MORRE ESCRITOR BAIANO EDUARDO PORTELA
O corpo do escritor, acadêmico e ex-ministro da educação Eduardo
Portella é velado na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do
Rio, na manhã desta quarta-feira (3). Portella será sepultado no
Cemitério São João Batista, na Zona Sul. Ele morreu na terça (2), aos 84
anos.
O acadêmico havia sido internado na segunda-feira (1) no Hospital
Samaritano, em Botafogo. Segundo a direção do hospital, o acadêmico
morreu em decorrência de um quadro grave de pneumonia.
"No domingo foi como se ele estivesse se despedindo de mim. Porque ele
disse assim: 'Você me surpreende. Depois de uma relação tão longa, você
cada dia se revela e eu vejo alguma coisa em você. Você amadureceu junto
de mim. Você hoje consegue caminhar sozinha.' Foi uma vida com ele. Sem
ele vai ser difícil. É um recomeçar muito difícil.", diz a viúva, muito
emocionada.
A filha do escritor, Mariana de Albuquerque Portella contou que sempre
foi muito ligada ao pai desde pequena. Segundo ela, foi por intermédio
dele que veio a ser escritora também. Ela conta que o pai se orgulhava
da filha que tinha.
O poeta, ficcionista, crítico e também amigo de Portella há 50 anos, Carlos Nejar, não escondeu a saudade que terá do amigo.
"A falta dele nessa casa vai ser imensa. Porque o patrimônio cultural
que ele legou pelo lado humano, pelo lado de escritor, pelo lado de
companheiro, foi inestimável."
“Eduardo era um pensador de cultura, de presença brasileira e de
presença internacional, com a participação em vários organismos,
inclusive na Unesco”, destacou Domício Proença Filho, presidente da ABL.
Durante 36 anos, o acadêmico ocupou a cadeira de número 27, cujo
patrono é Antônio Peregrino Maciel Monteiro.
O perfil conciliador foi também destacado pelos colegas.
“Portella era aquele que, de fato, defendia o diálogo e trazia a
Academia Brasileira de Letras para este diálogo. Era um amigo muito
querido e vai fazer muita falta”, explicou o também acadêmico Marco
Lucchesi.
Em março, na posse de Geraldo Carneiro, Portella fez questão de destacar que a ABL está se renovando.
“A Academia não está fechada nas tradições antigas, remotas, mas é
capaz de se abrir para as novas realidades, as novas verdades”, destacou
na época Eduardo Portella.
Geraldo Carneiro fez questão de lamentar a morte do amigo. “O Eduardo,
além de uma pessoa encantadora, era dono de uma inteligência bailarina,
que não se prendia a um único método ou a um dogma”.
Vida para a educação
Nascido em Salvador (BA) em 8 de outubro de 1932, Eduardo Mattos
Portella integrou o gabinete civil do presidente Juscelino Kubitschek,
foi ministro da Educação no governo João Figueiredo e secretário de
Estado de Cultura do Rio de Janeiro.
Também coordenou a pasta de Educação, Cultura e Comunicação da Comissão
de Estudos para a Constituição de 1988 e foi presidente da Conferência
Mundial da Unesco de 1997 a 1999.
De 1952 a 1954, em Madri, estudou Filologia, Romanística, Crítica
Literária, Estilística e Filosofia. Continuou seus estudos em Paris, no
Collège de France e na Sorbonne; e em Roma.
O primeiro livro foi publicado em 1953. A obra "Aspectos de la poesía
brasileña contemporânea" era uma tese originalmente apresentada na I
Jornada de Lengua y Literatura Hispanoamericana, em Salamanca, na
Espanha.
Um dos temas preferidos como autor foi a cultura e o poder. Na editora
Tempo Brasileiro, criada e digirida por ele, publicou livros como "O
intelectual e o poder", com ensaios.
Após o bacharelado em Ciências Jurídicas e Socais pela Universidade
Federal de Pernambuco, em 1955, completou o doutorado em Letras pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1970.
Em 1979, foi Ministro de Estado da Educação, Cultura e Desportos. Foi
quando disse a frase: "Não sou ministro, estou ministro".
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