Teich não deixou de cutucar Bolsonaro

E foi breve, assim como sua passagem pela pasta. Enquanto Moro e Mandetta preferiram estender-se por cerca de meia hora, o ex-ministro demorou apenas 7 minutos para dar seu recado. As atenuâncias começaram em sua mensagem principal: união e responsabilidade compartilhada com estados e municípios frente ao novo coronavírus.
Ao falar em “tripartite”, Teich escolhe a forma mais polida para dizer que não cabe somente ao governo federal determinar os rumos da nação no combate à Covid-19. No mesmo trecho, Teich diz que o Ministério da Saúde - com ou sem ele no comando - vê como “absolutamente verdadeiro e essencial” a união com os demais entes dos estados e municípios para “conduzir a saúde desse país”.
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As falas conciliadoras acontecem na mesma semana em que o presidente, em uma teleconferência com empresários, disse que é “guerra” e que o empresariado precisa “jogar pesado” com os governadores. Desde o agravamento da pandemia, Bolsonaro tem travado uma verdadeira batalha judicial com governadores na tentativa de flexibilizar as medidas de isolamento.
PLANO A SER SEGUIDO
Mesmo abrindo seu discurso com o “escolhi sair” - indicando que a fritura e os atritos com Bolsonaro atingiram seu ápice -, Teich diz ter plantado seu legado de 29 dias no ministério ao deixar pronto um plano de trabalho a ser seguido.Novamente, invoca a presença dos dois algozes do presidente durante a pandemia: estados e municípios, ao afirmar que deixou indicado para esses quais serão as ponderações a serem avaliadas neste momento e que poderão ajudar no entedimento da atual situação e na tomada de decisão daqui pra frente.
A alfinetada aqui de Teich é mais sutil que a anterior.
O ex-ministro sai, mas deixa o recado para quem fica e para quem esse plano se destina a permanecer conduzindo o trabalho da pasta e de suas gestões na mesma linha: manter-se contra a flexibilização do isolamento social neste momento.
E é bem provável que, em seu plano deixado aos governadores e prefeitos, os índices do crescimento exponencial no número de casos e mortes apontem na mesma direção. Sem alarde, Teich parece colocar uma pedra no caminho do presidente rumo ao “retorno à normalidade”.
FOCO NA COVID
Oncologista que é, Teich alertou sobre a necessidede de manter-se atento à amplitude do SUS (Sistema Único de Saúde) no que diz respeito ao tratamento das demais doenças, mas pediu “foco total” na Covid-19. Não haveria período mais propício para o pedido de Teich. A semana começou e terminou com o foco na política do Planalto, e nas suas consequências.Falou-se em vídeo de reunião ministerial; falou-se em inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) de interferência política na PF; falou-se em ‘PF e não Polícia Federal’; falou-se em Alexandres, de Moraes e Ramagem; falou-se em briga e namoro reatado com Rodrigo Maia. Até quando foi-se falar em Covid, era a respeito dos exames de Bolsonaro.
Isso tudo em uma semana em que as atualizações dos boletins diários trouxeram um novo recorde de mortes - 881 óbitos, no dia 12 - e em novo recorde de casos confirmados - 13.944 infectados, no dia 14 - em um intervalo de 24 horas.
Apesar do infeliz domínio nos noticiários, a Covid encontrou no Brasil alguém com quem tem que dividir seu protagonismo.
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