domingo, 9 de setembro de 2018

NANDO DA COSTA LIMA - COLUNISTA VIP:



Melhoral, Melhoral
   Nanda da Costa Lima
       Foi no dia onze de março de 1926, a cidade estava em roupa de gala desde cedo. Mas não era pra menos, às oito horas ia ser inaugurada a “Rádio Clube de Conquista”. A festa prometia ser das boas, quem arrumou tudo foi Pedro de Condeúba, famoso na época por ser um festeiro nato. Encabeçando o programa tinha um jogo entre a seleção de Conquista e o time de Joanópolis. O povo sorria pras paredes, não era todo dia que se ganhava um presente daqueles, um clube de rádio ia evoluir o pessoal uns vinte anos, eles agora iam ficar sabendo de tudo que acontecia lá fora, agora sim entravam no século XX. Isto graças a uma “vaquinha” feita por comerciantes progressistas, foram eles que compraram o aparelho, mas já estavam precisando de um, até Jequié já tinha um! Naquele tempo o rádio era caro e difícil de obter, eram aparelhos enormes cujas antenas com mais de 30 metros tinham que ser presas em postes. Pra você ter uma ideia, a pessoa que ligava e desligava o rádio teve que fazer curso em Salvador, era o operador oficial do aparelho. Grampão foi o escolhido pra operar a máquina, só ele sabia que o botão “on” botava o bicho pra falar e que o do “off” calava o “falante”. Foi destacado um cabo e dois soldados pra zelarem pela segurança do aparelho 24 horas por dia.
       Na festa ocorreu tudo bem, a banda tocou 5 hinos militares e 7 religiosos, no final emocionou os presentes tocando o Hino Nacional, o povo gostou tanto que eles repetiram 9 vezes, só pararam porque o vigário pediu a palavra, falou durante mais de uma hora, aproveitou pra lembrar que a igreja estava muito velha, 120 anos, já era tempo de derrubar e construir uma nova. O intendente também discursou prometendo uma igreja nova e uma sede definitiva para o clube de rádio. Zé Maria, técnico da Seleção de Conquista, recebeu o troféu das mãos de uma garotinha. A belíssima vitória de 17x8 sobre o time de Joanópolis ocorreu no campo das 7 Casas, a seleção conquistense usou 4-3-3 avançado, ficava só o goleiro atrás, na frente jogavam 4 centroavantes, 3 pontas-esquerdas e 3 pontas-direitas. Sana, técnico de Joanópolis, botou seu time todo na retranca. Uita foi o artilheiro, marcando 5 gols de cabeça e 9 com os pés (fora os contras).
       Às oito horas da noite deu-se a inauguração, as principais famílias da terra estavam sentadas em volta do aparelho, quando um músico da banda deu um repique na caixa-clara e o operador treinado na capital entrou na sala todo no linho horizontal branco e munido de luvas de pelica, pra não causar danos ao microfone. Ligou o rádio depois de 45 minutos, microfonia conseguiu sintonizar, a plateia aplaudiu de pé. Aí então Grampão deu um show de habilidade, conseguiu sintonizar até uma rádio estrangeira, era de uma emissora argentina, um dos ouvintes lamentou ninguém saber falar inglês pra traduzir, o maestro corrigiu em cima da bucha: ele tinha certeza que aquilo era francês. As transmissões foram até altas horas da noite, toda hora que terminava uma música, o pessoal batia palmas. O povo estava maravilhado, o clube fez tanto sucesso que passou a ser ponto de encontro da sociedade local. Toda festa de respeito tinha a participação da “Rádio Clube de Conquista”.
      Conta-se que na época as matinês dançantes ao som do rádio eram muito famosas, as músicas que já faziam sucesso nas capitais agradaram em cheio aos conquistenses que sempre tiveram bom gosto. Só tinha uma música que o pessoal tinha raiva porque era muito curtinha, não dava nem pra sentir o calor da dama, era uma tal de “Melhoral, Melhoral, é Melhor e Não faz Mal”.

                                                                             


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