UM AGRADO DOS 16 HIPÓCRITAS DO SENADO
Jeremias Macário
Ninguém tem mais dúvida
de que a votação pelo impeachment de Dilma foi eminentemente política (pelo
conjunto da obra) e a história já pode imprimir este capítulo. Este fato ficou
bem evidente e confirmado no final da sessão do Senado (Destaque de Votação em
Separado) quando decidiram dividir o processo do afastamento e o da
inelegibilidade da presidente, passando por cima da Constituição.
O ato denota que, com dor de consciência, os
16 hipócritas (61 pelo sim do impeachment e 42 pela inelegibilidade na segunda
etapa da votação, com três abstenções), puxados pelo hipócrita-mor, Renan
Calheiros, quiseram simplesmente fazer um agrado à ex-presidente. Na verdade,
os mesmos vampiros que morderam, depois assopraram. Foi como assinar embaixo
que não houve crime que justificasse a cassação.
Ora, reza a Constituição que consumado o
impeachment, o presidente da República fica automaticamente inelegível (perda
dos direitos políticos por oito anos). Dito isto, por questão de coerência do
voto, coisa que eles jogaram no lixo há muito tempo, os senadores não tinham
mais que abrir brecha esdrúxula e casuística, ou precedente, para dar uma de
bonzinhos e de peninha da julgada.
Não vou entrar aqui no mérito da questão dos
equívocos cometidos pelo Governo do PT desde o segundo mandato do ex-presidente
Lula, com o Mensalão, Petrolão, indicação de Dilma e as alianças com as piores
figuras mais diabólicas da República, erros estes que levaram ao desfecho do
dia 31 de agosto (olha aí o mês agourento!). No entanto, a atitude final do
Senado (da Câmara também) foi uma tremenda molecagem de moleques vadios de ponta
de rua. Ah, isto foi!
A emenda final de preservar os direitos
políticos da ex-presidente foi digna do processo circense mambembe tupiniquim
começado lá atrás pela maior excrecência abortada pela política brasileira que
foi o Eduardo Cunha, capaz de ainda se livrar da cassação do mandato. O The End
foi de um tremendo cinismo de mau caráter, tamanho daquele onde o torturador assassino
paga o funeral e vai ao velório da vítima.
Na verdade, a vontade dos 428 votantes (367
da Câmara e 61 do Senado) dos 594 políticos do Congresso Nacional (513 da
Câmara e 81 do Senado) não foi de tirar a presidente do poder, mas expulsar o
PT do governo. Para uns foi um teatro burlesco e para outros um tribunal de
exceção e até um processo kafkiano surgido das densas trevas do Congresso.
O agrado feito já
constitui hábito de quem sempre adotou a política do clientelismo, das
negociatas e das propinas. Dos bajuladores que hoje estão apoiando Michel
Temer, nove ex-ministros de Dilma votaram no julgamento final do impeachment. A
maioria decidiu pela cassação de sua ex-aliada. Nisso tudo, cadê a posição da
Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB). Silêncio total! Dos bons?
“PÉROLAS” DO
IMPEACHMENT
Desde a votação da Câmara onde os deputados
apelaram para esposas, filhos, mães, pais, torturador e até marido ladrão e
bandido, ficando apenas de fora gatos e cachorros, confesso que me sinto
envergonhado e enojado com esse Congresso Nacional que diz nos representar, o
qual o próprio Renan Calheiros se encarregou de chamar de “hospício”, uma das
“pérolas” do processo. Acrescentaria que se trata de Casa dos Horrores.
Foram muitas as “pérolas” vomitadas pelos
congressistas durante os discursos e discussões agressivos com palavras de baixo
nível no processo do impeachment, como “forças do obscurantismo, dos
escravocratas, da mídia que envenena a mente, da ditadura dos meios de
comunicação” – ditas pela senadora Gleise Hoffmann. Ela mesma que tem o marido
indiciado por desvio de dinheiro indagou: Qual moral tem os senhores para
condenar a presidente? “Ninguém aqui tem moral”.
“As senhoras e os senhores estão preparados
para a guerra civil? Não? Entrincheirem-se, porque o conflito é inevitável” - retrucou
o senador Roberto Requião em seu discurso. “Canalhas, canalhas, canalhas,
canalhas”!- bradou o senador Lindberg Farias, repetindo as palavras de Tancredo
Neves dirigidas ao presidente do Congresso, Auro Soares de Moura, em 1964,quando
decretou vacância do presidente da República Jango Goulart, mesmo estando ainda
no país. “Canalhas são aqueles que assaltaram a Petrobrás”, respondeu o conservador Ronaldo Caiado.
Diante de tantas tentativas de convencimentos
entre acusação e defesa, sabendo de antemão que ninguém ia mudar seu voto, o
senador José Medeiros disse que tudo ali não passava de “conversa de bêbado com
delegado”.
A radical e intempestiva advogada Janaina
Paschoal teve o desplante de afirmar que sofreu por pedir o impeachment da
primeira presidente mulher do Brasil. “Fiz isso pensando também nos netos
dela”. É, ou não é patético? Ainda chorou diante das câmaras!
“Às vezes acontece assim com os acusadores,
subitamente têm uma crise de consciência, mas não conseguem com ela eliminar a
injustiça do seu golpe” - respondeu o advogado de defesa e ex-ministro da
Justiça, José Eduardo Cardoso.
“Show dos horrores” – assim classificou a
senadora Vanessa Grazziotin, referindo-se à sessão da Câmara dos Deputados que
acolheu o pedido de afastamento da presidente Dilma. “Me recuso a fazer parte
dessa farsa” – destacou a senadora baiana Lídice da Mata.
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