Um causo de
amor partido
Nando da
Costa Lima

Tomou logo
um banho de loja e se picou pra capital pra esfriar a cabeça. Tava ficando
paranoico, não podia ficar só que lhe vinha em mente sua ex-noiva toda pura
dando uma rapidinha num canto duma boate, que por acaso era sua. Tá certo que
qualquer um pode levar chifre, mas nos anos 70, numa
cidade pequena... era foda! E ele era o rei do pedaço, pegava toda menina que
se sobressaía. Era um galã na época. Porte atlético, vozeirão, bonito, mas caiu
na infelicidade de se apaixonar pela mulher errada. Era o jeito passar uns seis
meses em Salvador pra tirar a urucubaca e voltar botando pra lascar. Não seria
Deoclécio “comedô” que ficaria chorando pelos cantos só porque tomou um corno,
o negócio dele era dar a volta por cima. Marilourdes já tinha caído na real,
sabia da besteira que tinha feito. Aquela porra de cantor nem trepar sabia, ô
tempo perdido! Mas naquelas alturas do campeonato não tinha santo que podia
ajudar a noiva arrependida. Quem tentava acalmar a moça a encontrava abatida e
chorosa, mostrando o enxoval completo vindo da Zona Franca de Manaus... Segundo
os mais chegados, ela ia acabar morrendo, pois não comia nem dormia, a única
coisa que consumia era água. A tragédia tava traçada: De um lado, uma noiva
arrependida falando pros quatro cantos que ia se matar se perdesse Deoclécio;
do outro, o noivo que estava irredutível. Com aquela piranha de banheiro ele
jamais se casaria. E não ia dar certo mesmo, os pais de Deoclécio ameaçaram
deserda-lo caso ele voltasse a conviver com aquela puta de boate. O povo só
falava daquilo, e Deoclécio deu uma entrevista na rádio falando que ia
abandonar aquela cidade que lhe causou vergonha. Ninguém mais respeitava o
“pleiboi”, onde quer que passasse alguém logo gritava: “Lá vai o corno do
banheiro!”. Ele já nem mais rebatia a grosseria! Um filho de família tradicional
na política local não podia nem pensar em retornar pros braços daquela
vagabunda.
Então, como
já foi dito, Deoclécio foi pra Salvador mudar de ares... e ela lá, jogada em
cima do enxoval e chorando dia após dia. Tava de dar pena! Mas não tinha jeito:
deu dentro do banheiro! Se fosse um europeu podia até ser perdoada, mas um
catingueiro, criado com carne de bode não tinha perdão, ia ficar marcado pro
resto da vida. Só se casasse e mudasse pro Japão. Mas nem isso faria a cidade
esquecer aquela safadeza que chamou tanta atenção por envolver dois jovens de
famílias importantes. Era tido como certo que nos próximos anos ele seria
prefeito e ela a primeira dama da cidade, um casal lindo. Pra aliviar as
coisas, a família a levou numa psicóloga que relatou que era um caso seríssimo
e quase incurável, até hoje na história da Medicina não se encontrou a cura
para tal mal. Até o termo para se referir à doença foi a doutora que criou:
“Psicopiranhisse Banherofóbica”. O paciente portador desse mal só sente prazer
se transar em banheiros.
E assim a
família se livrou de ter uma piranha na casa, aquilo não passou de uma crise
psicótica. Quanto a ele, passou um tempo na capital e voltou casado pra se
candidatar a prefeito na próxima eleição. E Marilourdes vivia pelas ruas
jurando pra todo mundo que encontrava que nunca mais trairia seu homem...
Endoidou de tudo. Ficou louca de paixão... E isso até ajudou o ex-noivo a
crescer na carreira política.
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