Quadrilhas políticas lideram ranking de grupos criminosos
A cada 3 dias, a PF abre 2 inquéritos para apurar essas organizações nos 5 primeiros anos da lei que permitiu a Lava Jato
Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo
Colaboração Carlos Albán González
A
cada três dias a Polícia Federal (PF) abre dois inquéritos para
investigar a atuação de organizações criminosas no País. A política, com
16,4% dos
casos, lidera o ranking dessas quadrilhas, empatada com o tráfico de
drogas (16,3%). São casos que só existem por causa da lei 12.850, criada
há cinco anos, que tipificou esse tipo de delito no País, disciplinando
as delações premiadas, as ações controladas, as infiltrações, escutas
ambientais e outras medidas que se tornaram fundamentais para resultados
de operações como a Lava Jato, que provocaram um terremoto político.
É
com base nessa lei ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) – condenado e preso na mesma operação –, o presidente Michel Temer
(MDB) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) são alvo de investigações sobre
supostas organizações criminosas que teriam sido montadas com a
participação de integrantes de seus partidos para desviar recursos da
Petrobrás – todos negam as acusações. “A lei foi fundamental. Ela
garantiu os instrumentos e deu segurança jurídica para que a Polícia
Federal e o Ministério Público Federal pudessem atuar”, disse o
procurador da República Rodrigo De Grandis.
PF investiga atuação
de organização criminosa no Ministério do Trabalho na operação Registro
Espúrio PF investiga atuação de organização criminosa no Ministério do
Trabalho na Operação Registro Espúrio Foto: Dida Sampaio/Estadão
Para
o cientista político e professor da USP José Álvaro Moisés, há poucas
legislações na história da República que tiveram tanto impacto no País.
Ele acrescenta três fatores para explicar o alcance da legislação. O
primeiro é o fato de a Constituição de 1988 ter dado autonomia e força
ao Ministério Público, à PF e à Justiça Federal. “Os mecanismos de
controle foram fortalecidos.” Com isso, criou-se as condições para as
revelações que mostraram o alcance da corrupção no País a uma população
que, desde os anos 1980, acompanhava mais de perto o que acontecia na
política.
Balanço da PF
O balanço dos inquéritos da PF abertos
com base na legislação contra as organizações criminosas mostra que a
corrupção e os demais crimes contra a administração pública levam menos
acusados para a cadeia do que o crime organizado. Entre 2013 e 2017, 132
acusados (9,3% do total) foram presos em razão dos inquéritos, enquanto
541 (38,4%) foram parar no cárcere por causa das drogas – aqui não
estão incluídos os casos de lavagem de dinheiro e de delitos
financeiros, o que faria esse número crescer, pois juntos representam
9,2% dos casos.
Há ainda mais 9,3% do total de inquéritos que se
dedicam a investigar a organização em si, enquanto os crimes praticados
pelo grupo são alvo de outras apurações, como ocorre na Lava Jatos com
as investigações contra o MDB, o PT e o PP. Dos 1.025 inquéritos abertos
no período para investigar apenas essas organizações, 48% já foram
concluídos. Destes, pouco mais da metade (54%) terminaram sem a
identificação ou a prisão de quem quer que fosse.
“Uma das razões
para isso é a complexidade dos casos. Se você pegar a maioria dos
delegados no País, (cada um) tem em média 500 casos por mês para
analisar. Nos Estados Unidos eles cuidam de até cinco casos”, disse o
desembargador Roberto Porto, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Para o
procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino, do Ministério Público
Estadual, o número de inquéritos concluídos com indiciamento é bom. Isso
porque nem sempre, quando uma investigação é aberta, se tem de antemão a
certeza da ação de uma organização criminosa, como ocorre em relação ao
crime organizado comum.
Pico de ínquéritos abertos acontece entre 2014 e 2016
O
balanço dos cinco anos da lei mostra que tanto o número de prisões
quanto o de indiciamentos nos inquéritos abertos tiveram pico entre os
anos de 2014 a 2016, o que coincide com o auge da Lava Jato. Não é à toa
que o Estado com maior número de inquéritos que registraram prisões foi
o Paraná, com 39 casos, quase o dobro de São Paulo (20 casos).
O
Paraná teve o maior número de inquéritos e de indiciamentos nessas
investigações. Só fica atrás de São Paulo no número de indiciados. Há,
nos dados da PF, uma queda de prisões e indiciamentos em 2017. Para a
desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, há uma
explicação para o fenômeno: os criminosos aprenderam a praticar crimes
sem deixar rastros. “Usam WhatsApp em vez do telefone.”
Por fim,
de 2013 a 2017, a PF realizou mais de 2,5 mil operações para deter
integrantes desses grupos e apreender provas e bens ilícitos. Para o
presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF),
Edvandir Paiva, esses resultados demonstram que o combate à corrupção
virou prioridade. “Descobrimos como fazer a repressão a esse delito.”
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