Chape, um exemplo para o Conquista
Carlos Albán González
Lamentavelmente, um trágico acidente aéreo chamou a atenção do brasileiro, e até mesmo do exterior, para uma cidade no oeste de Santa Catarina. Chapecó, que na língua indígena caingangue significa “pequeno local onde é avistado o caminho da roça”, é um exemplo das diferenças, culturais, econômicas e esportivas, que existem entre o Sul e o Norte/Nordeste do Brasil. Vale destacar que essa desigualdade tem muito a ver com os povos que contribuíram com um estágio, mais ou menos avançado da sociedade humana.
Para não me alongar nesse aspecto, porque pretendo abordar o futebol praticado nas duas cidades, vou mostrar alguns dados referentes a Chapecó e a Vitória da Conquista, que têm, respectivamente, 99 e 176 anos de fundação.
Com uma área de 624.308 km², a 555 km de Florianópolis, Chapecó tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0.796 (67º entre os municípios brasileiros); seu PIB per capita é de R$ 33.441,42. Sua população é de 209.553 habitantes (81% de brancos, 14% de pardos e 2% de negros), descendente de italianos, alemães e espanhóis. Suas terras são cortadas por duas rodovias federais, uma deles com oito pistas, duas ferrovias, e o seu aeroporto internacional recebe 450 mil passageiros por mês, com um movimento de 750 aeronaves mensais. A capital brasileira da agroindústria é também chamada de capital catarinense do turismo de negócios.
Com uma área de 3.204.257 km², a 510 km de Salvador, Vitória da Conquista tem um IDH de 0.678; seu PIB per capita é de R$ 14.647,17. Sua população é de 350.284 habitantes (56% pardos, 32% de brancos e 10% de negros), descendente de portugueses e índios. Sua economia se concentra principalmente no comércio, contando com a colaboração de uma enorme população flutuante, procedente de mais de 100 municípios do oeste e sul baianos e do norte de Minas Gerais, abandonados pelo poder público. A produção industrial conquistense é escoada por duas rodovias federais e pelo porto de Ilhéus.
Bem, chegou o momento de comparar o futebol das duas cidades. Inicialmente, quero insistir no fato de que o torcedor de Chapecó, com o apoio da classe empresarial, abraçou o seu time, que tem 43 anos de fundado, abandonando a prática nociva de valorizar os clubes do Rio e São Paulo e os da capital do seu estado. Em Conquista, ocorre o inverso. Assisti, domingo passado, torcedores do Palmeiras espocando foguetes, comemorando um título; em Caetité, a poucos quilômetros daqui, palmeirenses exageraram nos festejos e danificaram a iluminação do Natal Luz.
A Chapecoense é um exemplo no futebol brasileiro. Em cinco anos subiu da série D do Brasileirão para a série A, onde se encontra desde 2014. No momento, é o 9º colocado no Nacional, deixando para trás clubes de expressão no futebol do país. Com os resultados que vinha conseguindo na Copa Sul-Americana, interrompidos pelo acidente em Medellin, a Chapecoense estava próxima de obter uma vaga na Libertadores de 2017.
Em 2005, o clube, com dívidas de R$ 1,5 milhão, quase fechou as portas. A ajuda financeira veio através de um grupo de empresários ligados ao ramo de frigoríficos e ao agronegócio. Dois anos depois venceu o campeonato catarinense (são cinco títulos estaduais) e em 2019 subiu da série D para a C do Brasileiro.
O sucesso nos gramados se refletiu no orçamento, que saltou de R$ 13 milhões em 2013 para R$ 45 milhões nesta temporada. A folha salarial é de R$ 2 milhões, paga com as rendas dos jogos no Arena Condá (média de 7,6 mil torcedores), as mensalidades dos sócios e os patrocinadores (a Caixa contribui com R$ 4 milhões por ano, bem inferior aos R$ 30 milhões recebidos pelo Corinthians).
Ao assumir a presidência em 2008, o empresário Sandro Pallaoro, morto no acidente aéreo, implantou uma política de austeridade, contratando apenas jogadores que revelem amor pelo time verde e branco. A única exceção era o meia Cleber Santana, de 36 anos, uma das vítimas da tragédia, com passagens pelo Atlético de Madrid e Mallorca (Espanha). Pallaoro surpreendeu no final do ano passado ao pagar o 14º salário aos funcionários e jogadores.
A Chapecoense se orgulha do seu CT, inaugurado em 2014, com 83 mil m², com três campos de treinamento, cinco vestiários, academia, salas de massagem e de fisioterapia. O custo foi de R$ 2 milhões.
Ao concluir, confesso que, além de prestar minha homenagem à Chapecoense, que só vim conhecer mais intimamente agora, é a de colocar o clube catarinense, que tem as mesmas cores do Vitória da Conquista, como um exemplo a ser seguido pelos homens de negócio, desportistas e gestores municipais desta cidade.
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