sexta-feira, 21 de setembro de 2018

DEBATE NA TV APARECIDA:

Haddad protagoniza confrontos com Alckmin e Meirelles em 1º debate na TV

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, ISABEL FLECK E JOELMIR TAVARES
O candidato à presidência da República pelo PT, Fernando Haddad visita o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), no Parque Tecnológico em São José dos Campos (SP), nesta quinta-feira (20). Foto: Rogério Marques/Futura Press
APARECIDA, SP (FOLHAPRESS) -  Em seu primeiro debate como candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad protagonizou confrontos na noite desta quinta-feira (20) na TV Aparecida.
O ex-prefeito rivalizou com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que criticou o PT por “lançar candidatura na porta de cadeia”. Haddad foi oficializado candidato no dia 11 em substituição ao ex-presidente Lula, preso em Curitiba.
O petista questionou o tucano sobre o apoio do PSDB à gestão Michel Temer (MDB), chamada por ele de “governo Temer-PSDB”, e contestou a reforma trabalhista e a emenda de teto dos gastos, que julga prejudiciais ao trabalhador.
“Quem escolheu o Temer foi o PT. Ele era vice da Dilma. Aliás, reincidentes, porque escolheram o Temer duas vezes”, rebateu Alckmin, que cobrou o petista pela “herança da Dilma e do PT” na economia.
“Quebraram o Brasil, destruíram as empresas estatais, o petrolão foi o maior esquema do mundo de desvio de dinheiro público”, continuou.
 Haddad retrucou: “Quem se uniu ao Temer para trair a Dilma foi o PSDB. Ele [o partido] que colocou o Temer lá e um programa totalmente diferente do aprovado pelas urnas”.

O tucano e o petista também se enfrentaram ao discutir a autocrítica de seus partidos. Haddad lembrou afirmações do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, de que a sigla errou ao questionar o resultado da eleição de 2014 e ao embarcar no governo Temer.
“Todos os partidos estão fragilizados e todos deveriam fazer autocrítica. Mas o PT, em vez de fazer autocrítica, lança candidatura na porta de cadeia”, afirmou Alckmin.
Haddad também teve embates com Henrique Meirelles (MDB). O ex-ministro da Fazenda de Michel Temer defendeu sua atuação no cargo. “Essa crise, candidato, talvez seja o caso de você se informar melhor, mas essa crise foi criada pelo governo da Dilma.”
“Eu considero a ingratidão o maior dos pecados na política”, respondeu o petista, lembrando que Meirelles foi por oito anos o presidente do Banco Central do governo Lula.
Ele aproveitou para criticar as novas regras trabalhistas. “Nós temos que rever a legislação aprovada durante seu mandato no Ministério da Fazenda para recuperar a confiança do povo. Porque talvez o senhor tenha recuperado a confiança dos banqueiros da Faria Lima”, disse o ex-prefeito.
“Essa crise foi criada no governo Dilma”, afirmou Meirelles. O apadrinhado de Lula ressaltou os 12 anos de “estabilidade democrática” do PT, em que foram “criados 20 milhões de postos de trabalho”.
Haddad é o segundo colocado na mais recente pesquisa Datafolha, com 16% das intenções de voto. Jair Bolsonaro (PSL) lidera, com 28%.
O capitão reformado não participou do debate, realizado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), porque está internado após sofrer um ataque a faca durante ato de campanha. Sete dos 13 presidenciáveis compareceram.

CPMF

Mesmo ausente, Bolsonaro não foi poupado, principalmente por Marina Silva (Rede). A candidata atacou a proposta de criação de imposto nos moldes da extinta CPMF.
“Eu fiquei vendo essa confusão entre o candidato [...] e o seu economista-mor, Paulo Guedes, que ele diz que é o Posto Ipiranga, e eu vejo que já está tendo um incêndio no Posto Ipiranga. Alguma coisa está acontecendo lá, pois eles não estão se entendendo.”
A ex-senadora deu a deixa para Meirelles falar, em alusão a Bolsonaro, do risco de eleger “alguém que não tem preparo para administrar o país, principalmente quem não tem preparo em economia”.
Marina disse que a visão de país do deputado federal é “nefasta” e precisa ser combatida. A ex-senadora qualificou como desastrosa a fala do vice dele, Hamilton Mourão (PRTB), de que casa só com mãe e avó é “fábrica de desajustados” para o tráfico de drogas.
Ciro Gomes(PDT) questionou Haddad sobre sua proposta para o sistema tributário e disse que o PT perdeu a oportunidade de fazer mudanças quando governou. “Por que razão o eleitor deveria acreditar nessas propostas na sua possível gestão se o seu partido esteve no governo por 14 anos e não fez?”
O petista (que disputa o eleitorado de esquerda com o pedetista) respondeu que Lula “fez uma das maiores reformas tributárias às avessas”, ao “colocar dinheiro na mão dos pobres”.
Alvaro Dias (Podemos) também mirou Haddad, descrevendo-o como um candidato que "vem para essa campanha como porta-voz da tragédia e representante do caos".
"O PT se transformou na filosofia do fracasso, na crença a ignorância, no arauto da intolerância", afirmou Dias. Ele falou ainda que o PT "gerou riqueza para alguns de seus chefes e delegou a nós brasileiros 63 milhões abaixo da linha da pobreza".
O ex-prefeito de São Paulo, em resposta, citou programas sociais dos governos do PT como o Minha Casa, Minha Vida e o Prouni. “Esse é o Brasil que o povo quer de volta e que se perdeu no golpe”, afirmou.

CORRUPÇÃO

No início do programa, os candidatos falaram sobre combate à corrupção ao serem questionados sobre ética na política pelo arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer.
Após desejar boa noite ao ex-presidente Lula,preso pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, Haddad sacou o discurso que tem usado para abordar o tema.
Afirmou que seu partido fortaleceu instituições que combatem malfeitos e clamou por uma Justiça que não tenha dois pesos e duas medidas para diferentes colorações partidárias.
O ex-prefeito defendeu “uma Controladoria forte, uma Polícia Federal forte, um Ministério Público Forte, e uma Justiça forte e apartidária”.
Marina lançou mão de uma passagem bíblica ao responder: “Se existe um momento em que Jesus ficou indignado foi quando ele viu a corrupção e entrou no templo com um chicote para combater aqueles que estavam profanando”.
Alvaro Dias,como usualmente faz, enalteceu a Operação Lava Jato, que para ele “é prioridade nacional e deve ser institucionalizada como uma política de Estado no combate implacável à corrupção”.
Temas como segurança pública, educação, imigração, juros bancários, urbanização e direitos indígenas também foram discutidos pelos candidatos.
Guilherme Boulos (PSOL) levou ao debate o slogan#EleNão, que mobiliza usuários de redes sociais contra Bolsonaro. Ele soltou palavras de ordem contra o capitão reformado ao evocar a desigualdade de gênero para fustigar Álvaro Dias.
O representante do PSOL afirmou que o adversário do Podemos não incluiu em seu programa de governo mais propostas para equiparar os salários de homens e mulheres, por exemplo.
Boulos voltou a defender uma "lista suja do machismo", para punir empresas que não eliminem a disparidade salarial (proibindo-as de tomar crédito em bancos públicos, por exemplo).
Cabo Daciolo (Patriota) alegou “incompatibilidade de agenda” para se ausentar do debate. A assessoria do candidato informa que ele está em um monte jejuando até o dia 26.
A mediação foi feita pela jornalista Joyce Ribeiro, que, antes do início do programa, exaltou o fato de ser a primeira mulher negra a conduzir um debate entre presidenciáveis.

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