Carlos González - jornalista

A insólita notícia teve
origem na Câmara de Dirigentes Lojistas
(CDL), depois que a organização dos
festejos já havia divulgado toda a programação, aprovada pelas secretarias
municipais de Cultura, Mobilidade Urbana, Serviços Públicos e Saúde, além da
Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Conselho Tutelar. O prefeito Herzem
Gusmão, inclusive, assinou decreto suspendendo os trabalhos nos órgãos
municipais, de sexta-feira desta semana até o meio-dia da Quarta-Feira de Cinzas.
O fedor do xixi deixado nas
ruas por foliões que desconhecem as mais elementares regras de civilidade foi o
motivo alegado pela CDL, em ofícios enviados ao prefeito e à Secretaria de
Cultura, que, sem contestação, acataram o pedido. Alegou o órgão classista que
o mau cheiro perdura por vários dias, causando aborrecimentos para lojistas e
consumidores, mesmo reconhecendo que a prefeitura disponibiliza sanitários
químicos e promove a lavagem das ruas com jatos de água e produtos de higiene.
A sra. Sheila Lemos Andrade,
presidente da CDL, deveria estar preocupada com as quedas nas vendas do
Comércio, cujo movimento estará paralisado durante quatro dias.
Nos últimos
anos, com a recessão da economia, muitas lojas têm fechado suas portas.Por acaso, os donos e
empregados das refinadas lojas do Boulevard Shopping estão imunes ao mau cheiro
do xixi? E os consumidores das lanchonetes e restaurantes da praça da
alimentação?
“O carnaval democrático,
feito pelo povo e para o povo”, segundo seu organizador, Odilon Alves Júnior,
vai dispor de mais segurança e mais espaço no estacionamento de um shopping.
Sem querer criar áreas de atrito, ponderou que a Praça da Bandeira já estava
pequena para o número de participantes dos festejos de Momo. Essa não é a opinião
da maioria da população, o que, certamente, vai elevar os índices de rejeição
do prefeito.
Gostaria de fazer alguns
questionamentos ao prefeito Herzem Gusmão e a sua secretária de Cultura
Cristina Rocha: como a prefeitura vai se posicionar se alguma entidade se opor ao
desfile pelas ruas da cidade da “Marcha com Jesus”, acompanhada por milhares de
religiosos, animados por trios elétricos? E com relação aos desinibidos participantes
da “Parada Gay”?
Para subsidiar esse
comentário lembro que o carnaval de Salvador dura praticamente uma semana, com
prejuízos para os comerciantes dos Circuitos Dodô (Barra - Ondina) e Osmar
(Campo Grande – Praça Municipal).
Olinda, que faz um dos mais
concorridos carnavais do país, ficaria sem os festejos se o prefeito local
proibisse o desfile dos maracatus, blocos de frevo e dos bonecos gigantes pelas
ladeiras estreitas, onde reside uma parcela considerável da população da
histórica cidade pernambucana.
Evangélico, o prefeito do
Rio de Janeiro, o ultraconservador Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja
Universal, não esconde que, se pudesse, acabaria com o badalado carnaval
carioca. Como não tem esse poder reduz substancialmente as verbas destinadas às
escolas de samba, coloca à venda o camarote da prefeitura no Sambódromo e viaja
para o exterior.
Finalizo, confessando que
não tenho nenhuma simpatia pelo carnaval de Salvador. O carnaval do axé, dos
camarotes luxuosos, dos que podem pagar por um abadá, dos blocos de corda e dos
discriminados “foliões pipoca”. Saudosista, recordo do tempo em que o circuito
da festa se limitava à Avenida Sete, que o Hino do Bahia era a música mais
executada pelos trios elétricos, e dos
bailes do Clube Espanhol, cuja sede era na Vitória.
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