Convidado por Temer para o Ministério da Transparência, ele trocará de cadeira com Torquato Jardim, crítico da Lava Jato.

Temer põe Torquato Jardim, crítico da Lava Jato, no Ministério da Justiça
Para o lugar de Serraglio na Justiça o presidente da República nomeu neste domingo (28) Torquato Jardim, jurista e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele é amigo de Temer há mais de três décadas.
Se Serraglio não aceitar a mudança compulsória para o gabinete de
Ministro da Transparência, um aliado próximo de Temer encrencado com a
Lava Jato pode perder o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal
(STF), o que poderia deixá-lo ao alcance do juiz federal Sérgio Moro.
Ex-assessor especial de Temer no Planalto, o deputado Rodrigo Rocha
Loures (PR) é suplente da bancada do PMDB do Paraná. Ele assumiu o
mandato de deputado em março com a ida de Serraglio para o governo
federal.
Rocha Loures é investigado pela Lava Jato por suspeita de ter recebido
propina do grupo J&F, controlador do frigorífico JBS. Ele foi
afastado das atividades parlamentares por ordem do ministro Edson
Fachin, relator da Lava Jato no STF.
Apontado como intermediário do presidente da República para assuntos da
holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista com o governo – o deputado
afastado do PMDB foi gravado pela Polícia Federal deixando um
restaurante de São Paulo carregando uma mala com R$ 500 mil em propina entregue pelo executivo da J&F Ricardo Saud.
Uma gravação feita por Joesley no Palácio do Jaburu com Michel Temer aponta que o presidente indicou Rocha Loures
para resolver uma disputa relativa ao preço do gás fornecido pela
Petrobras à termelétrica do grupo J&F. Os investigadores apuram se a
propina do dono da JBS ao deputado do PMDB foi para Temer.
A nota oficial do Planalto distribuída à imprensa na tarde deste
domingo para comunicar a saída de Serraglio do Ministério da Justiça e a
ida de Torquato para a pasta não informava que o presidente havia
convidado o peemedebista para outro ministério, o que só foi esclarecido
cerca uma hora depois.
Nesse período, especulou-se o que aconteceria com Rocha Loures. Caso
Serraglio voltasse à Câmara, ele perderia a vaga na Câmara e o foro
privilegiado.
Conforme o colunista do G1 e da GloboNews Gérson Camarotti, o núcleo mais próximo a Temer está apavorado com a possibilidade de Rocha Loures fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
'Preocupação'
O troca-troca na Esplanada dos Ministérios surpreendeu o mundo político
neste fim de semana e gerou protestos de entidades ligadas à Polícia
Federal (PF). Em nota divulgada poucas horas após o anúncio da mudança
no primeiro escalão, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia
Federal (ADPF) afirma que viu com "preocupação" a dança das cadeiras no comando do Ministério da Justiça.
Imediatamente, também surgiram interpretações, em Brasília, de que a
decisão de Temer de colocar Torquato no comando do Ministério da Justiça
seria uma tentativa de retomar a influência sobre a PF.
Em entrevista a Andréia Sadi, o novo titular da Justiça afirmou que não está descartada nem mesmo a substituição do diretor-geral da PF, Leandro Daiello.
Osmar Serraglio apareceu em um dos grampos da Operação Carne Fraca.
Na ligação, o agora ex-ministro da Justiça fala com um dos líderes do
esquema investigado pela Polícia Federal, o ex-superintendente regional
do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho.
Ele chama o ex-superintendente de “grande chefe” na conversa telefônica
interceptada pelos agentes federais e fala sobre a ameaça de fechamento
de um frigorífico.
Leia a transcrição da conversa:
Osmar Serraglio: grande chefe, tudo bom?
Daniel Gonçalves Filho: tudo bom
Osmar: viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
Daniel: não
Osmar:
o cara lá, que... o cara que tá fiscalizando lá... apavorou o Paulo lá,
disse que hoje vai fechar aquele frigorífico... botô a boca... deixou o
Paulo apavorado! Mas pra fechar tem o rito, num tem? Sei lá. Como que
funciona um negócio desse?
Daniel: deixa eu ver o que acontecendo... tomar pé da situação lá tá... falo com o Senhor (...)
À época em que a operação foi deflagrada, a PF informou que não havia indício de crime por parte do então ministro da Justiça.
No entanto, um ex-assessor parlamentar da Câmara afirmou à Polícia Federal que Osmar Serraglio participou da indicação de Daniel Gonçalves Filho para a chefia da superintendência paranaense do Ministério da Agricultura.
De acordo com o ex-assessor, o ex-ministro da Justiça fez parte de um
grupo de sete deputados federais do Paraná ligados ao PMDB que
formalizaram a indicação de Daniel Gonçalves Filho para o cargo.
Troncha disse não se lembrar a data exata da indicação, mas disse que
se recorda que foi próximo ao ano de 2008. À época, Serraglio era
deputado federal pelo PMDB do Paraná. O peemedebista nega ter indicado o
fiscal.
Na avaliação do colunista Gérson Camarotti, Serraglio era considerado dentro do Palácio do Planalto "um ministro fraco".
De acordo com o colunista, o núcleo político próximo a Temer se
queixava que o ministro não tinha influência no comando da PF e não
conseguia interferir nos rumos da Lava Jato.
O presidente da República optou por Torquato por considerá-lo com personalidade suficiente para retomar o controle da Polícia Federal.
Crítico da Lava Jato
O novo ministro da Justiça já fez críticas públicas à Operação Lava
Jato, que investiga o esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Em entrevista publicada neste domingo pelo jornal "Correio Braziliense"
– antes de ser anunciada a troca de cadeiras –, Torquato Jardim ele se
queixou, entre outros pontos, da amplitude do acordo de delação premiada
fechado entre a Procuradoria Geral da República (PGR) com os executivos
do grupo J&F, controlador do frigorífico JBS.
"Por que um procurador da República que atuava na Lava Jato
aposentou-se e, no dia seguinte, tornou-se advogado dele [Joesley
Batista, um dos donos da JBS]. Há outros advogados famosos que estavam
na JBS e deixaram para transferir a causa. Acho que eles [PGR] devem
explicar", alfinetou o novo ministro da Justiça, referindo-se ao
ex-procurador da República Marcelo Miller, um dos braços-direitos do
procurador-geral da República Rodrigo Janot na Lava Jato até março que
passou a atuar no escritório que negocia com os termos da leniência do
grupo J&F.
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