SEM MORAL E DIGNIDADE, COMO ACREDITAR?
Jeremias Macário
A reputação do Brasil
lá fora é tão baixa diante das práticas de corrupção, atos de violência,
barbáries nos presídios medievais, desigualdades sociais profundas, privilégios
absurdos nos poderes constituídos e desmandos dos governantes que não tem mais
moral e dignidade para separar o joio do trigo quando acontecem fatos
escandalosos, como o mais recente da Operação Carne Fraca que detectou
irregularidades na produção.
Por mais que se explique, se dê entrevistas,
faça força tarefa de fiscalização com visitas programadas, auditorias, reuniões
e reuniões, comunicados propagandísticos na mídia e jure de pé firme que a
coisa não é assim, não existe mais clima de confiança, e tanto aqui como lá no
exterior a pulga sempre vai ficar atrás da orelha. Como o Brasil nunca foi
encarado como um país sério na política e, passou a ser da vergonha, fica
difícil convencer, por mais que se faça explicações.
De um ponto a outro, mas com o mesmo foco
comportamental, fora os delatores da Operação Lava Jato, ainda não apareceu um
político, ministro, empresário ou executivo qualquer que viesse a público e
confessasse que recebeu propina de doações eleitorais e pedisse perdão pelo
erro cometido. Nunca apareceu um que tivesse a hombridade de dizer que rouboue
renunciasse ao seu mandato ou entregasse o cargo.
As únicas falas por detrás das máscaras que
se ouve deles é de que é inocente, que nunca participou do esquema, que mal
conhece o comparsa, que não tem nada a declarar, que tudo não passa de intriga
política, que o delator está mentindo, que a acusação é seletiva, que tudo vai
ser esclarecido na investigação e que todas as doações foram legais e
devidamente registradas no Tribunal Superior Eleitoral, a máquina de lavagem de
dinheiro sujo, como todos já bem sabem. Todos negam, como o adúltero que tenta
provar que não era ele quem estava ali com a amante ou o amante. Ainda inventa
que não cometeu nenhum delito.
Como acreditar e confiar numa nação que rouba
merenda escolar, que vende leite misturado com água e outros ingredientes
prejudiciais à saúde humana, falsifica medicamentos, maquia carnes e alimentos
diversos, vende frango por peru, usa agrotóxicos e substâncias proibidos de
forma exagerada nas lavouras, viola os direitos humanos diariamente, não cuida
de suas crianças como devia, ainda pratica a escravidão, pretende tirar
conquistas trabalhistas e sociais, nunca priorizou a educação, amontoa
pacientes em corredores de hospitais, anistiou torturadores da ditadura militar
e agora quer também conceder perdão para os larápios do caixa 2, 3, 4 e 5?
De tantas malandragens, enganações e
ladroagens, de tantas aberrações e excrescências nas três castas dos poderes lá
no Planalto, como o foro privilegiado, as mordomias dos legislativos, as
aposentadorias compulsórias de juízes em desvios de conduta, as verbas
indenizatórias e outras pilantragens, não dá mais para se confiar nas
explicações. É um país que há muito tempo perdeu a moral e a dignidade e não
consegue convencer em seus argumentos.
Agora mesmo os acusados da Lava Jato se
arvoram a fazer uma reforma política e só falam na nefasta lista fechada, mas
nada de voto facultativo, limitação do número de mandatos, fim da reeleição,
limitação do número de siglas partidárias, redução do número de senadores,
deputados e vereadores e fim das polpudas verbas indenizatórias e outras
mordomias.
No caso específico e recente da “Carne Fraca”,
por exemplo, o presidente mordomo de Drácula reúne ministros e embaixadores e
manda montar uma força tarefa para fiscalizar os frigoríficos, num atestado de
que existem falhas e de que a rigorosidade de que tanta alardeia, não é tão
assim. O governo diz que o Ministério da Agricultura tem 11 mil funcionários,
mas deixou de apontar quantos são mesmo fiscais.
Na questão das carnes, sabemos que a
fiscalização para o consumo interno não é o mesma que é feita para as
exportações que requerem muito mais rigor, inclusive sob acompanhamento de
prepostos dos importadores. Nós mortais consumidores não temos fiscais para
detectar se a carne ou outro produto estão dentro do padrão de comercialização.
Estamos entregues à própria sorte como cegos em tiroteio.
O próprio ministro da Agricultura, Blairo
Maggi, determina a suspensão da licença de exportação de 21 frigoríficos sob
investigação na operação da polícia federal, mas permitiu a venda dos produtos
para o mercado interno. Segundo ele, as medidas dentro do país são mais brandas
porque há controle rígido nos procedimentos que protegem o consumidor
brasileiro. Dá para acreditar nisso? Não soa contraditório?
Não é levando ministros, políticos,
diplomatas e embaixadores para uma churrascaria sofisticada e cara de carne
importada, gastando o suado dinheiro do povo, que se vai restaurar a confiança,
mesmo porque não acreditamos mais neles. Tudo não passa de teatro aos nossos
olhos e aos olhos dos países lá fora. É muito triste termos chegado a este
ponto, mas é a pura verdade.
Como acreditar num país que tem 1,7 milhão de
leis, mas que só 53 mil estão em vigor? O Brasil tem 3,7 milhões de normas
judiciais, uma média de 517 por dia. Como confiar numa nação que já teve até
lei declarando extinta a pobreza? Em 2013 a ex-presidente Dilma anunciou
redução de 18% na conta de energia elétrica e depois veio o aumento bem maior
do que este percentual. No início deste ano descobriu-se que os consumidores
pagaram 1,8 bilhão de reais pela energia da Usina Nuclear de Angra 3 que nunca
funcionou. Como acreditar neste país?
Nenhum comentário:
Postar um comentário