O OUTRO LADO FRUSTRANTE DAS OLIMPÍADAS
Jeremias Macário
A princípio imaginei escrever sobre a
necessidade de criação de uma política municipal própria para a nossa cultura
(temos apenas ações pontuais em Vitória da Conquista), mas como os jogos
olímpicos são coqueluche do momento, arrisco-me dar meus “pitacos”, sabendo que
serei apedrejado porque a maioria prefere não ver o outro lado do espetáculo.
Continuamos com o fardo do complexo de “vira
lata”, ou de inferioridade, como falava Nelson Rodrigues, não por culpa dos nossos
atletas. Os comportamentos, os fracassose atitudes estranhas anti-olímpicas são
reflexos dos despreparos, da incompetência e dos desvios de caráter dos
dirigentes que conduzem o processo.
Para não ser extenso vou citar apenas dois “expoentes”
dos esportes brasileiros. O presidente da Confederação Brasileira de
Futebol-CBF, o José Maria Marim, está tão comprometido com as investigações
sobre irregularidades no âmbito da entidade e da FIFA que não pode nem viajar
para o exterior porque pode ser preso. O outro é o Carlos Arthur Nuzman, o
imperador ditador-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro-COB, há mais de 20
anos no poder.
O ditador do COB foi acusado desde 2007, ano do Pan-Americano do Rio, de
desvio de recursos públicos e de falta de transparência de suas gestões. O
orçamento para o Pan sofreu um acréscimo de 1.000%. O legado deixado pelo
evento: autódromo demolido e estádio Nílton Santos sem condições hoje de ser
utilizado.
Agora vamos direto ao que sempre acontece e
está acontecendo nos gramados e nas Olimpíadas Rio 2016. Primeiro, o evento é
só para turista empolgado ver. Aliás, o estrangeiro não conhece o Brasil real,
principalmente depois que as forças armadas saírem do Rio e os bandidos
voltarem aos seus postos de violência, tráfico e assassinatos.
Os nossos atletas, com raras exceções, não
contam com o devido apoio do Estado em termos de formação física, técnica e
psicológica, dai os vexames comportamentais dentro das linhas de combate.
Fiquei horrorizado com a atitude de um judoca que ao perder se negou a
cumprimentar seu adversário, respondendo com gestos agressivos.
No polo aquático vi também a imagem de uma
menina socando a cabeça de uma italiana durante uma partida. No futebol, o
capitão Neymar mais parece um menino birrento que se irrita com o outro porque o
cara tomou o seu brinquedo e melou sua jogada individual. É bom que se diga que
nesta fase os jogadores brasileiros só são cordiais quando vencem.
No caso do futebol, a torcida descarrega toda
sua fúria nos jogadores, mas, por motivo emocional e irracional, não vê o outro
lado da face e da moeda podre que são os dirigentes, que sem moral, comandam
instituições esportivas importantes. Essa situação se arrasta há anos. No COB
existe uma ditadura derrotada.
Junte-se a tudo isso à crise política,
econômica e ética que o país atravessa e ai vamos chegar à conclusão de que o
Brasil não dispõe de condições estruturais para sediar um evento internacional
desta magnitude. Não vou nem tratar aqui das questões da educação, da saúde e
da segurança. Além do mais, o preparo dos atletas está abaixo da média em
comparação com as principais potências dos esportes.
Nas diversas modalidades olímpicas, que contam
com apoio precário do Estado, o que observamos em relação aos países
desenvolvidos e até em desenvolvimento é uma enorme diferença social e
econômica. É só comparar a judoca Rafaela Silva com o norte-americano Michael
Phelps, recordista de medalhas na natação. São milhas e mais milhas de
distância em tudo. Nem precisa falar muita coisa.
Até quando vamos
continuar achando que um quinto, sexto, sétimo ou oitavo lugar numa natação,
numa ginástica ou em outra modalidade é fantástico na voz do Galvão Bueno,
alegando apenas que os meninos ou as meninas são novos? Será que em quatro anos
estamos evoluídos no mesmo nível dos outros, ou iremos permanecer nos mesmos
lugares e até em posições inferiores?
A grande maioria dos atletas de outras nações
quando vai a uma olimpíada não é para curtir e passear, mas encarar uma
competição de trabalho. Não basta só participar e competir. O mais importante é
ganhar uma das três medalhas.
Sinceramente, vejo nos
rostos de muitos dos nossos atletas mais um semblante de festa do que vontade
expressa, disciplina e determinação para vencer. Não é propriamente culpa deles
como já me referi aqui. As pingadas medalhas são mais resultado do talento e do
esforço individual de alguns do que de um programa de incentivo governamental
ao esporte
Justamente, por falta de treinamento contínuo
e apoio econômico, social e psicológico por parte dos governantes, eles
terminam, como se diz no jargão “amarelando” na hora do vamos ver quem é o
melhor. Isso é sintomático. O resto é festa da mídia globista que não mostra o
outro lado e faz estardalhaço e sensacionalismo com a vitória dos outros, como
no caso específico do Phelps.
Muitos vivem em estado de pobreza com suas
famílias, passando necessidade porque os governantes não investem e não dão o
devido valor ao esporte e à cultura. Enquanto isso, do alto do seu poder
vitalício, o COB impõe sua ditadura e ninguém pode criticar senão será
eliminado da competição O que vemos são atletas mendigando ajuda para
deslocamentos, abrigo e alimentação.
Sem opção de medalhistas, os torcedores
brasileiros fazem barulho, algazarra, vaiam e aplaudem outros países. Para o
mundo lá fora passam uma imagem de falta de etiqueta e educação. Na verdade, a
nossa torcida é mera expectadora das vitórias dos outros.
“Há esportes - os
nossos incultos torcedores desconhecem - que o silêncio da plateia é
obrigatório: o tênis, o tiro, o hipismo, o levantamento de peso, o golfe,
saltos de trampolim e o sinal de largada no atletismo (provas de pista) e na
natação”- colaboração do nosso companheiro e camarada jornalista Carlos
Gonzalez.
Bem que no fundo todos
queriam mesmo era ter seus representantes nacionais no pódio para compartilhar
com eles o orgulho das vitórias e do desempenho aguerrido de suas equipes. É
uma frustração total! O brasileiro é cheio de esperança, mas vazio em termos de
indignação. A saída é extravasar o quanto pode e aplaudir ou vaiar os heróis de
fora.


Caro Jeremias: seu artigo é real. Entretanto, temos de colocar alguns senões. O Marin da CBF está em prisão domiciliar nos Estados Unidos, há mais de um ano. Seu sucesso, Marco Polo del Nero é que está na situação de não poder viajar, temendo igual destino. Dos 4 atletas medalhistas, Rafaela Silva (ouro) e Mayra (bonze), são sargentos da Marinha do Brasil. O atleta que teve prata no tiro é do Exército. O Prof. Geraldo Bernardes sustentou Rafaela desde novinha e pagava suas despesas de passagem e hospedagem, alimentação, uniformes, etc do seu bolso. Merece citação. No mais, concordo com sua esplanação. Parabéns, amigão!
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