sábado, 16 de maio de 2020

DEMISSÃO DO EX-MINISTRODA SAÚDE:

Teich não deixou de cutucar Bolsonaro

Mensagens de Teich a Bolsonaro em seu discurso foram suaves, mas não deixaram de ser passadas. (Foto: AFP Photo/EVARISTO SA)Mensagens de Teich a Bolsonaro em seu discurso foram suaves, mas não deixaram de ser passadas. (Foto: AFP Photo/EVARISTO SA)
O discurso de Nelson Teich, nesta sexta-feira (15), oficializando sua saída do Ministério da Saúde, foi mais light do que as saídas ministeriais anteriores do governo de Jair Bolsonaro. Ao contrário de seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, e do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, Teich optou por não “sair atirando”, mas mesmo assim deixou suaves “cutucadas” ao presidente.
E foi breve, assim como sua passagem pela pasta. Enquanto Moro e Mandetta preferiram estender-se por cerca de meia hora, o ex-ministro demorou apenas 7 minutos para dar seu recado. As atenuâncias começaram em sua mensagem principal: união e responsabilidade compartilhada com estados e municípios frente ao novo coronavírus.
Ao falar em “tripartite”, Teich escolhe a forma mais polida para dizer que não cabe somente ao governo federal determinar os rumos da nação no combate à Covid-19. No mesmo trecho, Teich diz que o Ministério da Saúde - com ou sem ele no comando - vê como “absolutamente verdadeiro e essencial” a união com os demais entes dos estados e municípios para “conduzir a saúde desse país”.
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As falas conciliadoras acontecem na mesma semana em que o presidente, em uma teleconferência com empresários, disse que é “guerra” e que o empresariado precisa “jogar pesado” com os governadores. Desde o agravamento da pandemia, Bolsonaro tem travado uma verdadeira batalha judicial com governadores na tentativa de flexibilizar as medidas de isolamento.

PLANO A SER SEGUIDO

Mesmo abrindo seu discurso com o “escolhi sair” - indicando que a fritura e os atritos com Bolsonaro atingiram seu ápice -, Teich diz ter plantado seu legado de 29 dias no ministério ao deixar pronto um plano de trabalho a ser seguido.
Novamente, invoca a presença dos dois algozes do presidente durante a pandemia: estados e municípios, ao afirmar que deixou indicado para esses quais serão as ponderações a serem avaliadas neste momento e que poderão ajudar no entedimento da atual situação e na tomada de decisão daqui pra frente.
A alfinetada aqui de Teich é mais sutil que a anterior.
O ex-ministro sai, mas deixa o recado para quem fica e para quem esse plano se destina a permanecer conduzindo o trabalho da pasta e de suas gestões na mesma linha: manter-se contra a flexibilização do isolamento social neste momento.
E é bem provável que, em seu plano deixado aos governadores e prefeitos, os índices do crescimento exponencial no número de casos e mortes apontem na mesma direção. Sem alarde, Teich parece colocar uma pedra no caminho do presidente rumo ao “retorno à normalidade”.

FOCO NA COVID

Oncologista que é, Teich alertou sobre a necessidede de manter-se atento à amplitude do SUS (Sistema Único de Saúde) no que diz respeito ao tratamento das demais doenças, mas pediu “foco total” na Covid-19. Não haveria período mais propício para o pedido de Teich. A semana começou e terminou com o foco na política do Planalto, e nas suas consequências.
Falou-se em vídeo de reunião ministerial; falou-se em inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) de interferência política na PF; falou-se em ‘PF e não Polícia Federal’; falou-se em Alexandres, de Moraes e Ramagem; falou-se em briga e namoro reatado com Rodrigo Maia. Até quando foi-se falar em Covid, era a respeito dos exames de Bolsonaro.
Isso tudo em uma semana em que as atualizações dos boletins diários trouxeram um novo recorde de mortes - 881 óbitos, no dia 12 - e em novo recorde de casos confirmados - 13.944 infectados, no dia 14 - em um intervalo de 24 horas.
Apesar do infeliz domínio nos noticiários, a Covid encontrou no Brasil alguém com quem tem que dividir seu protagonismo.

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