O CORONEL DAS DESCULPAS
Jeremias Macário
Quem bate esquece, mas
quem apanha, não. Dias desses vimos umas cenas de brutalidade de um policial desajustado
esmurrando um jovem de menor em Salvador, se não me engano numa das ruas de
Paripe ou Piripiri. O coronel deu suas justificativas costumeiras e chamou a
mãe ao seu quartel para pedir desculpas pelo comportamento estúpido do militar.
O que me chamou a atenção foi que o coronel,
comandante da Polícia Militar da Bahia, foi o mesmo que pediu desculpas à
família do pintor de Dias D´Ávila que foi alvejado e morto por uma ação
atrapalhada de seus subordinados. Isto aconteceu no ano passado e depois disso
ninguém mais tocou no assunto.
Nesta semana ocorreu outro episódio idêntico
de espancamentos em Salvador. Como todos já sabem, as vítimas são sempre negras
e pobres das periferias, o que denota preconceito, racismo e homofobia, como
foram registradas através das palavras proferidas pelo policial que nunca deveria
ter vestido uma farda da corporação.
O caso Maicon
Fico aqui a imaginar,
no primeiro fato a que me referi, por exemplo, como um cara daquele, que deu
porrada no menino (as cenas são fortes), passou no concurso e no teste de
psiquiatria! Será que ele perdeu e teve um QI (Quem Indica por fora). Falo isso
porque conheci um fato assim.
No momento em que descrevo
essas atitudes de violência desmedida e de tamanha ignorância, veio-me à cabeça
o caso do menino Maicon aqui de Vitória da Conquista, que foi morto por
policiais numa diligência atabalhoada. Primeiro, desapareceram com a criança.
São quase dez anos e não se deu nenhuma solução para o problema. É mais um
processo arquivado em nossa cidade, e a sociedade não se manifestou. Afinal,
trata-se de uma família pobre e humilde.
Agora, pedir desculpas virou um marketing de
relações públicas para dar condolências aos familiares e explicar, diante da
mídia, que a instituição não tolera e nem compactua com esse tipo de abordagem
brutal, e que vai apurar e punir os responsáveis. Nem é preciso dizer que tudo depois
cai no esquecimento, e a imprensa pula para outra cena de tortura. Investigar
mais o quê, senhor comandante? As imagens já dizem em tudo!Fosse comigo, ou com
algum parente meu, dispensaria no ato as desculpas.
Nos últimos tempos essas práticas chocantes de
violência contra os cidadãos civis, que têm seus direitos desrespeitados
publicamente, e até mesmo de desvios de conduta dentro da corporação, se
tornaram corriqueiras e comuns, e não mais fatos isolados e excepcionais como
antigamente. Está havendo uma generalização, e a única coisa que ainda a pessoa
tem coragem de clamar, entre choro e lágrimas, é por justiça, que quase nunca
chega.
A instituição precisa
ser repensada
Quero deixar bem claro que, quando faço essas
críticas, não me julguem que quero colocar a polícia contra a população. Meu
intuito é expressar meu pensamento, minha revolta e minha opinião (há anos que
venho falando isso), de que esta instituição precisa urgentemente ser repensada,
reformulada e recriada em outros moldes de atuação, com outra filosofia de
trabalho. Não adianta discutir isso com um oficial. Sabemos qual é a resposta.
O nome “polícia militar”, como sistema de
segurança, só existe no Brasil. Para começar, a corporação precisa criar e
praticar o conceito de segurança pública onde não se confunda firmeza com abuso
de poder e opressão. A lei para o policial do tipo banda podre é corporativa.
Quando ele comete um ato “criminoso”, tem como penalidade o seu recolhimento ao
quartel por uns dias e depois volta a atuar nas ruas. A prisão é ficar em seu
batalhão.
Sabemos que a grande maioria dos policiais
são originários de famílias pobres, negros e que passaram por vários tipos de
discriminação. Quando o indivíduo cai dentro da corporação militar parece
querer extravasar sua raiva e seus complexos justamente nos mais excluídos.
Coloca-se na posição de empregado a serviço da elite, tida como patronal que
lhe paga. Quanto a essa questão, a psicologia pode melhor explicar.
Para que servem os treinamentos que dão o
passaporte para o policial trabalhar nas ruas e lidar com a população? São mais
preparos de força e manuseio de armas e pouco de relações humanas, de como
tratar o cidadão com respeito? Todos são considerados bandidos até que provem o
contrário?
O que questiono são esses métodos de
treinamento que têm gerado mais violência. Por que tanta resistência às
mudanças para criação de uma nova polícia, a começar pelo nível de instrução e
formação do candidato? Durante este tempo de preparação, o comando não percebe
diferenciar o joio do trigo? Aqueles de caráter violento que não podem colocar
uma arma na cintura e ir fazer diligências? Alguma coisa precisa mudar, para
não ficarmos só nos pedidos de desculpas.
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