No Cine Madrigal
Nando da Costa Lima
Eu estava matutando no passado de minha Conquista e acabei
descobrindo que nós nunca tivemos um lugar fixo para ter saudade, cada
geração teve seu ponto de encontro, e isto vem de muito tempo, desde o
Gato Preto até a Praça do Gil. Teve um tempo que a grande onda da
rapaziada da terra dos mongoiós era ficar sentado na curvinha do amor,
ali aconteceram grandes flertes (paqueras). Todo “playboy” que se
prezasse tinha que ficar pelo menos uma hora por dia plantado na
curvinha do amor que nada mais era que uma das esquinas do Jardim das
Borboletas (Hoje Tancredo Neves), onde Aurelino vendia o seu famoso
acarajé. Este ponto teve vida curta!.. Outro lugar que marcou época foi
a alameda Ramiro Santos, não sei porque o pessoal achou de fazer dali
uma passarela, era de segunda a sexta depois das seis horas. Muito
sapato “Motinha” foi gasto subindo e descendo aquela alameda como se
estivesse procurando alguma coisa…, o movimento acabava rápido como
começava…, talvez até querendo alertar que a vida era bem mais que
aquilo… Muito tempo depois o pessoal começou a frequentar a Praça do
Gil, eu até falei na época que a pracinha lembrava uma adolescente
provinciana pronta a se soltar ao primeiro acorde de um trio elétrico.
Não sei porque a pracinha se apagou de uma hora para outra. Talvez
devido ao crescimento da cidade.Mas o que marcou mesmo toda minha geração foi a primeira sessão do Cine Madrigal. Segundo o Aurélio, Madrigal quer dizer “Galanteio”, e apesar de quase ninguém saber disso, o cinema era usado como um verdadeiro salão de galanteio, mas tudo na maior pureza do mundo! A gente passava a semana toda ensaiando a possível cantada que ia dar na “menina” na primeira sessão do Madrigal, era concorridíssima! O pessoal de sapato novo fazia questão de chegar mais cedo para sentar na primeira fileira e exibir o “cavalo de aço” com mais “naturalidade”. A mistura de perfumes impregnava o salão, ficava um cheiro enjoativo…, mas aos olhos do adolescente magrelo e desengonçado, tudo era lindo…! Principalmente naquele domingo que ele, depois de muito tempo criando coragem, conseguiu marcar um encontro com a menina que há meses vinha lhe tirando o sossego, estava nervosíssimo…, foi o primeiro a chegar, sentou-se na primeira fila e ficou esperando com o coração na mão…, ela chegou atrasada, o filme já tinha começado, imaginei que fosse por timidez! Entrou tateando segurando a mão de uma amiga, por coincidência sentou-se ao meu lado, meu coração quase saiu pela boca, tava mais emocionado que vereador quando recebe abraço de governador. Pensando que ela estava me enxergando quase me manifestei…, só não o fiz porque antes da minha tentativa ela cutucou a amiga e falou confidencialmente: “Tomara que aquele magrelo cabeçudo não me encontre, se ele sentar perto de mim eu vou embora”. Saí despistando pra não ser notado, fiquei tão traumatizado que só fui arranjar uma namorada dois anos depois, e por obra do destino foi no Cine Madrigal…
Em memória do Sr. Nivaldo Araújo


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