ESSA ESTÓRIA DE
HISTÓRIA COM “H”
Nando da Costa Lima

Mas
o que quase ninguém ficou sabendo aconteceu nos bastidores, numa madrugada duma
Conquista gelada, tava tão frio que Getúlio lembrou da terra natal. Naquele
tempo fazia frio o tempo todo! Pois bem: o Hotel Albatroz, apesar de ser o mais
renomado da região, só tinha quartos, os banheiros eram coletivos. Acho que
tinha um ou dois banheiros por andar. E foi por isso que o grande estadista
passou um aperto de mais de uma hora na fila do banheiro do Albatroz, atacou
uma caganeira daquelas que o suor da testa fica gelado. Foi aquele ensopado de
bode com pequi que um cabo eleitoral serviu pra comitiva numa das muitas
cidades que Getúlio passou em campanha. Quando o presidente deu vontade de
arriar, correu pro corredor onde ficava o banheiro. O homem tava mal...Tava
trajando um roupão de seda azul celeste (coisa de rico), mas nem isso comoveu
os dois caixeiros viajantes que estavam na frente da fila, eram clientes
antigos do hotel! Nenhum dos dois quis ceder o lugar praquele tampinha que
estava se contorcendo todo. Eles nem imaginavam que se tratava de Getúlio. Se
Seu Viana, o dono do hotel, estivesse acordado, nada disso teria acontecido!
Mas não, os viajantes fizeram até piada com o homem. Comentaram sorrindo: “O
velho tá doido pra dar uma cagada”, e pra completar falaram que o uso do
banheiro era por ordem de tamanho. Estavam bêbados! Getúlio nem sorriu e voltou
pro quarto retado, nem uma carteirada quis dar por que não dava tempo! Eu só
sei que depois que ele foi embora nunca mais um candidato a presidente
pernoitou aqui em Conquista. Deve ter sido o presidente e a comitiva que
espalharam pros políticos da época que evitassem comer ensopado de bode com pequi
e, principalmente, não pernoitar em Conquista. “Nos hotéis de lá você tem que
pegar fila pra ir ao banheiro, é um suplício, trabalhadores do Brasil!”.
História é um negócio bonito, a gente fica sabendo de tudo! O pessoal do Hotel
Albatroz falou que teve de lavar e enxaguar o roupão presidencial mais de dez
vezes em água fervendo pra saírem as manchas. O cheiro ativo do piquí
permaneceu por muito tempo, só saiu quando lavaram com lavanda Lancaster. A
cueca teve que ser queimada, ficava feio botar uma peça de roupa naquele estado pra lavar. A direção do hotel acertou na decisão, aquela
mania besta de gravar as iniciais em tudo que é roupa podia complicar. Mas o
roupão não era aquela “lindeza” que teve que ficar em Conquista por motivos
óbvios. Era de seda azul celeste e tinha as iniciais de Getúlio bordadas em
dourado... Coisa chic! Me parece que essa relíquia hoje faz parte da coleção
particular de Pedrinho Morais, que por sinal nunca a expôs em público. Por mim,
pode continuar guardado!
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