As sete vidas da jararaca
Por mais que todas as análises tenham destacado a alta surpreendente do deputado Jair Bolsonaro, para 15% das intenções de voto, a questão central para 2018 política brasileira não apenas se um outsider poderá construir uma candidatura viável – e Bolsonaro decerto deverá ser um deles. A pergunta hoje é: Lula ainda terá chances até lá?
A maior esperança dos adversários dele está na Operação Lava Jato. Réu em cinco processos, Lula está às vésperas da primeira condenação. Parece haver uma corrida para delatar Lula. O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, declarou que ele era mesmo o proprietário oculto do triplex que a construtura lhe deu no Guarujá e do sítio em Atibaia, cuja reforma foi confirmada na delação da Odebrecht. O ex-ministro Antônio Palocci insinuou que Lula poderá ser o alvo principal de uma eventual delação.
Mas ser condenado por um juiz de primeira instância como Sérgio Moro não inviabiliza a candidatura Lula. Para ser impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa, é necessário que ele seja condenado por um órgão colegiado, como o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, para onde deverá recorrer em caso de condenação por Moro. O TRF-4 julgou poucos recursos da Lava Jato até agora, algo como uma dezena. As decisões, quando saem, têm levado em média mais de 14 meses.
A valer a média, se Lula fosse condenado neste mês, uma a resposta sobre sua candidatura não sairia antes de agosto de 2018, com a campanha já nas ruas. Ninguém tem dúvida de que Lula é um caso único. Isso pode significar tanto maior agilidade quanto maior protelação do tribunal, diante da mobilização popular em sua defesa.
Moro se viu obrigado a adiar o depoimento de Lula para a semana que vem por causa disso, além de ter de lidar com o insólito pedido de convocação de 87 testemunhas de defesa. Quem confia na Justiça para barrá-lo pode, portanto, ter a mesma decepção de todos os que confiam na Justiça brasileira. É provável que o nome de Lula esteja na cédula.
Se Lula concorrer mesmo, a principal desvantagem dele é o índice de rejeição, em torno de 45%. O adversário ideal para Lula será um nome como Bolsonaro, cujo discurso extremista pode até fazer sucesso nas redes sociais, mas sofre rejeição ainda maior do eleitorado. Dois outros fatores terão interferência sobre as chances de Lula.
O primeiro é a crise do próprio PT. Depois da derrota fragorosa nas eleições municipais do ano passado, o partido se viu reduzido a uma sombra do que já foi. Obteve 6,7% dos votos, dez pontos percentuais a menos que quatro anos antes. As eleições internas do último dia 9 foram marcadas por queda na participação, suspeita de fraudes e troca pública de acusações entre as tendências do partido.
A resposta de Lula é radicalizar do discurso. Nesse ponto, o governo Temer, com as reformas trabalhista e previdenciária, se tornou o inimigo ideal. Por meio da propaganda e da mobilização sindical para a greve parcial da última sexta-feira, colou na população a percepção – incorreta – de que o governo quer reduzir os direitos dos trabalhadores e dos mais pobres. Mais de 70% dos brasileiros se opõem à reforma da Previdência.
É verdade que João Santana está na cadeia. Mas não é desprezível a capacidade petista de convencer o eleitor com base nessa conversa – basta lembrar a campanha de DIlma Rousseff em 2014. O Brasil tem queda histórica pelo discurso messiânico e, até hoje, ninguém encarnou tão bem o papel de messias quanto Lula.
O tempo também pode funcionar a favor dele. As reformas têm caráter estrutural. Seu efeito não é imediato. Embora os sinais de recuperação econômica já se façam sentir, não há tempo hábil para o desemprego cair dos atuais 14 milhões para um patamar razoável até a campanha de 2018. O maior trunfo do governo – a recuperação econômica – não terá o mesmo apelo eleitoral que a demonização das reformas.
Sobra a esperança de que a imagem de Lula esteja tão associada à corrupção que sua candidatura naufrague na irresistível maré de condenações, recursos e delações da Lava Jato. A reação petista nesses casos é previsível: posar de vítima de perseguição. Embora seja uma estratégia revoltante, tamanhas as evidências nos escândalos, ela sempre deu resultado diante de certo eleitorado. O brasileiro nunca deixou de eleger corruptos, ainda mais num cenário em que todos os partidos são atingidos.
Quando Moro submeteu-o a condução coerciva, em março de 2017, Lula soltou uma de suas frases de efeito: “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. E a jararaca está viva, como sempre esteve”. Ninguém, até agora, conseguiu matá-la.
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