sábado, 28 de março de 2020

CARLOS ALBÁN GONZÁLEZ - COLUNISTA


Conquista e o coronavírus
Carlos Albán González - jornalista
 O quê leva um cidadão, que ama e deseja o melhor para o lugar onde nasceu, vir a público para declarar que apóia a continuidade de um gestor sem competência administrativa à frente da sua prefeitura? As respostas podem ser as mais variáveis, que vão desde a desinformação até o objetivo de conseguir um emprego público ou um cargo de confiança. Em Vitória da Conquista, como em milhares de municípios brasileiros, ocorreu em 2016 um movimento de punição à cúpula do Partido dos Trabalhadores, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenada por corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes. Aqueles que alimentavam o ódio ao PT deram o seu voto, por falta de opção, ao eleito Herzem Gusmão Pereira, que tem mostrado desinteresse com o cargo que ocupa.

A saúde, assim como a educação, deve ser, obrigatoriamente, uma das prioridades de todo administrador  público. Essa precedência está longe de se ver na maioria de nossas cidades. Além de não ter estrutura (faltam médicos na zona rural, leitos nos hospitais e medicamentos nas unidades da Farmácia da Família; os postos de saúde são insuficientes para atender a população mais carente). Chamada de capital do sudoeste baiano, Vitória da Conquista recebe diariamente milhares de pessoas da região e do norte de Minas Gerais, que vêm em busca de atendimento médico, ausente nos seus municípios. A demanda sofreu uma queda depois que o Estado construiu as Policlínicas de Jequié, de Guanambi e a nossa.

No momento em que o mundo se mobiliza contra o avanço do novo coronavírus, o prefeito Herzem Gusmão, que deve estar de quarentena, por força dos seus 71 anos, entregou ao seu secretário Alexsandro Nascimento Costa a tarefa de traçar um plano de batalha contra o novo vírus. O titular da Saúde, que assumiu recentemente o cargo, numa das dezenas de mudanças que vêm sendo feitas no primeiro escalão, tem revelado que não estava preparado para duelar com o Covid 19, por não contar sua secretaria com arsenal adequado.

A moeda ainda não caiu. O poder público municipal ainda não tomou consciência de que as medidas paliativas adotadas são insuficientes para enfrentar a turbulência que está por vir, com muito mais ímpeto depois que o presidente Jair Bolsonaro e o governador Rui Costa sugeriram a reabertura do comércio. Nossas autoridades deveriam tomar como exemplo a Itália, cujo governo se preocupou mais com a economia e com as brigas políticas. O prefeito de Milão, Giuseppe Sala admitiu que errou ao promover a campanha “Milão não para”. A Espanha também está pagando por ter retardado em impor o isolamento social.

Conquista dispõe de poucos leitos em UTI de hospitais públicos, o mesmo se pode dizer de respiradores, necessários aos pacientes que estão em estado grave; o município não firmou acordos com a rede hospitalar privada; não foi montado um hospital de campanha; a Vigilância Epidemiológica falhou nos terminais rodoviário e aéreo, onde esta semana desembarcaram, sem serem abordadas, duas pessoas infectadas, procedentes de São Paulo. Até o momento em que escrevo estas linhas Conquista não havia registrado nem uma vítima do covid 19, mas 47 pessoas com sintomas da doença não fizeram os testes por falta de kits. As denúncias são feitas na mídia local.

Com a aproximação da abertura da campanha de vacinação contra o vírus da influenza havia uma preocupação da população, principalmente dos idosos, com uma provável aglomeração nos acanhados postos de saúde, o que iria de encontro às recomendações dos infectologistas, diante da pandemia do novo coronavírus. Felizmente, o bom senso prevaleceu: postos foram instalados em escolas e creches, além de três outros no sistema driver thru, onde os idosos foram imunizados dentro dos seus carros. Os aplausos aos agentes da Saúde municipal nos dois primeiros dias foram substituídos por protestos diante da notícia de que não há mais doses de vacina.

Prefeito, o senhor tem assistido seu colega ACM Neto, presidente do seu partido (MDB) e um dos seus ídolos na política, dar as mãos ao adversário, o governador Rui Costa (PT), para que a população de Salvador sinta que um trabalho está sendo feito para barrar o avanço do coronavírus. Mas o senhor prefere alimentar a birra com o PT – está na memória de todos a sua rejeição à Policlinica – , deixando de procurar o governo do estado, nesse momento em que todos devem se unir em defesa da saúde do povo. Logo o senhor, que cita a todo instante o nome de Deus, em desobediência ao segundo Mandamento – “Não tomar seu santo nome em vão”.

Prefeito, o senhor está sendo pressionado por meia dúzia de bolsonaristas e por sua correligionária política Ana Sheila Lemos Andrade, presidente do CDL, para reabrir totalmente o comércio. Não ceda às pressões. O vírus não faz distinções. Agride príncipes e prefeitos (Isabel Díaz Ayuso, sua colega de Madrid, está infectada). Portanto, deixe a letargia de lado e vá atrás do dinheiro. O Ministério da Saúde liberou esta semana R$ 73 milhões para reforçar o combate da Bahia ao coronavírus. Os deputados petistas Waldenor Pereira (federal) e Zé Raimundo (estadual) destinaram quase R$ 4 milhões das suas emendas partidárias para o Hospital Geral. No mais, vamos conversar com Deus, mas em casa, sem necessidade de ir aos templos religiosos, para evitar aglomerações.

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