quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

SARAU A ESTRADA EO CARNAVAL!


CARNAVAL E OS DEZ ANOS DO SARAU
Jeremias Macário

 Todo caracterizado a rigor com o traje de “Muquirana”, o professor graduado em história, Clovis Carvalho, proferiu uma brilhante palestra sobre “O Carnaval e suas Origens até os Tempos Atuais”, tema do “Sarau A Estrada”, o primeiro do ano de 2020, realizado no último sábado, dia 8 de fevereiro, com a participação de mais de 20 pessoas que prestigiaram o evento.
  Antes do bate-papo sobre o assunto, que faz parte da abertura dos trabalhos da noite, com cantorias musicais, declamação de poemas, piadas e causos diversos, houve uma discussão entre o grupo presente sobre a programação comemorativa da história dos dez anos do Sarau, a completar no próximo mês de julho. Durante todo este tempo de atividades culturais, foram muitos temas discutidos, muita troca de ideias e aprendizagem entre os mais assíduos frequentadores aos visitantes convidados.
  A princípio, ficou definida a apresentação de um show com artistas que frequentam o Sarau e convidados, a ser realizada no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, na segunda quinzena de julho, com bilheteria paga. Toda programação comemorativa do projeto será elaborada por uma comissão do evento, que ficou encarregada dos preparativos, divulgação, nomes dos artistas e outros detalhes.
Carnaval e suas origens
  Não somente o palestrante, muitos fizeram questão de se fantasiar,de acordo com o tema. O “Espaço Cultural a Estrada” recebeu grandes quantidade de serpentinas, fitas, máscaras e outros adereços que lembraram os velhos carnavais de antigamente.
  Clovis Carvalho fez um estudo aprofundado do assunto, dizendo que carnaval é um festival do cristianismo ocidental que ocorre antes da estação litúrgica da Quaresma. Os principais eventos, de acordo com ele, ocorrem durante fevereiro ou início de março. É uma festa pública de rua que usa elementos circenses e máscaras. Nessas festas, as pessoas usam trajes, permitindo-lhes perder a sua identidade.
  Segundo sua pesquisa, o termo carnaval é tradicionalmente usado com uma grande presença católica, mas também tem suas tradições em países luteranos, anglicanos e metodistas. O carnaval moderno é produto da sociedade vitoriana do século XIX. A cidade de Paris foi o principal modelo exportador para o mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspiraram no carnaval parisiense.
Quanto a etimologia, Clovis destacou que a palavra vem da expressão do latim “tardio carne vale”, que significa “adeus à carne”, do jejum que se aproxima. No entanto, existe também o termo “carne levare”, do italiano que quer dizer “remover a carne”.
 No que diz respeito às suas origens, entre os egípcios havia as festas de Ísis e do boi Ápis. Entre os hebreus, a festa das sortes; entre os gregos antigos, as bacanais; e na Roma antiga, as lupercais, celebradas no dia 14 de fevereiro. Do ponto de vista antropológico, o carnaval é um ritual de reversão afirmou.
 Ainda sobre o tema, o palestrante fez uma viagem pela Idade Média, lembrando que em muitos sermões e textos cristãos, o exemplo de uma embarcação é usado para explicar a doutrina cristã: a nave da igreja do batismo, o navio de Maria. “Os escritos mostram que eram realizadas procissões com carruagens semelhantes a navios, e festas suntuosas eram celebradas na véspera da Quaresma, ou a saudação da primavera no início da Idade Média.
No Brasil, Salvador e Conquista
  Clovis também discorre sobre a cristianização das festividades e a data, sempre 47 dias antes da Páscoa. No Brasil, a festa é uma parte importante da cultura brasileira e, às vezes, referida como o maior espetáculo da terra. O pesquisador do assunto, cita Francisca Edwiges Neves Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga, como autora da primeira marcha carnavalesca com a letra “Ó Abre Alas”. Disse ainda que a festa do Rio de Janeiro, conforme o Guinness Records, é considerada a maior do mundo, com aproximadamente dois milhões de pessoas.
O palestrante fez também um passeio pelos carnavais de Recife-Olinda, tendo o “Galo da Madrugada” como o maior bloco do mundo; o carnaval de Salvador, com seus trios elétricos, puxando canções com gêneros os maisvariados, como o axé, arrocha, samba-reggae e outros, até chegar ao carnaval de Vitória da Conquista, a micareta e o atual no formato cultural, a partir de 2011.
De acordo com o estudo de Clovis, o primeiro carnaval de rua de Vitória da Conquista aconteceu no dia 27 de fevereiro de 1927, com apresentação de cordões e blocos. O tipógrafo Waldemar Coutinho, que veio de Itabuna, em 1924, juntamente com alfaiates, organizou o primeiro bloco de nome “O Mau Jeito”, escrito com G, pelo fato do estandarte ser a figura de um Arlequim sentado com as pernas levantadas. Em 1934, o carnaval foi bastante animado com o cordão “Varieté”. Em 1950, o jornalista Anibal Lopes Viana organizou o cordão “Desculpe o Mau Jeito” em alusão ao primeiro.
  Clovis Carvalho faz um histórico sobre os carnavais da cidade nos anos de 1974 a 1981, com trios elétricos vindos de Feira de Santana e Ubatã, destacando o bloco “Apaches” como campeão de 1975, seguidos de “Tengo-Tengo”, “Tico-Tico no Fubá”, “Secos e Molhados” e outros, até chegar na Micareta, em 1989, que acontecia entre final de abril e início de maio de cada ano, com grandes artistas da música baiana, como Gilberto Gil, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Luiz Caldas e tantos outros. Faz referência à participação do Massicas e Tôa a Tôa que arrastavam multidões.
  Para concluir seu trabalho, o palestrante descreveu sobre a volta do carnaval cultural, em 2011, e falou do importante CD gravado por Lúcia Lula e idealizado por Carlos Jehovah e Esechias Araújo Lima, com direção geral do maestro Abdalan Gama Cândido. Entre as músicas cantadas nos carnavais da cidade, cita Calundu, Cochilão, O Sonhador, Os Coroas, Desbocada, Folia de Conquista, Cordão da Saudade, Pega, Pega esta Barata, As Periquitas entre outras.
  Após sua apresentação, o professor Itamar Aguiar, um dos organizadores da Micareta, quando era secretário do prefeito Murilo Mármore, o jornalista Jeremias Macário, o músico Baducha, Walter Lajes, Mano Di Souza  e outros presentes fizeram suas considerações finais.
  Como sempre, não faltaram as cantorias de Baducha e Walter Lajes, com canções carnavalescas que lembraram os velhos tempos. Como não poderia deixar de acontecer, todos entraram na folia no ritmo do tema. Edna, a mais fantasiada da festa, Vandilza Gonçalves, a anfitriã da casa, Cleide, Rôse e Céu foram as mais animadas. Já pela madrugada, depois das geladas e do vinho, todos degustaram as delícias do tira-gosto de bode, muito bem preparado por Vandilza. Ainda teve tempo para declamação de poemas e causos, puxados pelo nosso amigo Jhesus.

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