terça-feira, 2 de maio de 2017

COLUNISTA VIP:

Futebol em Conquista, só em 2018
Carlos Albán González
O ano acabou – e ainda estamos no primeiro semestre - para o Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista. A despedida foi humilhante, goleado por 5 a 0 para o Vitória, no Barradão, pelas semifinais do Campeonato Baiano. Se a FBF não organizar um torneio caça-níquel, denominado de Governador do Estado, o torcedor local vai ficar pelo menos oito meses sem assistir a um jogo de futebol no Estádio Lomanto Júnior. Vão se contentar, como a maioria prefere, em ver as partidas dos clubes do Rio e São Paulo pela televisão.

Ao justificar o prematuro e longo “descanso” do seu clube, o presidente Ederlane Amorim, que participou na semana passada de um curso de gestão no futebol na CBF, reclamou da falta de investimentos, tanto do poder público quanto dos empresários conquistenses. Apelou para a nova administração municipal “para que volte suas vistas para o esporte”, atividade praticamente ausente, com exceção do ciclismo, em Vitória da Conquista.

“Fomos criticados por ter montado um time de jogadores locais, os chamados peladeiros dos campos de bairros. Como podemos fazer contratações de peso se não temos recursos? Perdemos para clubes da série “A” (Bahia e Vitória). A arbitragem nos prejudicou nas partidas contra o Vitória, tanto no empate no Lomantão quanto na derrota em Salvador”, desabafou Amorim, que se mostrou satisfeito com o quarto lugar no “Baianão” deste ano, o que garante ao Conquista uma vaga na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro da série “D”, em 2018.

Por comodidade, Amorim não fez nenhuma referência ao seu conterrâneo, Ednaldo Rodrigues Gomes, presidente vitalício da FBF, cargo que ocupa há 16 anos, com mandato até 2019, sem nunca ter sentido o gosto amargo de uma chapa oposicionista. “Não tenho apego ao cargo e sou contra o continuísmo”, repete sempre o “cartola”, que iniciou sua carreira no futebol em 1970, jogando por clubes amadores de Conquista, e, posteriormente, presidindo a liga local, de 1979 a 1984.

A virada do século viu a ascensão de Rodrigues, torcedor declarado do Vitória. Coincidentemente, a partir do ano 2000 o time rubro-negro venceu 11 vezes o Campeonato Baiano, contra quatro do Bahia, uma do Bahia de Feira e uma do Colo-Colo (Ilhéus). Clubes profissionais têm protestado pela imprensa contra as arbitragens. Respaldado no apoio da CBF e nos votos, por aclamação, de mais de uma centena de ligas do interior, o mandatário ignora as reclamações dos que se sentem prejudicados.

A direção do Vitória da Conquista precisa observar que, no campeonato deste ano, houve uma grande evasão de público no “Lomantão”. Os borderôs dos jogos contra Bahia e Vitória mostram a presença de um público pagante de apenas 6.593 torcedores, divergente do que se viu nas arquibancadas do estádio. Uma ótima fonte de renda seria repassar para o torcedor, com preços majorados, as cadeiras sob a marquise, na parte central do estádio, que hoje são destinadas aos sócios do Conquista. Afinal, o “Lomantão” pertence a uma entidade ou ao município?

A título de informação, nos seis jogos realizados em casa pelo Campeonato Baiano o “Lomantão” recebeu um público pagante de 11.013 pessoas, que deixou nas bilheterias a soma de R$ 203.992. Ao clube mandante coube apenas a quantia de R$ 104.556, sendo que, na partida contra o Flamengo de Guanambi, o Conquista assumiu um prejuízo de R$ 2.841.

Galícia e Ypiranga

Dois tradicionais clubes baianos, com mais de 80 anos de existência, passam por sérias dificuldades, sufocados por dívidas. Galícia e Ypiranga são vítimas, como centenas de coirmãos, principalmente os do Norte e Nordeste do país, da má administração do futebol brasileiro. A CBF e as federações estaduais privilegiam uns 20 ou 25 clubes, participantes do Brasileiro da série “A”, que são mantidos em atividade o ano todo.

“O Galícia é o filho bastardo da colônia espanhola”, disse-me, uma vez, um rico empresário espanhol quando perguntei por que a empresa dele não colocava a sua marca nas camisas do clube fundado em 1º de janeiro de 1933 por imigrantes galegos. Nos encontros da comunidade em Salvador sempre questionei por que uma grande cervejaria, de fama internacional, patrocinadora do Celta de Vigo, do Deportivo La Coruña e do Corinthians, não investia no Galícia. A mesma pergunta eu fazia com relação ao maior banco europeu, cuja matriz está em Madri.

Com cinco títulos de campeão baiano e quatro participações em campeonatos brasileiros, o clube que leva no peito a Cruz de Santiago Apóstolo, padroeiro da Espanha, volta em 2018 para a segunda divisão do futebol baiano (ganhou apenas um ponto dos 30  disputados). Tenho informações de que o Galícia está priorizando o rugby, cujo time, apelidado de “Bufalito”, já excursionou ao exterior e é tricampeão nordestino, mandando os seus jogos no pequeno estádio (capacidade para 5 mil espectadores), na Avenida Santiago de Compostela, em Salvador.

Nem sempre o patrocinador é bem-vindo. Foi o que ocorreu com o Ypiranga. Seus diretores foram procurados em dezembro de 2016 por um grupo empresarial do Rio de Janeiro, que assumiu o compromisso de investir no futebol do clube auri-negro, em todas as categorias, além de bancar os recursos para alimentação, passagens e hospedagem dos atletas, e contratação das equipes médica e técnica.

Resumindo: os falsos investidores não honraram o acordo celebrado, colocando o Ypiranga na condição de inadimplente junto a bancos, fornecedores e comércio. Impossibilitado de disputar o Campeonato Baiano da 2ª divisão, ao lado de mais cinco coirmãos, “até porque há riscos graves à sua imagem, patrimônio e finanças”, segundo nota pública divulgada no dia 17 de abril último, onde revela que medidas judiciais estão sendo tomadas.

Fundado em 7 de setembro de 1906, com a finalidade de reunir socialmente e esportivamente parte da população de Salvador, excluída por motivos étnicos e econômicos, o Ypiranga se mantem até hoje fiel aos seus ideais, haja vista que sua sede, na Vila Canária, oferece seus salões, piscinas  e equipamentos esportivos, aos moradores pobres da periferia de Salvador.

Com dez títulos de campeão baiano, o clube presidido pelo seu ex-jogador Emerson Ferretti, expõe em sua sede as fotos de torcedores famosos, como dos escritores Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, da beata Dulce e do mestre capoeirista Pastinha, além do seu maior ídolo, o atacante Popó.

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