quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O RIO DE JANEIRO É O RETRATO DO BRASIL:

Marlene Batista Martins precisa de remédio para controlar o colesterol
Marlene B. Martins precisa de remédio para controlar o colesterol 
Foto: Guilherme Pinto/EXTRA - Texto: Marcos Nunes


Enquanto medicamentos são jogados fora, pacientes ficam sem remédio

Há nove anos a doméstica Marlene Batista Martins, de 62, se submete a um tratamento para controlar o colesterol. Nesta terça (23), ela esteve no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na Zona Norte, para mais uma consulta. Foi atendida, mas saiu de mãos vazias, sem nenhum dos três remédios de que precisava.  — Não consegui aqui no hospital. Vou ter que tentar comprar.
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Enquanto Dona Marlene não tem remédios como Ácido Acetilsalicílico, Flavonid e Sinvastatina, usados em seu tratamento, mil toneladas de medicamentos que nunca foram distribuídos e perderam a validade foram para o lixo. Parte desses remédios foi encontrada na segunda-feira, em vistoria, na central de abastecimento da Secretaria estadual de Saúde, em Niterói. A listagem dos remédios vencidos, que foram descartados, já foi requisitada pelo deputado Pedro Fernandes (PMDB), mas, até ontem, ele ainda não havia recebido o material.  O parlamentar faz parte de uma comissão especial montada pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para inspecionar Organizações Sociais (OSs), que administram hospitais do estado. Caso a lista não seja entregue até hoje, os 14 deputados estaduais que integram a comissão de orçamento e tributação vão votar um pedido para que isso seja feito num prazo de 48 horas. Uma CPI para investigar o desperdício não está descartada.
Pedro Fernandes disse ainda que a comissão vai convocar cerca de 20 pessoas para prestarem depoimentos. Entre eles, os ex-secretários de saúde Felipe Peixoto, Sergio Côrtes e Marcos Muzafir. Os parlamentares querem saber se os ex-secretários foram avisados pelo consórcio LogRio, responsável pelo recebimento e armazenamento dos medicamentos, de que o material no depósito perderia a validade.

Unidade está desabastecida
Dona Marlene não é a única que sofre com a falta de remédios no Pedro Ernesto. Presidente da Associação de Pacientes com Lúpus, Valdete Albuquerque, de 43 anos, conta que o hospital não tem os medicamentos Plaquinol e Reuquinol, usados para inibir a atividade da doença.
— A situação é precária — disse Valdete.
Mais sorte teve, ontem, o jardineiro João Ferreira Pinto, de 72 anos. Ele saiu de Iguaba, em uma van, e conseguiu atendimento no Hospital Pedro Ernesto.
— Esta é a terceira vez que venho, mas consegui ser atendido. Fui medicado e estou tentando agendar a minha cirurgia de próstata. Tenho esperança de que vou conseguir — disse.
Além dos ex-secretários de saúde, os parlamentares também deverão ouvir, na quarta-feira, os representantes do consórcio Log Rio .
Procurada pelo EXTRA para comentar a falta de remédios, a atual diretoria do Hospital Pedro Ernesto informou ter tomado posse em janeiro de 2016. Devido à falta de recursos desde o trimestre passado, alegou ter encontrado o hospital desabastecido de alguns medicamentos e materiais hospitalares.
De acordo com a nota, “com a recente abertura do orçamento de 2016, o hospital espera reabastecer a farmácia e o almoxarifado, de modo a atender aos aos pacientes”.
A Secretaria de Saúde informou ter aberto uma sindicância. Já o MP informou ter constatado mais de R$ 2 milhões de prejuízo aos cofres públicos. O governador Pezão disse que criará um órgão para controlar medicamentos usados na rede estadual.

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