LADRÃO QUE ROUBA LADRÃO...
Jeremias Macário
A concorrência entre ladrões no Brasil está
acirrada e deixando o mercado saturado. A competição não está moleza pra
ninguém. Tem até meliante aí com medo de perder o emprego. O setor também sofre
com a crise. Todas as cidades foram loteadas. Noutro dia, um ladrão disse para
o outro: Cara se manda que este ponto já tem dono.
Os mais malandros estão alugando e
terceirizando áreas, e aí o bandido tem que se virar para não ter prejuízo no
final do mês. Como a situação está difícil, estão até adiando férias e folgas.
Muitos ficam sem o décimo terceiro e outros benefícios. Tem ladrão demais no
mercado. Muitos estão até tomando cursos de profissionalização para enfrentar
as disputas.
Quando o cidadão não tem dinheiro na
carteira, relógio, celular, e objetos valiosos, tem marginal fazendo acordo na
boa com o cliente, do tipo vá em casa ou ao banco pegar a grana, dando desconto
no assalto e até recebendo via cartão de crédito. O negócio é faturar, não
perder a clientela para não ficar desempregado.
No alto Planalto de Brasília, a concorrência
também é pesada, mas a coisa lá é bem diferente porque todos estão bem
empregados com bons cargos e mordomias. No entanto, lá também tem organização
criminosa e todos os pontos estão loteados e demarcados. Deputados, senadores e
executivos se reúnem sempre para estabelecer princípios. Mesmo assim tem muita
gente quebrando as regras e roubando ladrão.
Uma coisa muito marcante neste mercado de
ladrões é o machismo. As mulheres sempre são jogadas de escanteio, alijadas
mesmo do processo, principalmente em Brasília. Sempre estão dizendo que não
sabiam de nada. Apenas gastavam em restaurantes e lojas de luxo com joias e
roupas.
Viu na semana passada na televisão aquele
diálogo: Oi, Pati, sou eu, a Tici! Estou ligando para dar meu apoio e dizer que
estou do seu lado. Na festa que promovemos para nossos esposos tudo correu
normal. Não houve nada de acerto de propinas e corrupção. Ingênuas! Nem sabiam
que ficaram de fora dos esquemas dos 10 milhões de reais!
Dizem por aí que ladrão que rouba ladrão tem
cem anos de perdão, mas não é bem assim que a coisa funciona entre eles. Não
existe perdão. Com as turmas das ruas, as regras são claras, como diz o juiz de
futebol Arnaldo César Coelho. Em Brasília dos percentuais como norma ética, se
marcar bobeira, uns roubam os outros no maior cinismo e cara de pau.
Os profissionais dos asfaltos vão mesmo na
mão grande de arma em punho e têm seus próprios códigos de ética e moral. Os
palacianos são desprovidos de caráter; fazem seus acertos usando celulares ou
através de mensagens pela internet; aparecem no escondidinho ou em pontos
estratégicos movimentados; e recolhem a grana em malas, sacolas, meias ou nas
cuecas.
Dia desses um “bandidão” da cidade grande
apontou um trabuco para um político graúdo com uma mala cheia de reais e
verdinhas.
- E aí doutor, perdeu,
passa o bagulho que o senhor nos roubou. Estou aqui nesta miséria por sua causa.
O parlamentar tentou negociar fixando um
percentual do roubo e até um cargo como assessor. Contou umas historinhas
falsas e teve a cara de pau em dizer que a dinheirama era para construir
escolas e creches. Coisa social.
- Pensa que sou igual a
vocês, doutor! Não sou otário pra cair neste papo de enrolação. Olha aí, cara,
quer mesmo levar balaço na cuca? Estou doidão e passo fogo.
O ladrão foi esperto e encurtou logo a
conversa porque se demorasse mais um pouco seria convencido a desistir da
empreitada. Levou tudo, inclusive a cueca recheada.
Por falar nisso, a operação conjunta das
forças armadas com cinco mil homens com tanques e equipamentos para desbaratar
quadrilhas no Rio de Janeiro foi como uma montanha que pariu um rato. Apreendeu
algumas pistolas e uns pacotes de drogas. Bando de incompetentes!
É, se os das nossas ruas e bairros nos
aterrorizam e matam, os de lá de cima não merecem confiança e também tiram a
vida de muita gente. É só observar como agem, comprando votos e mentindo.
- Se eu não receber um ministério, uns cargos
ou dinheiro, não votarei a seu favor para não ser cassado e nas reformas.
Depois de tudo combinado e receber a muamba,
na hora de votar o cara diz sim e ainda acrescenta que está votando nos
projetos com consciência e pela melhoria do Brasil e dos brasileiros. Sem mais
comentários. Nem é preciso falar mais nada. Ainda colocam a democracia no meio
do bagulho.
Por causa dos corruptos, dos maus políticos,
da degeneração dos partidos e dos governantes que infestam nossa nação, somente
38% da população acreditam que o modelo brasileiro de democracia é o melhor
regime. Pelo visto, vamos cair mesmo em mãos de aventureiros favoráveis a uma
ditadura militar. Te cuida ladrão que a barra está pesada!
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