Carioca/campeã mundial, Rafaela Silva vence Olimpíada Rio 2016 em Judô e conquista 1ª medalha de ouro para o Brasil. Ela é atleta da Marinha do Brasil, fato que tentaram omitir, mas que teve de ser divulgado!
Natural da Cidade de Deus, judoca lembra sua trajetória

- É claro que não é normal, não pode ser natural para uma criança, ver alguém morrer na sua frente. Ou ver outras crianças usando drogas. Tinha tiroteio quase todo dia. De dentro de casa, a gente via os traficantes pulando de muro em muro das casas, fugindo da polícia - relembra a judoca.
Ainda na Cidade de Deus, aos sete anos seus pais a levaram à academia onde Geraldo Bernardes dava aula de judô. A iniciativa era mais uma tentativa de domar a filha briguenta: os pais com frequência recebiam advertências da escola, e as brigas na rua se sucediam. Junto da irmã Raquel, Rafaela foi levada por Geraldo ao Instituto Reação, criado pelo ex-judoca Flávio Canto (bronze em Atenas-2004) e que tem escolinhas do esporte em áreas carentes do Rio. Até hoje, Geraldo é o treinador de Rafaela, no polo do Reação do sub-bairro do Pechincha, em Jacarepaguá.
- Os pais as trouxeram para treinar porque ela não obedecia ninguém, brigava muito. Nas primeiras aulas, vi que tinham boa coordenação, uma agressividade importante. Na Cidade de Deus, ela peitava todo mundo. Tinha que canalizar isso para o judô. Vi que tinha um diamante bruto ali - diz o treinador com experiência de mais de 20 anos na seleção brasileira. - A Rafaela, embora não seja a mais alta (tem 1,68m) na categoria dela (peso leve, até 57kg), ela tem uma envergadura muito boa, tem os braços longos. Isso dá vantagem, ela meio que abraça a oponente. Também pode escolher uma distância que a favorece na pegada.
Aos 24 anos, Rafaela ri ao lembrar da fase brigona na infância. Saiu
da Cidade de Deus para a Freguesia, também em Jacarepaguá, onde mora com
os pais até hoje. Diz que o técnico Geraldo condicionava a mudança de
faixa na escolinha de judô, obsessão de toda criança, a um boletim do
colégio com boas notas. Melhorou na escola, mas não abandonou o hábito
de jogar bola e soltar pipa com os meninos. Brincava e brigava com
garotos mais velhos.- Eles me provocavam, sabiam que eu fazia judô, queriam ver se eu era boa de briga mesmo. E apanhavam. Brincava e brigava com eles, mulher não sabe brigar, só puxa cabelo - se diverte.
Ainda no tatame, ela chorou, admitiu o erro e lamentou a eliminação. De volta à Vila Olímpica, extravasou a raiva batendo boca com torcedores nas redes sociais. Foi xingada e xingou de volta, sendo dura mesmo com alguns que a abordaram sem desrespeito. Também foi vítima, porém, de ataques racistas. Voltou ao Rio triste com a derrota e ainda mais com os episódios seguintes, que ganharam repercussão. Ficou quase quatro meses sem vestir um quimono, como lembra seu treinador.
Convencida a não desistir, retomou os bons resultados ainda em dezembro de 2012, com o bronze no World Masters, e no ano seguinte chegou ao auge.
COM A FAMÍLIA NA ARQUIBANCADA
Rafaela é a primeira mulher brasileira campeã mundial de judô, título conquistado em 2013, no Mundial disputado no Rio. Naquela vez, a competição aconteceu no Maracanãzinho, e agora as lutas serão bem mais perto de casa, no Parque Olímpico. Os pais e a irmã conseguiram comprar ingressos para todas as lutas de sua categoria. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) reserva a cada atleta o direito de comprar dois ingressos de cada prova que disputar. Estes já estão reservados para o cunhado e a sobrinha. A família estará completa na plateia.
- Tem uns amigos que compraram só para as lutas que valem medalhas, já avisei que falta eu chegar lá.
Mas, pelo currículo, não pode ser excluída da lista de candidatas ao pódio. No torneio olímpico de judô, cada categoria é disputada num único dia, às vezes com pouco intervalo entre as lutas. Rafaela vai lutar no dia 8 de agosto. Pisará no tatame para a primeira luta de manhã, o horário de sua preferência.
- Em outros torneios, o intervalo entre uma luta e outra pode chegar a duas ou três horas. Tem atleta que dorme. Se eu dormir, não consigo mais lutar. Fico andando sozinha pelo ginásio. Fui bem no Rio no Mundial, é minha cidade. Vou atrás dessa medalha. E foi. E venceu.


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