quarta-feira, 1 de junho de 2022

RICARDO DE BENEDICTIS - CONTOS - FIGURAS DA BAHIA

 

EL MALUQUETE

Ricardo De Benedictis

 

Conheci no Rio de Janeiro, uma figura, amigo e colega de colégio do saudoso sobrinho, Ângelo Carlos, filho de Ângelo Neto e da minha saudosa irmã, Tereza. E como tal, andava sempre por perto, participando de quase tudo da família, numa época em que eu também me acostei à casa dos parentes para oferecer ao meu filho mais velho e que estava com 4 para 5 anos, um pouco de conforto familiar, dada a minha separação da sua mãe, que, para minha desdita, o colocou sob a guarda do avô, uma figura que eu queria ver pelas costas e que morava em Iguaí, depois de se transferir de Poções. A ex, depois de me ameaçar deixar a criança com seu pai e avô materno da criança, e eu deixar claro que não aceitaria, em função das nossas relações (eu e o pai dela) estarem cortadas, ela cumpriu a ameaça.

Numa manhã dos anos 1971, passei na casa do dito cujo em Iguaí, pedi a dona Milu que fizesse sua mala e o levei para o Rio. Aí começa o que realmente quero contar, que tem a ver com o título.

O ‘Ricardo Maluco”, era assim nominado pelos amigos e colegas e atendia a todos, sem a mínima demonstração de aborrecimento. Sempre alegre e brincalhão, ele tacava apelido em todo o mundo, à exceção daqueles que ele não era tão íntimo. Angelo (pai), eu, e minha irmã Tereza.

Numa dessas ocasiões, Ele me pediu carona e viajou comigo para a Bahia. Quando passava por Poções, o deixei na casa do meu irmão Ernesto, que estava de viagem para Salvador, onde o ‘maluquinho’ ia passar férias com a família paterna. Como meu roteiro era a Chapada Diamantina, pedi ao mano que o levasse com ele para Salvador, seu principal destino.

Isto feito, segui minha viagem e na volta, uns 15 dias depois, passei em Poções, como sempre fazia, antes de voltar ao Rio.

Foi aí que tomei conhecimento das peripécias do “maluco beleza”.

Ernesto me disse que viajaram e quando chegaram em Salvador, ele perguntou ao rapaz onde iria ficar. Ele respondeu que ia para a casa da tia ‘joana’ que ficava nas imediações do atual Shoping Barra, na Av. Centenário.

Ernesto me disse que já estava de saco cheio, com as brincadeiras sucessivas do ‘maluquinho’, mas que ia cumprir o compromisso de deixá-lo no referido endereço. Lá chegando, o maluquinho apressou-se a descer do carro e tocou a campainha de uma casa térrea, no final da Av. Centenário e que ele ficou observando, sentado no carro, e viu quando a senhora que o atendeu fez sinal de negativo para hospedá-lo.

Ao entrar no carro, Ernesto perguntou o que teria acontecido e ele disse que a casa estava cheia, pois chegaram uns parentes da sua tia e que ele não havia avisado, mas que ela lhe disse que ficasse na casa do irmão do seu pai.

– E onde fica isso, pergunta-lhe Ernesto, já um pouco irritado e ele respondeu que era em Ondina. E para lá, seguiram.

Chegando ao local, repetiu-se a novela. Uma senhora de cabelos grisalhos fazia sinais de não poder receber aquele hóspede ilustre.

Como o próximo endereço era na mesma rua, ao parar no semáforo, Ernesto para conferir o número do terceiro endereço para despejar seu carona ele olhou para a esquerda para verificar o local por ele indicado. Quando se voltou, foi surpreendido com o dedo do ‘maluquinho’, entre seu bigode e o nariz, numa brincadeira irritante e desrespeitosa. E aí, Ernesto que tinha um temperamento explosivo, me disse que quase o esmurra. Mas como a casa próxima era logo à frente, ele parou pela terceira vez. E quando o ‘maluquinho’ desceu, ele foi rápido, abriu o porta-malas do veículo e colocou a bagagem na calçada do prédio. Quando o carona voltou ele gritou de dentro do carro:

 - Um abraço seu maluco, agora você vai brincar com seus tios!

 

Depois soubemos que o maluquinho teve que andar uns kms. até ser acolhido pela família. Por coincidência, seus parentes moravam entre Barra e Ondina e o périplo ficou por aí!!!

Tivemos em nossa longa existência, vários episódios que gostamos de relembrar, até para que isso sirva de entretenimento, e ao mesmo tempo, eternize em parte a nossa passagem neste plano Terreno!

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