Aos poucos, Dilma começa a fazer sua mudança para Porto Alegre
Presidente afastada, porém, não desistiu dos planos de voltar à Presidência
Na semana passada, o afastamento de Dilma Rousseff (PT) da
Presidência da República completou dois meses sem que ela tenha
conseguido avançar em seu principal objetivo: obter mais votos de
senadores contra o impeachment.Aliados da petista continuam dizendo que é possível mudar o placar, que, hoje, apresenta uma boa margem a favor do impeachment. Mas, aos poucos, Dilma já está retirando seus objetos pessoais do Palácio da Alvorada – que terá que desocupar caso o impeachment se confirme – e levando-os para seu apartamento em Porto Alegre.
As viagens para a capital gaúcha são as únicas que Dilma ainda pode fazer em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), em geral um jatinho Legacy. Sempre que embarca para lá, a presidente afastada consegue levar duas malas com objetos pessoais. Ela carrega também a bicicleta com a qual se acostumou a fazer seus exercícios diários.
A petista decidiu manter o discurso de que é vítima de um golpe, mesmo sabendo que as chances de reverter o processo de impedimento no Senado são baixas. A preocupação é repetir sempre essa tese para que ela um dia fique registrada nas páginas da História.
Em Brasília, Dilma tem recebido senadores aliados e concedido entrevistas a emissoras de rádio. Sempre acorda cedo e mantém o hábito de pedalar antes de iniciar a rotina de trabalho. Interlocutores contam que ela está sóbria, consciente das dificuldades de virar o quadro político. Mas que não desistiu dos planos de voltar à Presidência.
A argumentação de quem conta com a possibilidade de reversão do quadro é que a denúncia sobre as “pedaladas fiscais”, uma das bases do impeachment, se fragilizou depois que a perícia do Senado e o Ministério Público Federal isentaram Dilma de ter atuado pessoalmente nas operações de crédito do Plano Safra. Para o Tribunal de Contas da União (TCU), a medida caracterizou a manobra financeira.
Os defensores de Dilma dizem também que ela, inicialmente, era acusada de ter assinado seis decretos de crédito suplementar que desrespeitavam a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Mas que, agora, apenas três continuam sustentando a denúncia de que a presidente afastada cometeu crime de responsabilidade.
Dilma, que não quis ir à comissão de impeachment fazer sua própria defesa, já declarou que irá ao plenário do Senado apresentar sua defesa para as denúncias antes do início da votação final do impeachment.
À espera de um fato novo
Além disso, o time de Dilma não descarta que, até o fim de agosto, quando o impeachment será julgado pelo plenário do Senado, um fato novo contra o governo Michel Temer apareça, ferindo mortalmente o presidente interino. Alguns aliados de Dilma secretamente torcem por uma nova delação, como a do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é ligado ao núcleo político do governo Temer e sempre foi próximo do presidente interino.Outro ponto que tem animado os aliados da petista é o fato de Temer governar com uma enorme e heterogênea coalizão, o que o impede de atender a todos os aliados. Eles torcem pelo aumento das insatisfações.
“A situação de Dilma é difícil, mas não é impossível. A margem entre o sucesso e o insucesso é estreita. Os votos são muito voláteis. Nada é consolidado na política. Algum fato novo pode surgir e mudar o rumo das coisas. Além disso, o coeficiente de traição é algo difícil de se contabilizar”, disse um auxiliar de Dilma.


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