Conquista e o coronavírus
Carlos Albán González -
jornalista
A saúde, assim como a educação, deve
ser, obrigatoriamente, uma das prioridades de todo administrador público. Essa precedência está longe de se
ver na maioria de nossas cidades. Além de não ter estrutura (faltam médicos na
zona rural, leitos nos hospitais e medicamentos nas unidades da Farmácia da
Família; os postos de saúde são insuficientes para atender a população mais
carente). Chamada de capital do sudoeste
baiano, Vitória da Conquista recebe diariamente milhares de pessoas da região e
do norte de Minas Gerais, que vêm em busca de atendimento médico, ausente nos
seus municípios. A demanda sofreu uma queda depois que o Estado construiu as
Policlínicas de Jequié, de Guanambi e a nossa.
No momento em que o mundo se
mobiliza contra o avanço do novo coronavírus, o prefeito Herzem Gusmão, que deve estar de
quarentena, por força dos seus 71 anos, entregou ao seu secretário Alexsandro
Nascimento Costa a tarefa de traçar um plano de batalha contra o novo vírus. O
titular da Saúde, que assumiu recentemente o cargo, numa das dezenas de
mudanças que vêm sendo feitas no primeiro escalão, tem revelado que não estava
preparado para duelar com o Covid 19, por não contar sua secretaria com arsenal
adequado.
A moeda ainda não caiu. O poder
público municipal ainda não tomou consciência de que as medidas paliativas adotadas são
insuficientes para enfrentar a turbulência que está por vir, com muito mais
ímpeto depois que o presidente Jair Bolsonaro e o governador Rui Costa
sugeriram a reabertura do comércio. Nossas autoridades deveriam tomar como
exemplo a Itália, cujo governo se preocupou mais com a economia e com as brigas
políticas. O prefeito de Milão, Giuseppe
Sala admitiu que errou ao promover a campanha “Milão não para”. A Espanha também
está pagando por ter retardado em impor o isolamento social.
Conquista dispõe de poucos leitos
em UTI de hospitais públicos, o mesmo se pode dizer de respiradores,
necessários aos pacientes que estão em estado grave; o município não firmou
acordos com a rede hospitalar privada; não foi montado um hospital de campanha;
a Vigilância Epidemiológica falhou nos terminais rodoviário e aéreo, onde esta
semana desembarcaram, sem serem abordadas, duas pessoas infectadas, procedentes
de São Paulo. Até o momento em que escrevo estas linhas Conquista não havia registrado
nem uma vítima do covid 19, mas 47 pessoas com sintomas da doença não fizeram
os testes por falta de kits. As denúncias são feitas na mídia local.
Com a aproximação da abertura da
campanha de vacinação contra o vírus da influenza havia uma preocupação da
população, principalmente dos idosos, com uma provável aglomeração nos
acanhados postos de saúde, o que iria de encontro às recomendações dos
infectologistas, diante da pandemia do novo coronavírus. Felizmente, o bom
senso prevaleceu: postos foram instalados em escolas e creches, além de três
outros no sistema driver thru, onde os idosos foram imunizados dentro dos seus
carros. Os aplausos aos agentes da Saúde municipal nos dois primeiros dias foram
substituídos por protestos diante da notícia de que não há mais doses de
vacina.
Prefeito, o senhor tem assistido seu colega
ACM Neto, presidente do seu partido (MDB) e um dos seus ídolos na política, dar
as mãos ao adversário, o governador Rui Costa (PT), para que a população de
Salvador sinta que um trabalho está sendo feito para barrar o avanço do
coronavírus. Mas o senhor prefere alimentar a birra com o PT – está na memória
de todos a sua rejeição à Policlinica – , deixando de procurar o governo do
estado, nesse momento em que todos devem se unir em defesa da saúde do povo. Logo
o senhor, que cita a todo instante o nome de Deus, em desobediência ao segundo
Mandamento – “Não tomar seu santo nome em vão”.
Prefeito, o senhor está sendo
pressionado por meia dúzia de bolsonaristas e por sua correligionária política Ana
Sheila Lemos Andrade, presidente do CDL, para reabrir totalmente o comércio.
Não ceda às pressões. O vírus não faz distinções. Agride príncipes e prefeitos
(Isabel Díaz Ayuso, sua colega de Madrid, está infectada). Portanto, deixe a
letargia de lado e vá atrás do dinheiro. O Ministério da Saúde liberou esta
semana R$ 73 milhões para reforçar o combate da Bahia ao coronavírus. Os
deputados petistas Waldenor Pereira (federal) e Zé Raimundo (estadual)
destinaram quase R$ 4 milhões das suas emendas partidárias para o Hospital
Geral. No mais, vamos conversar com Deus, mas em casa, sem necessidade de ir
aos templos religiosos, para evitar aglomerações.
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