Presidente do Senado critica fala de Ernesto Araújo contra Kátia Abreu e diz que política externa é 'capenga'
BRASÍLIA - O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), criticou durante a noite deste domingo a publicação feita mais cedo em rede social pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na qual ele ataca a senadora Kátia Abreu (PP-TO). Na mensagem, o chanceler sugere que a pressão do Congresso por sua demissão deve-se a interesses relativos à participação da empresa chinesa Huawei como fornecedora de equipamentos da tecnologia 5G e não à obtenção de vacinas. Pacheco afirmou ter externado na semana passada a avaliação do Congresso ao presidente Jair Bolsonaro de que a política externa brasileira está "capenga".
— Recebi com perplexidade, com indignação e uma certeza. A certeza de que enquanto há pessoas nessa pandemia imbuídas com o proposto de somar, há pessoas no entorno dele que visam constantemente desagregar. É o caso do ministro Ernesto. Há constantemente a necessidade de criar fatos políticos para sombrear ou estabelecer uma cortina de fumaça sobre coisas sérias que acontecem no Brasil (...) Recebemos esse ataque a senadora como um ataque a todo o Senado Federal — afirmou Pacheco, em entrevista à GloboNews.
O parlamentar negou que tenha feito um pedido de demissão do ministro a Bolsonaro. Pacheco disse que é papel do Congresso fiscalizar a atuação dos ministérios e que transmitiu ao presidente apenas a avaliação crítica dos parlamentares ao trabalho da diplomacia neste momento.
— Em relação ao ministro e ao ministério das Relações Exteriores, eu apontei ao presidente o que é o entendimento amplamente majoritário do Senado Federal, de que a política externa do Brasil não é boa, é uma política falha, capenga, que precisa ser corrigida a bem do nosso país.
Mais cedo, em suas redes sociais, o presidente do Senado tinha descrito a publicação do chanceler como um "desserviço" ao país.
"A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal .E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao país", escreveu Pacheco.
Outros parlamentares foram para as redes sociais se solidarizar com Kátia Abreu. O presidente da CCJ, Davi Alcolumbre, afirmou que o ataque é um desrespeito ao Senado e um ato contra a tradição da diplomacia brasileira:
"Meu incondicional apoio à presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu. A insinuação irresponsável por parte de um ministro não é somente um desrespeito ao Senado Federal. É um ato contra todos que constroem a longa e honrosa tradição da diplomacia brasileira", declarou Alcolumbre.
O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), lamentou a publicação do chanceler: "No momento em que há um grande esforço para a pacificação e o entendimento, lamento muito que justamente o responsável por nossa diplomacia venha a criar mais um contencioso político para as instituições. O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso".
Em nota, a senadora Kátia Abreu reagiu dizendo que o Brasil "não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal", defendeu a demissão do ministro e afirmou que "é uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade".
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