CARTA A RICARDO DE BENEDICTIS:
Prezado companheiro:
Como
faço diariamente li hoje o seu blog. Para minha surpresa, numa série de
notícias, que levam sua assinatura, surpreendi-me com inverdades
atribuídas à Espanha, país que me acolheu como filho, por causa dos meus
antepassados, nascidos na Galicia.
Uma
das nações mais democráticas do mundo, a Espanha, desde o fim do regime
ditatorial franquista, em 1975, o governo parlamentarista tem sido
ocupado por membros dos partidos PSOE e PP. Se o primeiro-ministro perde
a confiança do Parlamento, novas eleições são convocadas, o que
dificulta a disseminação da corrupção, a pior doença do Brasil. O
governo espanhol, com certeza, não é um covil de ladrões e assassinos. A
máfia siciliana e Berlusconi não são produtos espanhóis.
Classificar
a história da Espanha como "sangrenta e nojenta" foi um exagero
(desculpe-me). Voltando a um passado mais distante, reporto-me às
grandes navegações espanholas no século XV, que resultaram, entre
outros feitos, com a descoberta da América. Admito que comunidades
indígenas foram dizimadas em terras das Américas do Sul e Central,
enquanto no Brasil, desde o desembarque de Cabral, nossas riquezas
começaram a ser enviadas para Portugal, e como os índios não se
mostravam dispostos a trabalhar, os portugueses escravizaram homens e
mulheres trazidos da África.
Na
chamada "colonização" - o termo próprio seria escravidão - dos países
africanos pela Europa Ocidental, a Espanha esteve apenas no Marrocos, um
dos poucos países do Continente Negro que não conhece hoje a fome, a
pobreza, as ditaduras sanguinárias, a corrupção e as levas
migratórias.
A História mais
recente mostra que o ditador espanhol Francisco Franco apoiou Adolf
Hitler na louca aventura de conquistar o mundo, mas não enviou um
soldado para a frente de batalha, livrando o país de ser bombardeado
pelos aliados. Seu vizinho Benito Mussolini preferiu acreditar no sonho
nazista, resultando em vilas e cidades italianas arrasadas pelas bombas
inimigas e milhões de civis e militares mortos.
Concluindo,
meu caro, gostaria que você tivesse uma outra visão da Espanha. Está em
tempo de fazer o reparo. Desculpe ter tomado o seu tempo.
Tengo sangre español, muy caliente.
Abraços, Carlos Albán González.
Caro González:
Quando refiro-me à Espanha, não tenho intenção de atacar seu povo. Dê-me um tempo para responder sua amável carta. Em relação a Benito - Il Ducce e Berlusconi, destes, nem os italianos gostam, muito menos eu que sou um democrata. Não esqueça da origem espanhola (que é romana). Depois falo com mais vagar sobre os aspectos mais agudos da sua amável missiva. 'Non se vá!', caríssimo amigo. Estaremos em Dezinho às 10:30. Até lá.
Ricardo De Benedictis
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