhecida mundialmente. Sua transformação se deu, principalmente, na infraestrutura, pois o megaevento deixou um legado de benefícios para o barcelonense. A prosperidade e a modernidade expandiram-se para bairros periféricos. A zona portuária, antes decadente, hoje é um badalado centro de vida noturna e cultural.

Num roteiro turístico e cultural por Barcelona estão incluídas, entre outras atrações, museus e monumentos; as obras de Gaudí, Picasso, Salvador Dalí e Miró; passeios pelas Ramblas e praias do Mediterrâneo; e um jogo do Barça, no Camp Nou, com visita ao valioso patrimônio do clube orgulho do torcedor catalão.

A segunda mais importante cidade espanhola, antes escondida no interior da Espanha, abrigava uma gente que ainda se recuperava das feridas deixadas pela ditadura franquista, e que não via com bons olhos o estrangeiro. Ganhou notoriedade e valorizou-se após os Jogos de 1992, tornando-se um dos principais destinos turísticos do mundo. No ano passado, Barcelona recebeu 8.303.609 visitantes. No mesmo período, as 5.570 cidades brasileiras acolheram pouco mais de 6 milhões de turistas.

Fechado o caixa das Olimpíadas, em julho de 1993, apurou-se um superavit de US$ 1,638 bilhão. Os gastos apresentados pelo Comitê Organizador somaram US$ 1,635 bilhão. 
Passado o clima de euforia,  Carlos Nuzman, que presidiu o Comitê Rio-2016, terá uma preocupação a mais: explicar aos órgãos fiscalizadores o destino dado aos bilhões de reais injetados nos Jogos, e os apelos por mais recursos para "salvar" a Paraolimpíada (7 a 18 de setembro). 

Na avaliação de Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), encarregado de fiscalizar o uso de recursos públicos na Olimpíada, é "falta de planejamento, já que os organizadores reiteraram, ao longo dos preparativos, que usariam somente recursos privados e agora há cada vez mais aplicação de dinheiro público".

Em entrevista à imprensa, Nardes garantiu que o TCU pressiona para que todas as contas do Comitê Rio-2016 sejam divulgadas, revelando que há 30 auditorias em curso relacionadas ao uso de verbas públicas nos Jogos, nas áreas de segurança, ambiente, infraestrutura e legado. “Portanto, - acrescentou -  tem que haver transparência em todo o conjunto. As isenções fiscais também são uma decisão política. Foi uma decisão que o ex-presidente Lula e a presidente afastada Dilma Rousseff tomaram lá atrás. Não cabe a mim comentar isso, mas somente verificar se a aplicação dos recursos foi correta ou não".

Com referência ao legado dos Jogos, Nardes defende a implantação de uma política nacional de apoio ao esporte no Brasil, que não está estabelecida ainda, apesar de a lei prever isso há 13 anos.

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