sexta-feira, 17 de março de 2017

COLUNISTA VIP:



A cachaça e o conquistense
Nando da Costa Lima
Que o conquistense, na maioria, gosta de um buteco, isto ninguém pode negar. E é buteco daqueles que vende pão, pinga, vela e sardinha. Pra nós cerveja desce melhor quando é tomada no pé do balcão, de preferência numa esquina. Todos sabem que o que aqui se faz, aqui se paga, só que em Conquista esta profecia se realiza com mais rapidez. Acho que por isso ninguém fala da cachaça do próximo, pois é só falar e no outro dia ou o filho, ou o marido, ou a mulher aparece bêbado e aprontando. Os mais místicos defendem a tese de que a cachaça do conquistense é proveniente da chacina que fizeram com os índios há séculos atrás - embebedaram os índios e depois mataram todos -, só que na minha opinião os espíritos do índios que foram mortos aqui não dá pra encarnar nem na metade dos pinguços da terra.
Em outros lugares o pessoal curte os bares à noite, como aqui são raríssimos os que ficam até a madrugada, o jeito é ficar bebendo durante o dia, tanto é que os acontecimentos que marcaram a vida boêmia da cidade ocorreram de manhã até a tarde, é a famosa cachaça diurna. Tem biriteiro que acorda 5 da manhã, fica tremendo até as sete na porta do buteco, na hora que abre você nota o ar de felicidade no rosto do cidadão. Ele entra, compra o pão (o pão da manhã livra muito a cara de biriteiro tímido) e pede uma dupla; daí até o fim do dia ele toma umas 20. Mas este é o famoso pé na cova, e eu não quero falar de biriteiro, mas dos papos que surgem nas farras. Todos nós sabemos que o álcool tem milhares de defeitos, destacando-se o pior que é a perda de vergonha, mas apesar dos pesares nós insistimos, mesmo sabendo que a pinga nos faz soltar a língua e nos deixa ou chatos, ou bravos ou inteligentes demais. O importante é que todos conversam, e estas conversas é que nos levam a permanecer no péssimo hábito de tomar uma. Nós conquistenses bebemos pela conversa, a birita é apenas um paliativo (gostaram da defesa?). São papos maravilhosos, como aquele professor que no meio dum porre, numa discussão sobre a bíblia (era um bate boca sobre o velho e o novo testamento) ele levantou, pediu um litro de conhaque e se despediu. Quando perguntaram pra onde ele ia, respondeu seriamente: "Vou para casa escrever o novíssimo testamento". Teve uma vez, numa mesa cheia de intelectuais (Conquista é muito rica nessa área), todos já completamente bêbados discutiam a reencarnação, a discussão estava animadíssima, todos com cara de donos da razão dizendo coisas absurdas. De repente um dos gênios questiona: "E o jumento quando morre, o espírito vai pra onde?". Um senhor que estava sentado ao lado (também bêbado) não suportou tanta burrice, se meteu na conversa e respondeu: "O espírito eu não sei, mas aquela parte grande que dá fama aos jumentos devia ser enfiada no seu rabo pra ver se entalado você para de falar bobagem".
A conversa entre gênios etílicos é muito comum em nossa terra, mas não podia ser diferente, isto aqui sempre foi assim. De cada cem crianças aqui nascidas: 20 são pintores, 12 são escritores, 43 são poetas e 25 são cantores compositores. Pode ser que ninguém se destaque, mas que são, são. Mas voltando ao buteco, era uma mesa tipicamente conquistense: tinha 6 escritores, 2 poetisas e 5 pintores. O papo rolava em torno de literatura, os escritores todos autores de obras não publicadas comentavam sobre o possível lançamento de seus grandes trabalhos, obras que a cada gole se tornavam mais geniais...
Para ficar sem beber em Conquista é preciso ficar sem sair. Não que o conquistense seja um biriteiro nato, é que nós somos grandes apreciadores do "bate papo", e como sem birita a prosa encurta, o jeito é ir tomar uma, depois outra, mais outras...                                                         

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