CARNAVAL E OS DEZ ANOS DO SARAU
Jeremias Macário
Todo caracterizado a
rigor com o traje de “Muquirana”, o professor graduado em história, Clovis
Carvalho, proferiu uma brilhante palestra sobre “O Carnaval e suas Origens até
os Tempos Atuais”, tema do “Sarau A Estrada”, o primeiro do ano de 2020,
realizado no último sábado, dia 8 de fevereiro, com a participação de mais de
20 pessoas que prestigiaram o evento.
Antes do bate-papo sobre o assunto, que faz
parte da abertura dos trabalhos da noite, com cantorias musicais, declamação de
poemas, piadas e causos diversos, houve uma discussão entre o grupo presente
sobre a programação comemorativa da história dos dez anos do Sarau, a completar
no próximo mês de julho. Durante todo este tempo de atividades culturais, foram
muitos temas discutidos, muita troca de ideias e aprendizagem entre os mais
assíduos frequentadores aos visitantes convidados.
A princípio, ficou definida a apresentação de
um show com artistas que frequentam o Sarau e convidados, a ser realizada no
Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, na segunda quinzena de julho, com
bilheteria paga. Toda programação comemorativa do projeto será elaborada por
uma comissão do evento, que ficou encarregada dos preparativos, divulgação,
nomes dos artistas e outros detalhes.
Carnaval e suas origens
Não somente o palestrante, muitos fizeram
questão de se fantasiar,de acordo com o tema. O “Espaço Cultural a Estrada”
recebeu grandes quantidade de serpentinas, fitas, máscaras e outros adereços
que lembraram os velhos carnavais de antigamente.
Clovis Carvalho fez um estudo aprofundado do
assunto, dizendo que carnaval é um festival do cristianismo ocidental que ocorre
antes da estação litúrgica da Quaresma. Os principais eventos, de acordo com
ele, ocorrem durante fevereiro ou início de março. É uma festa pública de rua
que usa elementos circenses e máscaras. Nessas festas, as pessoas usam trajes,
permitindo-lhes perder a sua identidade.
Segundo sua pesquisa, o termo carnaval é
tradicionalmente usado com uma grande presença católica, mas também tem suas
tradições em países luteranos, anglicanos e metodistas. O carnaval moderno é
produto da sociedade vitoriana do século XIX. A cidade de Paris foi o principal
modelo exportador para o mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio
de Janeiro se inspiraram no carnaval parisiense.
Quanto a etimologia,
Clovis destacou que a palavra vem da expressão do latim “tardio carne vale”,
que significa “adeus à carne”, do jejum que se aproxima. No entanto, existe
também o termo “carne levare”, do italiano que quer dizer “remover a carne”.
No que diz respeito às suas origens, entre os
egípcios havia as festas de Ísis e do boi Ápis. Entre os hebreus, a festa das
sortes; entre os gregos antigos, as bacanais; e na Roma antiga, as lupercais,
celebradas no dia 14 de fevereiro. Do ponto de vista antropológico, o carnaval
é um ritual de reversão afirmou.
Ainda sobre o tema, o palestrante fez uma
viagem pela Idade Média, lembrando que em muitos sermões e textos cristãos, o
exemplo de uma embarcação é usado para explicar a doutrina cristã: a nave da
igreja do batismo, o navio de Maria. “Os escritos mostram que eram realizadas
procissões com carruagens semelhantes a navios, e festas suntuosas eram
celebradas na véspera da Quaresma, ou a saudação da primavera no início da
Idade Média.
No Brasil, Salvador e
Conquista
Clovis também discorre sobre a cristianização
das festividades e a data, sempre 47 dias antes da Páscoa. No Brasil, a festa é
uma parte importante da cultura brasileira e, às vezes, referida como o maior
espetáculo da terra. O pesquisador do assunto, cita Francisca Edwiges Neves
Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga, como autora da primeira marcha carnavalesca com a
letra “Ó Abre Alas”. Disse ainda que a festa do Rio de Janeiro, conforme o
Guinness Records, é considerada a maior do mundo, com aproximadamente dois
milhões de pessoas.
O palestrante fez também
um passeio pelos carnavais de Recife-Olinda, tendo o “Galo da Madrugada” como o
maior bloco do mundo; o carnaval de Salvador, com seus trios elétricos, puxando
canções com gêneros os maisvariados, como o axé, arrocha, samba-reggae e
outros, até chegar ao carnaval de Vitória da Conquista, a micareta e o atual no
formato cultural, a partir de 2011.
De acordo com o estudo
de Clovis, o primeiro carnaval de rua de Vitória da Conquista aconteceu no dia
27 de fevereiro de 1927, com apresentação de cordões e blocos. O tipógrafo
Waldemar Coutinho, que veio de Itabuna, em 1924, juntamente com alfaiates,
organizou o primeiro bloco de nome “O Mau Jeito”, escrito com G, pelo fato do
estandarte ser a figura de um Arlequim sentado com as pernas levantadas. Em
1934, o carnaval foi bastante animado com o cordão “Varieté”. Em 1950, o
jornalista Anibal Lopes Viana organizou o cordão “Desculpe o Mau Jeito” em
alusão ao primeiro.
Clovis Carvalho faz um histórico sobre os
carnavais da cidade nos anos de 1974 a 1981, com trios elétricos vindos de Feira
de Santana e Ubatã, destacando o bloco “Apaches” como campeão de 1975, seguidos
de “Tengo-Tengo”, “Tico-Tico no Fubá”, “Secos e Molhados” e outros, até chegar
na Micareta, em 1989, que acontecia entre final de abril e início de maio de
cada ano, com grandes artistas da música baiana, como Gilberto Gil, Daniela
Mercury, Margareth Menezes, Luiz Caldas e tantos outros. Faz referência à
participação do Massicas e Tôa a Tôa que arrastavam multidões.
Para concluir seu trabalho, o palestrante
descreveu sobre a volta do carnaval cultural, em 2011, e falou do importante CD
gravado por Lúcia Lula e idealizado por Carlos Jehovah e Esechias Araújo Lima,
com direção geral do maestro Abdalan Gama Cândido. Entre as músicas cantadas nos
carnavais da cidade, cita Calundu, Cochilão, O Sonhador, Os Coroas, Desbocada,
Folia de Conquista, Cordão da Saudade, Pega, Pega esta Barata, As Periquitas entre
outras.
Após sua apresentação, o professor Itamar
Aguiar, um dos organizadores da Micareta, quando era secretário do prefeito
Murilo Mármore, o jornalista Jeremias Macário, o músico Baducha, Walter Lajes,
Mano Di Souza e outros presentes fizeram
suas considerações finais.
Como sempre, não faltaram as cantorias de
Baducha e Walter Lajes, com canções carnavalescas que lembraram os velhos
tempos. Como não poderia deixar de acontecer, todos entraram na folia no ritmo
do tema. Edna, a mais fantasiada da festa, Vandilza Gonçalves, a anfitriã da
casa, Cleide, Rôse e Céu foram as mais animadas. Já pela madrugada, depois das
geladas e do vinho, todos degustaram as delícias do tira-gosto de bode, muito
bem preparado por Vandilza. Ainda teve tempo para declamação de poemas e
causos, puxados pelo nosso amigo Jhesus.
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