BRASÍLIA
(Reuters) - O Brasil vê com crescente pessimismo a situação política na
Venezuela e prevê um endurecimento ainda maior nas relações entre o
governo do presidente Nicolás Maduro e a Assembleia Nacional,
majoritariamente oposicionista, mas já enviou sinais a Caracas de que
não poderá contar com apoio brasileiro em caso de transgressão das
regras democráticas, informaram à Reuters duas fontes governistas.
A
nota divulgada na última terça-feira pelo Ministério das Relações
Exteriores deu o tom do tratamento que o Palácio do Planalto pretende
dar à situação na Venezuela. Normalmente suave na tratativa com os
vizinhos sul-americanos, o governo brasileiro disse na nota que “não há
lugar na América do Sul do século 21 para soluções políticas fora da
institucionalidade e do mais absoluto respeito à democracia”.
O
Brasil vem endurecendo as cobranças ao governo de Maduro e divulgou a
nota sobre o país vizinho no mesmo dia em que deputados governistas
tumultuaram a instalação da nova Assembleia.
Segundo
as fontes governistas, o Planalto espera que o recado chegue aos
ouvidos de Maduro, mas não descarta o envio de novos emissários ao país
vizinho --possivelmente o assessor especial da Presidência, Marco
Aurélio Garcia-- caso julgue necessário.
Nos
últimos meses, o governo brasileiro procurou se afastar da impressão de
que daria qualquer apoio a atitudes pouco democráticas do governo
venezuelano. Mesmo o discurso da presidente Dilma Rousseff na última
reunião de Mercosul, interpretado como conciliador, foi tratado pelo
Planalto como um aviso de que o Brasil espera o respeito ao resultado
das eleições na Venezuela, que deram à oposição a maioria no Legislativo
do país.
A
análise de diplomatas brasileiros é de que Maduro está em uma situação
muito complicada e com pouca margem de manobra, especialmente porque não
há interesse entre os oposicionistas em negociar nenhum tipo de trégua
com o governo. E, com a maioria da oposição na Assembleia, a
possibilidade de que o presidente seja afastado legalmente é real.
O
temor no governo brasileiro, disse à Reuters um dos diplomatas, é que o
presidente venezuelano resista a entregar o cargo caso perca um
eventual referendo para revogar seu mandato. Qualquer quebra nos
processos democráticos obrigará o Mercosul e a União das Nações
Sul-Americanas (Unasul) a agirem. Hoje, o apoio a Maduro em qualquer uma
das entidades é mínimo.
Mesmo
dentro do Itamaraty, sempre dado à conciliação, a paciência com o
governo venezuelano está no fim, disse um dos diplomatas ouvidos pela
Reuters. A análise é que o governo de Maduro pouco fez para merecer as
tentativas brasileiras de ajudar o país.



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