terça-feira, 10 de março de 2020

RICARDO DE BENEDICTIS - CONTO


SÉRIE FIGURAS DA BAHIA
NONÔ DE VARZEDO
Ricardo De Benedictis

No início dos anos 1990, andando pelos lados de Santo Antonio de Jesus, fui informado de que o prefeito da recém emancipada cidade de Varzedo tinha um prefeito, um senhor com certa idade, com seus setenta e tantos anos, que havia sido vereador de S.Antonio e tornou-se o primeiro prefeito do então distrito de Varzedo que conseguira o foro de cidade. Qe este homem passara grande parte da vida como boticário, aqui na Bahia, termo pouco usado, mas que significa farmacêutico prático, no qual a população local e da região rural se socorria em suas agruras do dia-a-dia, uma vez que não havia médico residente que a atendesse. Nonô estava sempre de prontidão, para os picados de cobras, doenças de todas as origens e tipos, com sua maneiira amiga de consolar os doentes e serenar os ânimos das suas famílias. Havia sido vereador por diversos mandatos e candidato único a prefeito, tal o grau de confiança que o povo nele depositava. Por ocasião da escolha, a voz corrente era: “Nonô e mais ninguém”! E assim, nosso personagem tornou-se prefeito e fez uma gestão exuberante. Escolas, postos de saúde, ambulância, além do cuidado com as estradas vicinais, calçamento de ruas, início do saneamento. Foi um sucesso.
Até então desconhecido na Bahia, Varzeo passou a fazer parte do rol de municípios com melhoria no IDH (índice de desenvolvimento humano) da população, entre outras medidas que Nonô implantava sob aplausos.
Ele era um homem simples. Atendia pela manhã na Prefeitura e após o expediente, ao meio-dia, convidava para que os visitantes o acompanhassem até sua casa “para comer um feijão”, como costumava dizer.
Como a cidade não dispunha de restaurante, era assim que Nonô minimizava a situação. Levando os visitantes para sua própria casa. Ele era viúvo e mantinha uma senhora que era sua cozinheira, a qual não cansava de elogiar. Ela sempre alegre com um sorriso nos lábios, simpática, com cerca de 60 anos de idade, quem sabe, um pouco menos...
Veio o instituto da reeleição e Nonô foi reeleito, contra outro candidato.
Apresentava um rapaz bem apessoado que chamava de filho e que depois soubemos que era seu filho adotivo. Pois bem. Terminada a segunda gestão, ele preparara o rapaz para ser seu substituto. E conseguiu com certa facilidade.
Não se sabe bem porquê,  o certo é que, certo dia estourou a péssima notícia do assassinato a tiros daquele cidadão, que veio ao mundo para fazer o bem, trabalhou a vida inteira, era um gentleman. Mas porque alguém o mataria? Na cidade, as conjecturas eram muitas. Até o filho adotivo constava entre os suspeitos, quem sabe por força da herança, inimigos políticos que desejavam o poder a todo custo, enfim, nada disso foi devidamente esclarecido. Os assassinos foram presos e colocaram uma pedra sobre a catástrofe que manchou para sempre a vida da até então pacata cidade de Varzedo, localizada entre S. A. de Jesus e São Miguel das Matas.
Perdemos o nosso querido amigo Nonô e sua memora é de um político à antiga, que tratava os cidadãos como irmãos, mas que foi vítima da sua simplicidade. Foi morto em casa, no início da noite, quando se preparava para jantar. E esta nódoa tornar-se-á indelével, indo parar nas páginas de algum livro que virá, certamente a abordar a vida de um exemplo de brasileiro. Esteja com Deus, Caro e saudoso Nonô do Varzedo. E aqueles que tramaram sua morte, que queimem para sempre na fornalha de satã e que as brasas lhes sejam boa companhia!

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