SÉRIE FIGURAS DA BAHIA
NONÔ DE VARZEDO
Ricardo De Benedictis
No início dos anos 1990, andando
pelos lados de Santo Antonio de Jesus, fui informado de que o prefeito da recém
emancipada cidade de Varzedo tinha um prefeito, um senhor com certa idade, com
seus setenta e tantos anos, que havia sido vereador de S.Antonio e tornou-se o
primeiro prefeito do então distrito de Varzedo que conseguira o foro de cidade.
Qe este homem passara grande parte da vida como boticário, aqui na Bahia, termo
pouco usado, mas que significa farmacêutico prático, no qual a população local
e da região rural se socorria em suas agruras do dia-a-dia, uma vez que não
havia médico residente que a atendesse. Nonô estava sempre de prontidão, para
os picados de cobras, doenças de todas as origens e tipos, com sua maneiira
amiga de consolar os doentes e serenar os ânimos das suas famílias. Havia sido
vereador por diversos mandatos e candidato único a prefeito, tal o grau de
confiança que o povo nele depositava. Por ocasião da escolha, a voz corrente
era: “Nonô e mais ninguém”! E assim, nosso personagem tornou-se prefeito e fez
uma gestão exuberante. Escolas, postos de saúde, ambulância, além do cuidado
com as estradas vicinais, calçamento de ruas, início do saneamento. Foi um
sucesso.
Até então desconhecido na Bahia,
Varzeo passou a fazer parte do rol de municípios com melhoria no IDH (índice de
desenvolvimento humano) da população, entre outras medidas que Nonô implantava
sob aplausos.
Ele era um homem simples. Atendia
pela manhã na Prefeitura e após o expediente, ao meio-dia, convidava para que
os visitantes o acompanhassem até sua casa “para comer um feijão”, como
costumava dizer.
Como a cidade não dispunha de
restaurante, era assim que Nonô minimizava a situação. Levando os visitantes
para sua própria casa. Ele era viúvo e mantinha uma senhora que era sua
cozinheira, a qual não cansava de elogiar. Ela sempre alegre com um sorriso nos
lábios, simpática, com cerca de 60 anos de idade, quem sabe, um pouco menos...
Veio o instituto da reeleição e Nonô
foi reeleito, contra outro candidato.
Apresentava um rapaz bem apessoado
que chamava de filho e que depois soubemos que era seu filho adotivo. Pois bem.
Terminada a segunda gestão, ele preparara o rapaz para ser seu substituto. E
conseguiu com certa facilidade.
Não se sabe bem porquê, o certo é que, certo dia estourou a péssima
notícia do assassinato a tiros daquele cidadão, que veio ao mundo para fazer o
bem, trabalhou a vida inteira, era um gentleman. Mas porque alguém o mataria?
Na cidade, as conjecturas eram muitas. Até o filho adotivo constava entre os
suspeitos, quem sabe por força da herança, inimigos políticos que desejavam o
poder a todo custo, enfim, nada disso foi devidamente esclarecido. Os assassinos
foram presos e colocaram uma pedra sobre a catástrofe que manchou para sempre a
vida da até então pacata cidade de Varzedo, localizada entre S. A. de Jesus e
São Miguel das Matas.
Perdemos o nosso querido amigo Nonô e
sua memora é de um político à antiga, que tratava os cidadãos como irmãos, mas
que foi vítima da sua simplicidade. Foi morto em casa, no início da noite,
quando se preparava para jantar. E esta nódoa tornar-se-á indelével, indo parar
nas páginas de algum livro que virá, certamente a abordar a vida de um exemplo
de brasileiro. Esteja com Deus, Caro e saudoso Nonô do Varzedo. E aqueles que
tramaram sua morte, que queimem para sempre na fornalha de satã e que as brasas
lhes sejam boa companhia!
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