Família tem quase um século no poder no RN
Henrique Alves: novo presidente da Câmara Federal
Ricardo Brito e Denise Madueño - Agência Estado
BRASÍLIA - Mesmo sendo alvo de uma série de denúncias
publicada pela imprensa no último mês, o líder do PMDB na Câmara,
Henrique Eduardo Alves (RN), elegeu-se no início da tarde desta
segunda-feira presidente da Casa. Em votação secreta encerrada há pouco,
o peemedebista obteve 271 votos, enquanto o deputado Júlio Delgado
(PSB-MG) recebeu 165, Rose de Freitas (PMDB-ES), 47 e Chico Alencar
(PSOL-RJ), 11. Foram três votos em branco. Participaram da votação
eletrônica 497 dos 513 deputados. Para se eleger em primeiro turno, eram
necessários pelo menos 249 votos.
Henrique Alves atribuiu ao 'fogo amigo' denúncias que surgiram contra ele (foto Ed Ferreira/AE)
O deputado potiguar, que tem 11 mandatos consecutivos e 42 anos de
Câmara, dividirá com o colega de partido Renan Calheiros (AL), eleito na
sexta-feira presidente do Senado, o comando da pauta de votações do
Congresso pelos próximos dois anos. Os peemedebistas à frente das duas
Casas reforçam a posição do PMDB para a sucessão presidencial de Dilma
Rousseff - o partido já tem a vice-presidência, com o presidente de
honra do partido, Michel Temer.
Em seu discurso, Henrique Eduardo Alves atribuiu ao "fogo amigo" as
denúncias que surgiram contra ele. Nesta segunda-feira, os deputados
encontraram em seus gabinetes uma publicação com cópias de reportagens
de supostas irregularidades cometidas por Alves no exercício do mandato e
até as suspeitas de enriquecimento ilícito. Ele classificou a
publicação apócrifa de "pequena", "mesquinha" e de um "comportamento sem
cara, sem rosto, clandestino e subterrâneo". Disse ainda que "as
labaredas" desse fogo amigo não resistem às "chuvas de verão".
O deputado afirmou que no último mês quiseram construir um novo
Henrique com a publicação das reportagens. "No mês eleitoral, quiseram
rediscutir o Henrique, quiseram refazer o Henrique, construir um outro
Henrique", disse. Alves disse que as denúncias não chamuscam o alicerce
que construiu em sua vida e defendeu a liberdade de imprensa.
O deputado do PMDB fez um discurso para o público interno, em defesa
do Parlamento. Ele foi aplaudido ao prometer criar uma comissão para
analisar propostas sobre o chamado orçamento impositivo para as emendas
parlamentares, uma antiga reivindicação dos deputados, que contraria os
interesses do governo federal. Com o orçamento impositivo, a presidente
Dilma Rousseff não poderá mais segurar a liberação de dinheiro do
Orçamento quando se tratar das emendas individuais parlamentares
aprovadas na lei orçamentária.
Críticas. Henrique Eduardo Alves foi o alvo
preferencial dos outros três candidatos. Logo após o pronunciamento do
peemedebista, o deputado Júlio Delgado fez um duro discurso em que
rebateu todos os pontos da fala do favorito. De improviso, Júlio Delgado
disse que "chegou a hora da mudança", de "vencer as práticas políticas
que envergonham o Parlamento" e vencer "a politicagem na Casa
Legislativa".
Intitulando-se o primeiro a se lançar contra a "candidatura única", o
deputado do PSB lembrou que a ausência de disputa não permite o debate,
a essência do parlamento. Júlio Delgado criticou inicialmente a
proposta de Henrique Eduardo Alves de aprovar o orçamento impositivo. O
deputado do PSB lembrou que essa é uma ideia que já se tentou viabilizar
no passado sem sucesso. A proposta que considera mais factível,
ressaltou, seria a de um contingenciamento parcial do orçamento, de uma
forma que não atingisse todos os recursos das emendas parlamentares.
Primeira candidata a discursar, a deputada Rose de Freitas defendeu
maior independência do Parlamento em relação ao Executivo. Ela acusou o
Executivo "não respeitar o povo brasileiro", por meio dos seus
representantes na Câmara, cobrou a aprovação de um orçamento impositivo.
"O Poder Executivo não respeita o povo brasileiro. Nunca vi querer um
parlamento forte, somos da base do governo, trabalhamos, queremos que
se fortaleça", disse a deputada capixaba, que anteriormente elogiou a
presidente Dilma Rousseff.
A atual vice-presidente da Câmara disse que não quer a Casa
dependendo de "pires, de favor". Num discurso voltado para o público
interno, Rose de Freitas cobrou a aprovação do orçamento impositivo,
ressaltando que essa ideia não é "metáfora de campanha". Ela disse ter
apresentado a proposta 18 vezes na Câmara, tendo sido todas elas
derrubadas.
Último a falar da tribuna antes da votação, o deputado Chico Alencar
criticou a hegemonia do PMDB no Legislativo. Ele afirmou que o comando
das duas Casas, Senado e Câmara, nas mãos do partido dificulta o
exercício da função fiscalizadora do Congresso. "É um perigo para a
democracia brasileira", disse. Segundo ele, isso fará com que o
"oficialismo predomine" e o Legislativo renuncie à fiscalização.


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